Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 12 de agosto de 2006

Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio (2006): um filme cheio de manobras

Filmes como os da franquia "Velozes e Furiosos" poderiam poupar grana de muita gente que acaba indo ao cinema para ver algo diferente. Ainda mais este episódio da franquia, que, além de usar carros “tunados”, deixa-os passarem despercebidos. Também gasta todo o seu potencial em malditas cenas à mão livre, transformando algumas das que poderiam ser as melhores seqüências em verdadeiras confusões.

Tenho ciência do risco que é escrever a crítica de “Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio”, já que este é um grande campeão de perguntas da seção Rapadura Responde – principalmente sobre Trilha Sonora, e, por causa deste meu texto, sei que minha caixa de e-mail lotará, mesmo assim, opinarei sobre o longa.

O filme conta a história de Shaun Boswell, um garoto problemático que, por causa das confusões nas quais se meteu, teve que se mudar de várias cidades junto com sua mãe. Sempre os seus problemas envolveram carros e velocidade, até que, para evitar a prisão, ele acaba sendo mandado para morar com seu pai, no Japão. Lá, de cara, teve problema logo com o idioma, porém, rapidamente se enturmando com Twinkie, ele acaba entrando no mesmo mundo que sempre o colocou em confusão. Com uma diferença: a prática no Japão não é corrida, mas drift, ou seja, derrapar com o carro, ainda assim possuindo o controle do mesmo.

A franquia “Velozes e Furiosos” segue a premissa de qualquer blockbuster, em que a maioria não pode ser avaliada como filme além da intenção de entreter. Mas, ainda assim, no ramo do entretenimento, há Diversões e diversões. Isso mesmo, diferenciado pelo “D” maiúsculo. Por exemplo, Diversão com “D” maiúsculo são filmes como “Poseidon”, que, mesmo fraco em conteúdo, entretém. Até mesmo o primeiro filme da franquia “Velozes e Furiosos” é entretenimento, mas, infelizmente, cinco anos depois, chegando ao terceiro filme, o espírito parece ter se perdido.

Como chegar a um terceiro filme utilizando a mesma premissa, se não inovar? E isso realmente o filme faz. Ele inova com a nova modalidade de disputa, que é a derrapagem. Também segue o espírito utilizando mulheres gatas e (nem tanto) gostosas que são completamente vadias (aliás, não há diferenças entre elas e aquelas mulheres do programa “America Go Wild” do E! Entertainment) – e acredite que o filme acha que isso é uma qualidade. Mas ele se perde por simplesmente ignorar o básico das cenas de ação ao utilizar a câmera à mão livre, conseguindo confundir a cabeça do espectador, que, ao assistir à cena, sente-se completamente perdido no que está acontecendo. E quando ele acha que está conseguindo entender, novamente ele se perde! A direção de Justin Lin só consegue satisfazer quando realmente dá umas inovadas utilizando a computação gráfica para jogar a câmera em ângulos que dificilmente conseguiriam estar normalmente. Mas pelo menos parece que Lin não fez o filme ao léu, estudando a fundo as manhas da série de jogos “Need For Speed”, que é com o que o filme se parece quase em sua totalidade.

Bom, como eu disse, se é um filme de entretenimento, não conto muito o roteiro, porque enfim, ele é praticamente padronizado, seguindo um manual construído perfeitamente para esse gênero. Personagens rasos com problemas de desajustamento da sociedade e desajuste na família; sempre o mocinho e a namorada do bandido se identificam; o bandido quer matar o mocinho porque ele está roubando a namorada dele e sente-se ameaçado de alguma forma; sempre há a parte em que o mocinho tem aquela cara de mauzão, mas que, na verdade, ele é um doce de pessoa; a idiotice do vilão que faz a namorada perceber que ela não deve ficar com ele, etc. Enfim, uma conjuntura de clichês e de estrutura que acabam não interessando muito. Na verdade, o papel do roteirista nesse tipo de filme é dar um brilhantismo a mais ao diretor. O que é uma pena, já que Chris Morgan se mostrou um pouco melhor para filmes “Diversão”, como em 2004, com “Celular – Um grito de Socorro”.

A trilha sonora do filme é outro ponto que sinceramente não foi tão de agrado assim. Ela se encaixaria melhor se tivesse sido tirada na verdade do próprio jogo “Need for Speed”, do que parecida com o disco de algum DJ de Rave. Na verdade, a trilha não consegue se encaixar com as cenas de tal forma que, até mesmo as seqüências nas quais ela supostamente era para estar embalando a dança dos figurantes em algumas festas (aliás, ninguém me convence que um bando de japoneses consegue fechar um prédio garagem completo para competir drifts, fazer rave e aquela baldeação toda que faz no filme), elas não conseguem convencer de que são as músicas tocadas naquele momento.

Não poderia deixar de comentar as pérolas das vadias do filme, como da loira, namorada de um capitão do time de futebol, que se coloca a disposição de quem ganhar uma disputa dizendo: “quem ganhar a corrida, fica comigo”. E ainda quando o namorado parece estar perdendo diz: “pensei que você me amasse”. Ou a tirada do cara para o outro no carro a cerca de 195Km/h no meio da cidade, quando eles passam por um carro da polícia: “não se preocupe. Quando o carro passa de 180Km/h eles não vêm atrás porque sabem que não vão conseguir pegar”. Imagina se isso vira moda, correr rápido porque sabe que a polícia não vai vir atrás.

O terceiro filme da série simplesmente esquece os amantes de carros (que eram os responsáveis pela lotação das salas nos dois filmes anteriores), para se fixar nas manobras. Então se você não gosta de carro, não gosta de mentiras daquelas grandiosas, melhor nem gastar o dinheiro no cinema, afinal, qualquer um sabe que cinema agora não é uma diversão tão barata assim.

Leonardo Heffer
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