Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 03 de setembro de 2017

Os Guardiões (2017): o fracasso russo para o gênero de heróis

Com uma direção fraca e roteiro furado o filme é a soma do desgaste de filmes de heróis com uma execução desastrosa.

O gênero de heróis no cinema começa a entrar numa certa exaustão. Com uma média de uns seis ou sete filmes por ano, essa é uma temática que nem sempre consegue inovar. Isso faz com que uma proposta diferente possa levantar esperanças e apresentar ares de novidade. Vindo diretamente da mãe Rússia, “Os Guardiões” é exatamente o oposto dessa necessária inovação.

O longa, dirigido por Sarik Andreasyan (“O Último Golpe”) possui uma trama bem simples. Durante a Guerra Fria, uma organização secreta chamada “Patriota” criou um grupo de super-heróis, com quatro pessoas de diferentes cantos da União Soviética, com o objetivo de defender o lado comunista do planeta. Com o fim do conflito, porém, Ler, Khan, Arsus e Xenia passam a viver isolados, escondendo suas habilidades, até que são convocados a unirem forças para enfrentar um inimigo em comum.

Mesmo com um roteiro simples, havia um fio de esperança que esse filme pudesse trazer alguma novidade para o gênero. Fosse ao apresentar uma nova visão para os super heróis, algo que é muito bem executado pelos japoneses, fosse ao usar o tema como uma grande sátira. O problema deste filme é que não é entrega nenhuma dessas duas opções. É uma tentativa frustrada de dar uma nova interpretação aos já manjados Vingadores.

De modo geral, o principal problema está no roteiro, que em determinados momentos parece ser resultado de uma aula de redação infantil. A pressa para apresentar determinados acontecimentos e a preguiça em resolver situações criadas durante a trama tornam o filme chato. Mas a somatória final de erros vai muito além.

A trilha sonora é repetitiva e tenta impôr o sentimento que o público irá sentir. Dessa forma, quando o momento for dramático, a trilha cresce mais que o necessário, assim como nos momentos de ação, é nítida a forma como ela está sobrando. Mas não bastasse essa necessidade de querer comandar o clima de cada uma das cenas individualmente, determinados momentos quando a história passa da tentativa do drama para uma sequência de ação, e a trilha muda junto, de forma abrupta.

As atuações também não convencem em momento algum. A major Elena (Valeriya Shkirando) tem uma função na trama similar a do Nick Fury nos filmes da Marvel. A atriz, porém, não consegue dar personalidade à personagem. Nos momentos em que ela aparece para convocar os guardiões, ela se mostra fria e decidida, como a patente dela pede. Nos momentos que cada personagem tem para apresentar seu drama pessoal, Elena se mostra emotiva e quase impotente.

Sobre os personagens, é uma somatória de problemas que vão de suas motivações (quando existe alguma) até seus poderes. O que fez cada um deles se isolar é jogado na tela e usado ao mesmo tempo como uma desculpa para superação. O conflito pessoal de Arsus (Anton Pampushnyy) em ter medo de se tornar definitivamente um urso não é resolvido. No final não tem como saber se ele conseguiu controlar seus poderes ou se ele ainda enfrenta seu próprio medo.

Mas a grande decepção está nos poderes individuais. Arsus, além de virar um urso tem superforça; Ler (Sebastien Sisak) pode controlar pedras com telecinese; Khan (Sanjar Madi, da série “Marco Polo”) tem supervelocidade; e Xenia (Alina Lanina) consegue ficar invisível e controlar a temperatura do próprio corpo. Cada um desses poderes é usado da forma como convém para que o roteiro consiga seguir em frente. Dessa forma, quando eles precisam ser capturados, Khan leva um tiro e Arsus é preso numa rede. E para tentar criar uma ligação mais forte entre os personagens, um poder especial é apresentado para que dessa forma eles possam vencer o vilão.

E se o filme já parecia ruim até o momento, o vilão funciona como cereja nesse bolo. Convenientemente ele tem todos os poderes necessários para vencer os heróis. E mesmo que sua motivação possa convencer, Kuratov (Stanislav Shirin) não parece se importar com suas motivações. Em determinado momento ele se mostra um verdadeiro inimigo, em outros momentos tenta recrutar os guardiões. É apenas mais um elemento criado de maneira forçada para fazer a trama seguir em frente.

Existem alguns momentos interessantes na trama, como a apresentação de Khan e a forma como ele utiliza a velocidade para atacar os inimigos. A cena dele pegando suas espadas é particularmente bela, mas por ser repetida diversas vezes acaba se tornando cansativa ao longo do filme.

Para um filme que poderia trazer novos ares ao gênero de heróis, por apresentar uma versão russa de pessoas com poderes especiais, “Os Guardiões” acaba sendo apenas um filme ruim. E mesmo com apenas 89 minutos, é cansativo e entediante. Não traz nenhuma novidade e tem um roteiro extremamente fraco. Ainda para piorar, a versão que chega ao Brasil é dublada em inglês, deixando mais caricato devido à má qualidade do serviço.

Robinson Samulak Alves
@rsamulakalves

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