Denis Villeneuve critica lançamento de Duna no HBO Max e diz que Warner pode ter “matado a franquia”
Cineasta junta-se a Christopher Nolan criticando a decisão da Warner.
A polêmica decisão da Warner de lançar seus filmes simultaneamente nos cinemas e pelo streaming HBO Max continua rendendo. Agora, Denis Villeneuve, diretor por trás de um dos principais afetados, “Duna“, se manifestou a respeito – e não poupou o estúdio. A revista Variety cedeu espaço ao cineasta, que criticou duramente a decisão da Warner:
“Fiquei sabendo pelo jornal que a Warner Bros. decidiu lançar ‘Duna’ no HBO Max no mesmo dia da estreia nos cinemas, usando grandes imagens de nosso filme para promover seu serviço de streaming. Com essa decisão, a AT&T [conglomerado de mídia ao qual a Warner pertence] sequestrou um dos mais respeitáveis e importantes estúdios da história do cinema. Não há qualquer amor pelo cinema, nem pelo público, nessa medida. É apenas focada na sobrevivência do mamute das telecomunicações, um que está atualmente com uma dívida astronômica de mais de US$ 150 bilhões.”
Villeneuve fez questão de ressaltar que o gesto da Warner simboliza uma quebra de confiança nas relações entre cineastas e estúdio. Ele também afirma acredita nas mudanças positivas que o streaming traz à indústria do entretenimento, mas que a decisão vai acabar fomentando a pirataria:
“A guinada repentina da Warner Bros. de uma casa histórica para cineastas a essa nova era de completa falta de consideração é um limite claro para mim. Fazer um filme é um processo colaborativo e dependente da relação de confiança mútua entre a equipe, e a Warner Bros. declarou que não estão mais na mesma equipe. Serviços de streaming são uma adição positiva e poderosa ao ecossistema dos filmes e televisão. Mas quero que o público entenda que o streaming por si só não consegue sustentar a indústria do cinema como a conhecíamos antes do COVID. Streaming pode produzir ótimos conteúdos, mas não filmes da escala e escopo de ‘Duna’. A decisão da Warner Bros. significa que ‘Duna’ não terá chance de render financeiramente para se tornar viável, e, no fim, a pirataria irá triunfar. A Warner Bros. pode ter acabado de matar a franquia ‘Duna’.”
Para ele, não interessa o que digam os executivos, é preciso respeitar a saúde pública e também a importância do cinema enquanto experiência comunitária:
“A segurança do público está em primeiro lugar. Ninguém contesta isso. Essa é a razão de, quando ficou claro que o inverno [do hemisfério norte] traria uma segunda onda da pandemia, eu ter entendido e apoiado a decisão de adiar a estreia de ‘Duna’ em quase um ano. O plano era que ‘Duna’ iria estrear nos cinemas em outubro de 2021, quando as vacinações estiverem avançadas e, tomara, o vírus tenha ficado para trás. A ciência nos diz que tudo deve estar em um novo normal no próximo outono. […] Acredito piamente que o futuro do cinema será na tela grande, independente do que qualquer executivo de Wall Street diga. Desde o princípio dos tempos, humanos precisam profundamente de experiências comunitárias com histórias. Cinema na tela grande é mais que um negócio, é uma forma de arte que une as pessoas, celebra a humanidade e aumenta nossa empatia uns pelos outros – é uma das últimas experiências artísticas coletivas que dividimos enquanto seres humanos.”
O cineasta concluiu seu artigo com um grito de “vida longa à experiência cinematográfica!“. O gesto foi replicado por Josh Brolin e Jason Momoa, atores que integram o elenco de “Duna“, nas redes sociais. Ele também se juntou a Christopher Nolan nas críticas à decisão do cinema; Nolan chegou a classificar o HBO Max como “o pior streaming”. A produtora Legendary, que está por trás de “Duna” e “Godzilla vs. Kong“, cogita até processar a empresa por quebra de contrato.
Villeneuve é parceiro de longa data da Warner. Além de “Duna“, ele também trabalha na série “The Son” para a HBO junto a Jake Gyllenhaal.
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