Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Compramos um Zoológico: Cameron Crowe volta em comédia familiar

Cineasta trabalha bem os clichês de um filme para todos os públicos.

Cameron Crowe é um dos cineastas mais talentosos da atualidade. Com uma filmografia versátil que inclui o road movie musical “Quase Famosos”, a comédia romântica “Tudo Acontece em Elizabethtown” e os dramas “Vanilla Sky” e “Jerry Maguire – A Grande Virada”, entre outros, o diretor e roteirista se insere no mercado cinematográfico de forma branda, quase sempre com grandes espaços de tempo entre uma produção e outra. Dessa vez, Crowe se aventura em um filme família baseado em fatos reais, bem ao estilo Sessão da Tarde, reunindo todos os clichês possíveis do gênero, mas contando do seu jeito único uma história simples que não passa despercebida.

Na trama, Benjamin Mee (Matt Damon) vive a perda da esposa ao lado de seus dois filhos, Dylan (Colin Ford) e Rosie (Maggie Elizabeth Jones). Buscando se reencontrar nesta relação paterna, a família decide se mudar quando Dylan é expulso do colégio. Após procurar uma casa agradável, eles chegam a um zoológico que está à venda com a condição de que o novo dono terá toda a responsabilidade sobre os animais e os profissionais que ali trabalham, entre eles a bela Kelly Foster (Scarlett Johansson), que se dedica integralmente aos animais, e sua prima Lily (Elle Fanning). Então Benjamin decide assumir o risco e comprar o local, onde aprenderá lições não somente ligadas à natureza, mas principalmente à superação de sua perda.

Roteirizado por Crowe em parceria com Aline Brosh McKenna (com grande experiência em adaptações literárias, mas que transita entre bons textos como “O Diabo Veste Prada” e roteiros pouco inspirados como “Uma Manhã Gloriosa”), o filme é inteiramente familiar, com o propósito de divertir o público infantil e entreter os adultos. O mais importante no roteiro de Crowe e McKenna é que em momento algum o público é enganado no decorrer da trama e que, mesmo com a previsibilidade de algumas sequências, o diretor conduz com delicadeza todos os conflitos dos personagens.

Junta-se a isso o bom humor típico das piadas de Crowe, sempre afiadas e neste caso, ingênuas, no sentido positivo da palavra. Vale citar também que a preocupação de Crowe em retrabalhar os clichês é clara, influenciando também nos efeitos especiais, principalmente naqueles que envolvem os animais do zoológico, que nunca são imbecilizados (ao contrário do recente “O Zelador Animal”) e cujas gags funcionam com naturalidade.

As lições aqui se estabelecem de maneira sutil, já que em momento algum o diretor se posiciona como moralista. Fazendo o óbvio paralelo da preservação ambiental e do contato com os animais, o script faz também um denso estudo sobre o luto e suas conseqüências. Assim como no recente “Reencontrando a Felicidade”, o que menos importa é da situação de onde os personagens saíram, mas sim onde eles chegam ao final da projeção. Mas ao contrário da obra de John Cameron Mitchell, o filme de Crowe é positivista e mostra o sofrimento como algo inerente a todo ser humano, que lida de formas diferentes.

Este é mais um filme em que o público se identificará com as situações apresentadas. Como patriarca, Benjamin tenta tocar a vida, mas também sofre e precisa, assim como seus filhos, de novas motivações para seguir em frente. O elenco colabora para o bom trabalho do roteiro de Crowe, que sempre foi um ótimo diretor de atores. Matt Damon interpreta um típico pai americano, workaholic e amante de aventuras, que vê no zoológico uma oportunidade de encontrar uma nova razão de viver, por mais que isso custe toda a sua poupança.

Os filhos interpretados por Colin Ford e Maggie Elizabeth Jones também aparecem com destaque e protagonizam cenas importantes para o desenrolar da trama. Aliás, vale ressaltar que fica claro o encantamento de Crowe com a pequena e carismática Maggie, cuja ingenuidade é catalisadora de diversos momentos da narrativa. Ainda temos a sempre estonteante Scartlet Johansson, fazendo o interesse romântico do protagonista, mas sempre focada no amor que tem aos animais. Johansson está incrivelmente à vontade em cena e traz uma performance diferenciada de alguns de seus últimos trabalhos: menos sensualidade e mais inteligência. Destaque também para a espontaneidade e carisma de Elle Fanning, cada vez mais talentosa.

Como é de costume nos filmes de Crowe, a trilha sonora é um espetáculo à parte. Elaborada por John Thor Birgisson (assinando Jónsi), que já trabalhou com Crowe em “Vanilla Sky” e colaborou em soundtracks de filmes de primeira linha como “Penélope”, “A Vida Marinha de Steve Zissou”, “Mistérios da Carne” e “Como Treinar o Seu Dragão”, o músico sabe conduzir a narrativa e colabora para que as emoções do público se aflorem, sem nunca cair no melodrama exagerado ou na comédia pastelão.

Ainda que “Compramos um Zoológico” seja um filme que não inove, o que vale a pena é ver um diretor do nível de Cameron Crowe contar uma história quase de ninar. Talvez por ser possível prever todo o desenrolar da trama logo nos primeiros minutos, o longa não tenha a grandiosidade de suas obras anteriores, mas nem por isso deve ser menosprezado, já que dentro da sua proposta é correto. Dessa forma, nada melhor do que chamar a família inteira para assistir a um feel good movie carismático e divertido.

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Diego Benevides
é editor chefe, crítico e colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), atualmente é pós-graduando em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e professor universitário na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 integra a equipe do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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