Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 08 de novembro de 2020

Sem Conexão (Netflix, 2020): leve dose de slasher clássico para um novo público

Terror adolescente polonês somente repete a fórmula norte-americana de slashers para um possível público novato do gênero.

Acampamentos de verão são tema de todo um subgênero do terror, popularizado pelo sucesso da franquia “Sexta-Feira 13“. Desde os filhos diretos da onda slasher dos anos 1980, como “Acampamento Sinistro“, até as tentativas de reinventar ou homenagear o velho estilo, como na temporada especial da série antológica “American Horror Story: 1984“, a ambientação reflete um aspecto cultural de muitos países do hemisfério norte. Crianças e adolescentes são enviados a retiros e colônias de férias sem a supervisão dos pais, expondo-os a novos aprendizados para estimular seus crescimentos. É fácil ver como essa experiência pode representar traumas para alguns jovens – um palco ideal para filmes de horror. Mas o que a produção polonesa da NetflixSem Conexão” acrescenta ao assunto?

Infelizmente, a resposta é quase nada. A premissa vendida é que os participantes deste acampamento seriam viciados em tecnologia. O que poderia então inspirar uma crítica social atual é rapidamente abandonado, pois na verdade é só uma desculpa para isolá-los e submetê-los à mesma carnificina de sempre. Não que não haja algum espaço para temas que não fossem tratados da mesma forma no século passado, como a homossexualidade, mas no fundo nada novo sob o sol. Tirando um ou outro comentário nos diálogos, é difícil até afirmar que há algo polonês num filme que imita a fórmula norte-americana do slasher adolescente.

Como as clássicas final girls, a protagonista é Zosia (Julia Wieniawa), uma fechada e silenciosa menina traumatizada por um acidente fatal que vitimou sua família. Pouco após o check-in no acampamento, ela e um pequeno grupo de estereotipados personagens (o nerd, o bully e os sexy) saem em expedição programada, mas logo encontram a ameaça antagonista. Uma criatura humana grande, gorda e deformada com bolhas nojentas pelo corpo escapa do controle de sua cuidadora e passa a caçar por conta própria todo ser vivo que cruza seu caminho.

Nas mortes em si, também não há nenhum aspecto original. No entanto, o clima da produção não é tão pesado e sombrio como de praxe. Os assassinatos são rápidos e não há nenhum prazer sádico implícito no sofrimento das vítimas. As cores e a luz do filme são opostas ao frio típico e da escuridão. É um contraste estranho e parece falho, mas ajuda um público novato a ter uma primeira experiência com o terror. Algumas obras são “mornas” de propósito pensando na audiência, como em “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro” por exemplo, e assim acabam por introduzir possíveis futuros entusiastas às histórias mais sérias do gênero.

Algo que este filme faz de atípico é acrescentar uma pitada de horror cósmico ao horror corporal, além de introduzir novos personagens na metade final da história. No entanto, com tais novidades esta segunda parte também traz tons diferentes que descarrilham de vez a unidade do longa. O único elemento que é consistente do início ao fim é a boa atuação da protagonista, que vende bem suas emoções perante as situações e seu sofrido passado. Chato, sem arrepios nem mensagens a dizer, “Sem Conexão” é melhor apreciado por espectadores não acostumados com filmes slasher de qualquer época, na esperança que pelo menos eles irão gostar.

William Sousa
@williamsousa

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