Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A Tentação (2011): filme traz bom elenco pagando as contas em história apática

Mistura de drama e thriller conta com Liv Tyler e Patrick Wilson em trama de traição e desejo que não engata

A história já é batida e sempre tem a oportunidade de ganhar as telonas em novas produções (boas e ruins): mulher infeliz no casamento se envolve com outro homem, causando um conflito generalizado. Porém, se a direção não se apoia em um bom roteiro e boas atuações,  resulta em um trabalho cansativo.

É o caso de “A Tentação”, que o cineasta Matthew Chapman decidiu realizar depois de 14 anos longe da direção. Tentando misturar diversos elementos na trama, como traição, thriller policial, dramas familiares, religião, vingança e desejo, o longa não cria empatia e cai em uma daquelas tentativas falhas de criar um filme sexy e emocionante.

Tudo começa quando o policial Hollis (Terrence Howard) recebe um chamado para conter um jovem que ameaça se jogar de cima de um prédio. Casado e pai de três filhos, Hollis acaba de descobrir que é estéril e – plim! – percebe que os filhos não são dele, gerando tormentos em sua mente no momento mais impróprio possível.

O jovem que está prestes a se matar é Gavin (Charlie Hunnam), que anuncia: “se eu não me matar até o meio-dia, alguém morrerá”. Rodado em tempo real, Gavin começa a contar a Hollis o que o levou a estar ali. Por meio de flashbacks, somos levados ao envolvimento dele com Shana (Liv Tyler), casada com o religioso fundamentalista Joe (Patrick Wilson). Vizinho do casal, é mais do que óbvio que o envolvimento da bela mulher com o sexy rapaz da porta ao lado vai abalar o conservador religioso, que não tem cumprido bem sua função de marido.

Daí pra frente, “A Tentação” só descamba em clichês e um desconforto constante de atuações caricatas e cansativas que não emocionam. O que salva o filme ainda é a beleza e a química que existe entre Hunnam e Tyler. No charme do ator com a beleza e sensualidade inatas de Liv Tyler, o longa se torna suportável, mostrando que desejo é, como já se sabe, algo definitivamente incontrolável.

Ainda tentando pegar carona no viés religioso, com um Gavin ateu batendo de frente com o ferrenho cristão Joe, o filme tenta e tenta, mas morre na praia na discussão do tema. Até mesmo a trama paralela de Chris (Christopher Gorham), o amigo gay de Gavin, é desperdiçada em uma tentativa de atingir o público por “abordar” a mistura de homossexualidade e religião. Porém, resvala na mesmice, novamente.

Neste meio tempo, Hollis vai interrompendo a história para deixar de lado o papel de mero ouvinte apaziguador e pontua a trama com seu dilema. E, pelo celular, discute aos poucos seu conflito familiar com a esposa Angela (Jaqueline Fleming). Chega-se, até mesmo, a falar sobre coincidência e destino, com o fato de Hollis e Gavin se conhecerem justamente quando precisam ajudar-se mutuamente, especialmente após a tragédia que assolou o segundo em um passado recente. Boa parte da história mostra Gavin e Shana se encontrando às escondidas até o momento inevitável da descoberta do caso amoroso dos dois.

O epílogo, mais do que previsível, acontece às pressas, tornando “A Tentação” um longa raso que tenta se levar a sério trazendo os atores sem dedicação em suas performances e desperdiçando o tempo tanto de quem está do lado de lá da tela como de quem está do lado de cá. Dispensável aos que ainda não assistiram e esquecível aos que o fizeram.

Nota: Fracasso de bilheteria e crítica, o filme custou US$ 10 milhões e arrecadou pouco mais da metade do orçamento, cuja exibição ficou restrita a duas salas de cinema nos EUA durante apenas uma semana em cartaz. Depois de inúmeros adiamentos, chegou às telonas brasileiras.

___
Léo Freitas
 formou-se em Jornalismo em 2008 pela Universidade Anhembi Morumbi. Cinéfilo desde a adolescência e apaixonado por cinema europeu, escreve sobre cinema desde 2009. Atualmente é correspondente do CCR em São Paulo e desejaria que o dia tivesse 72 horas para consumir tudo que a capital paulista oferece culturalmente.

Léo Freitas
@LeoGFreitas

Compartilhe

Saiba mais sobre