Cinco anos após Star Wars: Os Últimos Jedi, Rian Johnson tem “ainda mais orgulho” do filme
Diretor falou abertamente sobre sua abordagem no filme e a polêmica acerca da caraterização de Luke Skywalker.
(Imagem: divulgação/Lucasfilm)
Um dos filmes mais polêmicos dos últimos anos, “Star Wars: Os Últimos Jedi” está prestes a completar cinco anos de lançamento, e a Empire falou com o diretor Rian Johnson sobre suas impressões e experiências com o filme passado tanto tempo.
“Tenho ainda mais orgulho dele passados cinco anos“, diz Johnson. “Quando tive a oportunidade, realmente aproveitei“. Para o cineasta, “Os Últimos Jedi” não é apenas um filme de “Star Wars”, mas um filme sobre “Star Wars”:
“Acho que é impossível para qualquer um de nós abordar ‘Star Wars’ sem pensar nisso como um mito com o qual nós crescemos, e como esse mito, essa história, se entranhou em nós e nos afetou. O intuito final não é retirar nada. O intuito é chegar ao básico, ao poder fundamental do mito. E espero que, no final, o filme seja uma reafirmação do poder do mito de ‘Star Wars’ em nossas vidas.”
Um dos pontos mais polêmicos, claro, foi a apresentação de Luke Skywalker (Mark Hamill) como um personagem humano e passível de cometer erros. Muitos espectadores foram pegos de surpresa vendo que o herói optou por viver em exílio após falhar em treinar a nova geração de Jedi, representada por seu sobrinho Ben Solo, que viria a se tornar o vilão Kylo Ren (Adam Driver):
“As imagens finais do filme, para mim, não estão desconstruindo o mito de Luke Skywalker, mas construindo esse mito, e representam ele aceitando isso. São ele absolutamente desafiando a noção de ‘jogar fora o passado’ e assimilando o que realmente importa sobre seu mito, e o que irá inspirar a próxima geração. Então, para mim, o processo de retirar é sempre no interesse de chegar a algo essencial, que realmente importe.”
Ainda assim, há quem diga que a imagem heróica de Skywalker construída por George Lucas na Trilogia Original de “Star Wars” tenha ficado arranhada por conta de “Os Últimos Jedi”, justamente por ele ser um humano com dúvidas e crises, apesar de ser poderoso com a Força. Johnson argumentou em 2019 que queria evitar que Luke fosse visto como “um personagem de videogame que alcançou um super-poder binário e permanente”.
O próprio Mark Hamill chegou a afirmar publicamente que aquele não seria “o seu Luke Skywalker”, mas uma outra versão do personagem – algo que ele mesmo veio a desmentir publicamente, afirmando em seguida que “estava errado” a respeito dessa perspectiva. Johnson não desmerece nem nega a posição de Hamill:
“Estou escolhendo minhas palavras cuidadosamente não para ser diplomático, mas porque não quero falar da experiência do Mark pela minha perspectiva, porque de jeito nenhum eu conseguiria me colocar no lugar dele ou de Carrie [Fisher], que viveram suas vidas inteiras sendo conhecidos como esses personagens. E como foi para eles interpretá-los pela primeira vez aos vinte anos, e aí retornar para interpretá-los nesses filmes e ver em um roteiro algo escrito como ‘bom, agora é assim’. Eu nunca conseguiria imaginar como seria isso. É impossível.”
Como foi então chegar para o ator que interpretou o papel por anos – e ficou irremediavelmente conectado a ele sua vida inteira – e afirmar que sua compreensão sobre o tal papel não seria traduzida na tela?
“Se Mark Hamill está falando comigo sobre Luke Skywalker, eu vou ouvir o que ele tem a dizer, e eu preciso pensar sobre isso e contra-argumentar, indo e voltando. E genuinamente escavar as profundezas da minha alma e do que eu escrevi para entender e parece correto. Também, claro, pensando nisso, ele criou o personagem na tela, mas ele é Mark Hamill, ele não é literalmente Luke Skywalker. Luke Skywalker vive como uma criação na tela. Ele é um mito. E sendo assim, ele só pode viver de verdade nas cabeças das pessoas que se atentam a diversas formas de acreditar nesse mito. E eu sei que eu era assim. Então é complicado. Mas, digo, a resposta curta para essa pergunta é que foi aterrorizante.”
As trocas entre Johnson e Hamill foram constantes, mas profissionais e educadas – como é característico de ambos:
“No meio de todo esse vai-e-vem, no primeiro dia de gravação, Mark disse: ‘okay, essa é a visão que você vai usar, e vou fazer a melhor versão que posso disso'”.
A repercussão de “Os Últimos Jedi” foi algo extremamente desafiador para alguns fãs da franquia, para dizer o mínimo. Tanto que o capítulo seguinte, “A Ascensão Skywalker” abertamente volta atrás em algumas decisões tomadas por Johnson em seu filme.
Às vésperas da estreia de “Os Últimos Jedi”, foi anunciado que Johnson iria comandar uma nova trilogia de “Star Wars”, algo novo e não relacionado à chamada Saga Skywalker. O projeto, no entanto, foi posto na geladeira por conta da repercussão e do barulho feito por alguns fãs frustrados. O assunto ainda é evitado dentro da produtora Lucasfilm, a ponto de Johnson afirmar em 2019 não ter mais certeza de que o projeto sairia do papel.
“Me mantenho próximo à Kathleen [Kennedy, presidente da Lucasfilm], e nos reunimos frequentemente para conversar sobre isso. À essa altura é mais uma questão de agenda e de quando isso pode acontecer. Partiria meu coração se eu estivesse fora e não fosse mais poder voltar a essa caixa de areia em algum momento.”
Por enquanto, Rian Johnson segue com outros projetos, como a série “Poker Face“. O principal, no entanto, é “Glass Onion: Um Mistério Entre Facas e Segredos“, que será lançado pela Netflix em 23 de dezembro.
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