Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 15 de janeiro de 2019

A Última Gargalhada (Netflix, 2019): no máximo, um sorriso forçado

Longa tenta cativar e emocionar com uma história cheia de falhas técnicas, mas consegue tirar um sorriso - e nada mais.

A idade chega para todos, e com ela vem a solidão. Amigos e amores se vão com o tempo, às vezes diante de seus olhos, você se vê sozinho e sem rumo na vida. A única companhia que resta é a nostalgia; ela deixa de ser memória para se tornar desejo. O reencontro com velhos conhecidos talvez seja a chave para retornar a um passado que tanto se deleitava em lembranças e voltar a encontrar o caminho da plena felicidade. Parece uma trama promissora, e de fato é. Mas, infelizmente, não é o que A Última Gargalhada” alcança.

O longa acompanha a vida do aposentado Al Hart (Chevy Chase, “A Ressaca 2”), que perdeu sua mulher e vive uma rotina um tanto quanto amargurada apenas na periódica companhia de sua neta Jeannie (Kate Micucci, dubladora em “Lego Batman: O Filme”), que busca dar ao avô uma vida mais ativa, tentando convencê-lo a morar em uma casa de repouso, onde poderá fazer amizades e ter uma boa vida social. Al se rende e decide visitar o local, onde encontra Buddy Green (Richard Dreyfuss, “Do Jeito que Elas Querem”), podólogo aposentado. No passado, ambos trabalhavam juntos; Al era empresário de showbiz, e o comediante Buddy fora seu primeiro cliente. Juntos, decidem retomar a carreira e pegar a estrada.

Desde o início, “A Última Gargalhada” já mostra uma montagem e atuações desagradáveis. Tudo soa muito amador e destoa facilmente de outras produções da Netflix. Os personagens não entregam uma química boa, nem conseguem conquistar o espectador com o fraco roteiro. As exceções são Al e Buddy, que apesar de atuações insatisfatórias, possuem um relacionamento interessante e convincente em tela.

Nem mesmo jus ao título é feito. Com um tom quase mórbido, o que se espera da trama é alguma perda – principalmente por tratar-se de pessoas idosas se aventurando. Na verdade, a única perda presente é a de oportunidades. Há personagens que entram ao longo da história que poderiam muito acrescentar, mas se tornam descartáveis (e, de fato, acabam sumindo).

Mas, por incrível que pareça, as cenas onde Buddy é mostrado fazendo seus números de stand-up são boas, nada forçadas e bem orgânicas. Seria melhor que o filme mostrasse apenas isso. É possível dar algumas se divertir, não apenas com os números do ex-comediante, mas com a pequena evolução dos personagens principais. São transformações abruptas ocorridas em suas vidas, que por mais que não sejam trabalhadas como deveriam, o espectador será capaz de compreender a mensagem a ser passada com o filme.

“A Última Gargalhada” é um filme que entrega certa expectativa, principalmente pelo título, mostra não ir pelo caminho que se esperava, tropeça e erra ao tentar cativar e emocionar. No final das contas, o que se consegue é no máximo um sorriso forçado.

João Victor Barros
@jotaerrebarros

Compartilhe