Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Quatro Vidas de um Cachorro (2017): um tanto contraditório

Sem novidades artísticas que possam se destacar, o filme ficou marcado pela triste polêmica que o cerca.

Parece nunca sair de moda a ideia de fazer dramédias colocando animais como a figura central e dando subjetividade e às vezes falas a estes. A proposta geralmente funciona e atinge o seu público alvo, gente apaixonada pelos pets e que se derretem ao ver no telão as criaturinhas em meio a aventuras épicas ou mesmo dilemas trágicos.

Esse mesmo paralelo pode ser feito com a carreira do diretor sueco Lasse Hallström, que tem carteirinha registrada em seguir o esquema de fazer a plateia chorar. Foi assim logo no início de sua carreira, onde ainda na sua terra fez o querido “Minha Vida de Cachorro” (1985), que apesar do título traz a história de um garoto que supera as adversidades de sua mãe enferma, num lugar peculiar e ao lado de novos amigos. Uma produção tocante e que ajudou Hallström a iniciar sua carreira em Hollywood.

Dentre alguns romances comentados como “Chocolate” (2000) e adaptações de Nicholas Sparks, o realizador fez o desidratante “Sempre ao Seu Lado” (2009), um filme que trouxe a incrível jornada do cãozinho Hachicko, que esperou o seu dono numa estação de trem durante anos, longa que foi um sucesso e fez multidões saírem soluçando das salas de tanto chorar. Logo, a adaptação do best-seller de W. Bruce Cameron, “A Dog’s Purpose” (título original), chamada de “Quatro Vidas de um Cachorro”, cairia como uma luva nas mãos de Lasse. E como era aguardado, o cineasta não decepciona ou surpreende e faz o típico filme Sessão da Tarde, sem nenhuma grande ambição dramática ou artística, e que tem como foco apenas entreter com o direcionamento temático específico.

A trama, espiritualmente assumida, conta as aventuras de um cachorro em suas várias encarnações, com donos e rotinas diferentes. Inicialmente a narrativa é construída subjetivamente pelo ponto de vista do cachorro (dublado por Josh Gad, que fez o Olaf em “Frozen – Uma Aventura Congelante“), mas com o tempo Hallström deixa de lado o estilo, pois percebe que aquilo deve cansar e inicia com um outro método, ainda que traga os pensamentos altos do cão.

Cada conto tenta compreender a vida de alguma forma, claro que superficialmente, ora pela melhor experiência de ter o menino Ethan (Bryce Gheisar) ao lado e compartilhar experiências até a adolescência; ora sendo um pastor alemão treinado para o serviço militar; ou mesmo quando está ao lado de um homem ranzinza interpretado pelo experiente Dennis Quaid, tendo que aprender e ensinar ao sujeito diariamente. Em suma, histórias feitas intencionalmente para emocionar e mostrar de alguma forma uma perspectiva diferente sobre o melhor amigo do homem.

Nada que não tenhamos visto em outras produções do gênero, e que, repetindo, tem um público cativo, mas a grande maioria é indiferente. O problema aparece e está no extra-filme, num fato que vai completamente de encontro à ideia de aproximação de homem e animal pregada pela obra. Já que recentemente surgiram denuncias e até mesmo vídeos de bastidores sobre maus tratos com os animais que participaram da fita. Afetando totalmente a imagem do produto e fazendo as pessoas que apreciam o estilo terem na verdade ojeriza e sugerirem boicote geral. De fato, uma situação complicadíssima.

Wilker Medeiros
@willtage

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