Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 27 de março de 2010

Como Treinar o Seu Dragão (2010): mais um grande êxito da Dreamworks

Com mais uma animação fundamentada no respeito ao diferente, a Dreamworks lança um filme que promete agradar todos os públicos e dar continuidade ao sucesso de suas produções anteriores.

Entre os cinco maiores êxitos de bilheteria da Dreamworks estão os três filmes da franquia “Shrek”, e dois deles ocupam os primeiros lugares da lista, com arrecadação de mais de US$ 919 milhões (“Shrek 2”), e US$798 (“Shrek Terceiro”). As máximas de que não se deve julgar pelas aparências e de que o diferente pode ser interessante e agradável parecem funcionar bem quando o principal público alvo ainda não ultrapassou a barreira dos 15 anos. Com a mesma proposta, “Como Treinar o seu Dragão” aborda o tema de maneira mais madura e parece garantir seu lugar como novo êxito da empresa.

Com roteiro livremente adaptado da série homônima de livros infanto-juvenis da escritora inglesa Cressida Cowell, o longa narra a história de Soluço, um garoto viking que decide lutar contra as tradições do seu povoado e não aceita participar da matança de dragões. Deixando de lado as exigências do pai, o líder guerreiro da comunidade, Soluço consegue desenvolver uma estranha amizade com o mais temido dragão de que já se ouviu falar, o Fúria da Noite, contrariando todas as expectativas de uma geração inteira de vikings guerreiros.

Por meio da relação entre o garoto e o dragão, ficamos sabendo que os monstros alados são, na verdade, seres dóceis, controlados por uma força assustadoramente maior e que só atacam humanos quando se sentem ameaçados. Mais uma vez a Dreamworks aposta na premissa de que o diferente merece ser respeitado e conhecido, e que por trás de um focinho carrancudo que cospe fogo, pode existir um ser carente e necessitado.

O ponto forte do filme é a estranha relação proibida entre Soluço e o seu dragão de estimação. Partindo de um primeiro encontro assustador, passando pela fase de desconfiança e receios, até o momento do primeiro contato físico, somos apresentados a sequências emocionantes, belamente desenhadas e embaladas por uma trilha sonora agradável. A visão do espectador é colocada em ângulos originais e boa parte do filme parece ter saído de uma anterior versão cinematográfica, feita com atores de verdade e uso de câmeras e equipamentos reais.

Toda a parte visual é bem trabalhada e as texturas, cores e detalhes dos cenários foram minuciosamente bem cuidados. A riqueza de detalhes da cidade viking impressiona e os ambientes externos parecem reais. As sequências de voo dos dragões, com seus planos de visão quase infinitos, são de encher os olhos e estão no mesmo nível de perfeição estética que as rochas flutuantes, vistas em “Avatar”. Muitos detalhes do cenário, pelo requinte e apuro técnico demonstrados pela equipe de criação, podem ser colocados ao lado do que há de melhor na produção milionária de James Cameron.

Se o trabalho técnico relativo aos ambientes merece ser destacado, o mesmo não pode ser dito da equipe responsável pela criação dos personagens. Embora Soluço, o protagonista, seja um ótimo exemplar do esmero artístico da produção, todos os demais vikings são pobres de detalhes. Em sequências de guerra, boa parte dos guerreiros são tão parecidos que se torna difícil diferenciá-los entre uma massa uniforme.

O longa ainda incomoda por outro fator, o tempo de duração. 92 minutos de projeção não são suficientes para desenvolver satisfatoriamente a história quase épica de um garoto que luta contra o costume mais forte de uma civilização, luta para conquistar a confiança do dragão mais temido, para corresponder às expectativas do pai e para conquistar a garota que ama. Dobrar o tempo de duração ou deixar parte das aventuras para uma sequência posterior seriam boas opções para garantir segurança ao enredo do filme. Por se tratar de uma produção direcionada ao público infanto-juvenil, porém, qualquer alteração pode se tornar inviável.

É cedo para dizer se a nova produção da Dreamworks vai superar o sucesso representado por “Shrek” e iniciar uma nova franquia exitosa. Mesmo assim, não há dúvidas de que “Como Treinar seu Dragão” é capaz de tanto.

Jader Santana
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