Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 30 de abril de 2012

As Idades do Amor: atores carismáticos estrelam filme irregular

Robert De Niro e Monica Bellucci encabeçam elenco de longa sobre o amor em três fases da vida.

Que filmes românticos não saem de moda, isso é fato consumado. O cineasta italiano Giovanni Veronesi, pensando nisso, chega à terceira parte de sua franquia “Manuale D’amore” (“Manual do Amor“, em tradução literal), que já havia oferecido dois outros longas, lançados em 2005 e 2007.

Nesta terceira parte, “As Idades do Amor”, Veronesi reúne alguns atores dos outros dois filmes em papéis diferentes e, de bandeja, traz o astro Robert De Niro para contar histórias de amor em três fases da vida: juventude, maturidade e meia-idade. Assim, acompanhamos os planos do jovem advogado Roberto (Riccardo Scamarcio) que, prestes a se casar com Sara (Valeria Solarino), tem de fazer uma viagem de negócios rumo à romântica Toscana. Lá, conhece a belíssima Micol (Laura Chiatti), moça que acelera o coração de todos os homens da região.

O envolvimento de Roberto e Micol é inevitável, com todas as delícias, sonhos e inseguranças que permeiam o frescor da paixão impossível, visto que ambos são comprometidos e, querendo ou não, amam seus respectivos pares. Além disso, se aproxima do grupo masculino do local, criando uma amizade com humor e cumplicidade, que faz com que ele se sinta dividido, adiando cada vez mais sua volta para a noiva Sara. O peso das diferentes personalidades (a insegurança da romântica Sara e a impulsividade sensual de Micol) fará com que Roberto tenha de escolher que rumo tomar.

No núcleo maduro do filme, encontramos Fabio (Carlo Verdone), um jornalista famoso da TV que, com um casamento aparentemente estável, se envolve com Eliana (Donatella Finocchiaro), uma mulher que se revela uma verdadeira dor de cabeça com problemas psicológicos, transformando sua vida em um inferno. Com direito a chantagens e ameaças que podem dar cabo de sua carreira e da relação com esposa e filha, ele perceberá que nesta brincadeira de “ser outra pessoa” para fugir da rotina, um preço alto pode vir a ser pago.

Assim, chegamos à última história, que traz Adrian (Robert De Niro), um historiador norte-americano de meia-idade que, morando na Itália após um transplante de coração, que mantém uma forte amizade com Augusto, cuja bela filha Viola (Monica Bellucci) está de volta depois de uma temporada fora do país. Após ser expulsa de casa pelo pai com a descoberta de um segredo, Viola vai passar uma temporada na casa de Adrian e a proximidade dos dois pode complicar a relação entre os três personagens.

“As Idades do Amor”, que tenta copiar a fórmula de longas como “Simplesmente Amor” e “Idas e Vindas do Amor”, criando núcleos que estão interligados, se perde em diversos momentos, com um ritmo irregular e cenas que alternam entre o humor forçado e o romance água com açúcar em declarações que mais parecem ter sido tiradas de algum livreto de frases prontas. Até mesmo a presença do número três como recurso de intertextualidade – afinal, o filme é o terceiro da franquia e mostra três histórias – se perde na primeira trama.

Além disso, Veronesi não traz veracidade à história, ou seja, não conseguimos torcer por nenhum dos personagens das duas primeiras tramas, onde as relações soam superficiais e/ou parecem simplesmente paixões passageiras, exceto pelo envolvimento de Adrian e Viola que, com De Niro e Bellucci, traz o romance mais consistente e crível. A sensualidade intrínseca de Bellucci e De Niro resgatando suas raízes e falando italiano em grande parte dos diálogos são os pontos altos de um filme perdido dentro de si mesmo.

Contando com a presença de um cupido (Vittorio Emanuele Propizio), que também é taxista e principal ponto de encontro das três histórias, não é bem aproveitado e resvala em um filme abaixo da média, onde salvam-se fotografia de belas paisagens italianas e o carisma dos atores, que ainda fazem com que a experiência diante de “As Idades do Amor” não se perca totalmente, agradando os fãs do gênero. Aos que são avessos a comédias românticas, só resta aproveitar Monica Bellucci ensinando De Niro como se faz um bom striptease, em uma das poucas cenas que se salvam no longa.

Léo Freitas
@LeoGFreitas

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