Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quarta-feira, 20 de junho de 2007

Colecionador de Ossos, O

Uma boa história aliada a bons atores e um bom diretor. “O Colecionador de Ossos” não é um filme que entrará para a história nem marcará o cinema, mas é uma boa pedida para se divertir.

Tramas de suspense são realmente uma faca de dois gumes. Alguns filmes se preocupam tanto em gerar o elemento de terror que esquecem totalmente da história e dos personagens. Nesse caso, temos uma trama rasa e personagens tão mal construídos que pensamos se realmente eram necessários atores para interpretá-los. Quando há cuidado em relação a esses aspectos, aí sim temos uma produção digna de atenção e análise, como é o caso de “O Colecionador de Ossos”. O elenco é de primeira e o roteiro não deixa a desejar, assim, como resultado, temos uma produção interessante e envolvente.

Na história, um serial killer começa a fazer vítimas de um modo bastante macabro e o caso exige que Lincoln Rhyme, um policial que se aposentou após sofrer um acidente e ficar tetraplégico, tome a frente das investigações. Assim, auxiliado por equipamentos de última geração, ele conta com Amélia, uma jovem agente, para executar o trabalho de campo. De uma forma bastante envolvente, o roteiro vai capturando a atenção do espectador, que acompanha cada passo da investigação para encontrar o assassino. A atmosfera de surpresa se faz presente até o desfecho, que consegue fugir do previsível de uma forma competente.

Um dos grandes méritos do diretor Phillip Noyce ao conduzir o longa é saber dosar o suspense da história com o drama dos personagens principais. Lincoln Rhyme, cuja vida foi bruscamente interrompida por um acidente de trabalho que o deixou imobilizado do pescoço para baixo, é apresentado como um homem extremamente competente que ganha nova vida ao se encarregar do caso de assassinato, já que pensava, antes disso, em praticar eutanásia para dar fim ao seu sofrimento. Amélia, por sua vez, é mostrada como uma jovem profissional com dificuldades de lidar com aspectos de sua vida pessoal e afetiva, enquanto é rodeada pela perda de um ente querido. O encontro dos dois, além de ser essencial para a resolução do caso em si, se torna bem mais proveitoso para ambos enquanto pessoas que precisam de ajuda.

O suspense, no entanto, ainda continua sendo a base principal da história. A maior parte da trama se desenvolve de maneira sutil, mas cenas explícitas também estão presentes. Nesse aspecto, a fotografia se faz bastante notável, principalmente nos ambientes obscuros por onde Amélia tem que investigar e procurar vítimas. A atmosfera desconfortável e sufocante exigida em algumas passagens está muito bem representada pelos cenários e iluminação, dando um efeito espetacular a algumas seqüências.

O desempenho de Angelina Jolie como Amélia arranca elogios, ainda se levarmos em conta que na época a atriz não era o fenômeno que é hoje em dia. Denzel Washington, no entanto, é quem realmente chama atenção no elenco, dando vida a Lincoln. O ator conta principalmente com expressões faciais em sua atuação, mostrando porque é um dos mais conceituados atores de Hollywood. Denzel consegue passar ao público o drama da situação do personagem, assim como sua obstinação no trabalho.

Com tudo isso, o filme ainda consegue se manter no padrão suspense, sem deixar de lado o enfoque na trama propriamente dita, deixando o mistério chegar ao ápice do final da história. O mérito de fugir da previsibilidade – repito – é um feito notável na produção. Enfim, os fãs do gênero suspense, certamente irão gostar de “O Colecionador de Ossos”, sem necessariamente o incluir na lista dos melhores dos últimos tempos. Vale a pena conferir, nem que seja apenas por entretenimento.

Amanda Pontes
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