Cinema com Rapadura

Críticas   quarta-feira, 29 de março de 2017

O Poderoso Chefinho (2017): uma fábula moderna sobre irmãos

A animação que traz um insólito bebê executivo, mostra-se um veículo simples para uma boa história.

Como uma animação para crianças pode agradar aos pequenos se utilizando de elementos extremamente adultos, como o corporativismo executivo em sua estrutura principal? Seria “O Poderoso Chefinho” mais um daqueles filmes feitos para agradar aos adultos, camuflado de filme infantil, se utilizando apenas de alguns artifícios de humor físico para distrair a criançada? Foi somente assistindo ao filme que consegui entender qual era a proposta aqui.

Criada como uma fábula moderna sobre a chegada de um novo irmãozinho, a animação é bastante competente neste quesito. Ao contrário da prévia, o filme não esconde nem por um minuto, que tudo que estamos vendo ali faz parte da farta imaginação do pequeno Tim (voz original de Miles Christopher Bakshi, de “O Natal do Shrek“). Na sua criativa história, ele perde a completa atenção de seus pais, quando um bebê engravatado adentra suas vidas. Porém, o pequenino não é uma criança comum e sim um grande executivo da corporação dos bebês, que precisa recolher informações importantes sobre a criação de uma nova raça de cãezinhos bonitinhos, que podem desviar a atenção das pessoas à fofura dos bebês.

Com um animação simples, porém objetiva, o filme do bom diretor Tom McGrath (“Megamente”), cativa mesmo pela história. Afinal, quem nunca sentiu ciúmes ao menos alguma vez na vida? As referências predominam o longa completamente. Seja ao mundo corporativo – visto pelo prisma de um garoto de sete anos -, que resulta em um mundo exagerado e extremamente inventivo, seja ao próprio cinema hollywoodiano, como no hilário despertador “Gandalf” e suas frases de efeito: “You shall not pass!”.

Em geral, o visual dos personagens beira a caricatura, mas é eficiente. A fofura da aparência do “chefinho”, em contraponto ao seu jeito bruto e pragmático, associado à dublagem grave e certeira do ator Alec Baldwin (“Um Homem entre Gigantes”), ajuda a criar um personagem complexo e rico. O garoto Tim é um personagem tão crível e cativante, que torcemos por ele o tempo todo, mesmo que nem sempre ele esteja com a razão. Existem problemas, como a familiaridade excessiva com animações recentes, como “Cegonhas” e uma incômoda fixação exagerada com piadas sobre bundas e orifícios do corpo humano, mas nada que o desabone excessivamente.

“O Poderoso Chefinho”, apesar da errônea escolha do título nacional, que sugere uma inexistente associação ao célebre filme de máfia, é apenas uma animação simples, sem brilhantismo, mas que conta uma boa história. Mesmo não almejando a complexidade de um filme da Pixar, ou mesmo a beleza visual de um filme da Laika (“Kubo e as Cordas Mágicas“), o longa consegue transmitir a sua mensagem com competência e objetividade. De quebra, ele ainda diverte a criançada com sua fofura exacerbada. Isso é o que podemos chamar de uma situação “win/win“, não?!

Rogério Montanare
@rmontanare

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