Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 30 de janeiro de 2010

Invictus (2009): irregular em determinados momentos, mas é muito comovente

Morgan Freeman realiza uma performance impecável no novo filme do aclamado Clint Eastwood.

Quando o poeta inglês William Ernest Henley escreveu o poema “Invictus”, os seus versos vêm sendo usados desde então como provas de superação. Nas entrelinhas, em meio às metáforas, o seu significado é exatamente este. Talvez seja por isto que Nelson Mandela tenha o lido tanto durante os muitos anos em que permaneceu preso, sonhando com o dia que deixaria aquele lugar para governar uma nação que vivia desunida, separada pelo preconceito.

Neste filme dirigido por Clint Eastwood, o foco está exatamente na chegada de Mandela (Morgan Freeman) à presidência e a realização da Copa do Mundo de Rúgbi de 1995, na África do Sul. Antes disso, Eastwood deixa claro no início do seu longa-metragem a maneira como os africanos viviam naquela época. A câmera começa no treinamento de rúgbi dos brancos e, logo em seguida, passa para o outro lado da rua, onde os negros estão jogando futebol. No meio, uma pista separa os dois lados, enquanto Nelson Mandela passa com a sua comitiva logo depois de ter saído da prisão. Esta capacidade de síntese de Eastwood, contemplando a mescla do esporte com a situação político-social do país, é que faz de “Invictus” uma obra marcante.

Para Nelson Mandela, mais do que querer cumprir queria mesmo era fazer com que o seu povo se unisse. Para ele, nada melhor do que uma Copa do Mundo para transformar todos os corações dos sul-africanos a torcer por sua seleção, mostrando que o esporte é uma importante ferramenta de fazer com que as pessoas possam se tornar sociáveis e, principalmente, movidas por uma única paixão: torcer. Para isso, Mandela convoca François (Matt Damon), o capitão da seleção da África do Sul.

O roteiro de Anthony Peckham erra, no entanto, ao não mostrar com eficiência as investidas de François para também inspirar a sua equipe. A impressão que dá é a de que todos eles aceitaram de uma maneira muito rápida o que estava acontecendo (apesar de entender que todos eles estavam querendo ganhar). Se o roteiro peca por isso, a direção de Eastwood é algo sempre a se destacar, principalmente porque ele sempre impressiona e emociona os espectadores que estão assistindo.

Durante os jogos de rúgbi, por exemplo, os planos-detalhes em cada jogada e as táticas que os atletas usavam para fazer o jogo fluir colocam qualquer leigo em completa harmonia com o esporte, mesmo não tendo conhecimento das suas regras. A fotografia de Tom Stern, que trabalhou com Eastwood em “A Troca”, aqui não demonstra muita eficiência em relação à sua estética, ao contrário do que ele realizou no seu trabalho anterior (quando também foi ajudado pela equipe de direção de arte).

Entretanto, “Invictus “mostra uma importante força em Morgan Freeman de uma maneira equivalente ao papel importante que Nelson Mandela desempenhou em prol da paz em seu país. O ator está impecável e tem uma atuação marcante, vigorosa e que nos faz imaginar como era o Nelson Mandela, um sujeito sempre preocupado em estabelecer a paz e a união entre os povos, sem desmerecer ninguém, ou seja, tratando qualquer um como deveria ser tratado.

Quanto mais o filme avança, Eastwood também começa a mudar a sua capacidade de síntese que ele apresentou no começo. O olhar de esperança dos africanos na medida em que a Copa do Mundo avançava e, com ela, a Seleção da África também, ganhando cada partida e encantando os seus torcedores, fazendo com que eles acreditassem que aquele sonho era realmente possível, bastava apenas alimentá-lo.

Parece um discurso romântico, mas grande parte daquilo que Nelson Mandela conseguiu realizar foi por conta dessa sua perseguição em nunca desistir. E isso vem do poema “Invictus”, tantas vezes citado durante o filme. Aliás, o filme de Eastwood consegue alcançar grandes cenas neste tom romântico do discurso, principalmente no jogo da final da Copa do Mundo, quando ele se utiliza uma excelente montagem para mostrar a maneira como o esporte, como previa Mandela, realmente conseguiu unir as pessoas. Todos assistindo ao jogo e comemorando provaram que ele queria (e que o povo precisava) ter a confiança dos sul-africanos. Além disso,  o longa também procura mostrar a personalidade de Nelson Mandela, seja pelo jeito que ele cumprimentava as pessoas ou por meio dos seus diálogos e por não ter medo de enfrentar os desafios.

Ao falar tanto de inspiração, o poema e o filme “Invictus”  são duas obras inspiradoras e que tratam de um único tema: esperança. Ambos falam de caminhos difíceis e tortuosos para se alcançar os seus objetivos, mas, em contrapartida, se tornam inspiradores de diferentes maneiras. O poema de Henley será sempre lembrado por conter a clássica frase “eu sou o senhor do meu destino, eu sou o capitão da minha alma”, que quer dizer o quanto você é capaz de guiar a sua vida, pois é você quem a controla.

Enquanto isso, o longa nos mostra a importante figura que o Nelson Mandela foi, não somente para a África do Sul, mas também para o mundo. Ele fez tanto para os dois e as suas palavras de esperança continuam presentes quando se fala de preconceito, em qualquer esfera e de qualquer tipo. “Invictus” pode ser um filme irregular em determinados momentos, mas é comovente ver esta história e enxergar o quanto as coisas podem ser transformadas, por mais difíceis que elas sejam. Basta querer, basta alguém procurar mudar e acreditar nestas mudanças.

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