Woody Allen se defende de acusações e declara ser o garoto-propaganda do movimento #MeToo
Cineasta se diz favorável ao movimento, mas rechaça qualquer tipo de acusação contra si por má conduta sexual.
Em uma entrevista concedida nesta segunda-feira (4) ao programa de notícias argentino Periodismo Para Todos, o veterano cineasta americano Woody Allen (“Café Society”), em uma declaração irônica, afirmou ser o “garoto-propaganda” do movimento “#MeToo” no que diz respeito à atuação deste nos casos envolvendo acusações de assédio sexual dentro da indústria cinematográfica americana.
O tom irônico da declaração se deve ao fato de que ele não foi acusado de má conduta sexual por qualquer uma das atrizes com quem ele trabalhou ao longo dos anos. Allen afirmou:
“Eu sou um grande defensor do movimento ‘#MeToo’. Eu sinto quando eles encontram pessoas que perseguem mulheres e homens inocentes. É bom que eles estejam expondo-os. Mas você sabe, eu deveria ser o garoto-propaganda do movimento ‘#MeToo’. Porque eu trabalhei em filmes por cinquenta anos. Eu trabalhei com centenas de atrizes e nem uma única – grande, famosa ou iniciante – já alguma vez sugeriu qualquer tipo de impropriedade em tudo. Eu sempre tive um histórico maravilhoso com elas.”
Na entrevista, o diretor, vencedor do Oscar por “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” (1977), disse que é um “incômodo” que ele esteja “ligado” a essa situação que assola figuras importantes de Hollywood como Harvey Weinstein, que foi acusado de má conduta sexual por dezenas e dezenas de mulheres:
“Eu acho que em qualquer situação em que alguém é acusado de algo injustamente, isso é uma coisa triste. Eu acho que todo mundo concordaria com isso… Todo mundo quer que a justiça seja feita. Se há algo como o movimento ‘#MeToo’ agora, você torce por eles, você quer que eles tragam à justiça esses terríveis assediadores, essas pessoas que fazem essas coisas terríveis. E acho que isso é bom.”
Ainda sobre as acusações, Allen continuou:
“O que me incomoda é que eu seja conectado a eles. Pessoas que foram acusadas por 20, 50 ou 100 mulheres de diversos abusos – e eu, que fui acusado por uma única mulher em um caso de custódia da criança que foi analisado e provado ser falso -, e eu me vejo equiparado a essas pessoas.”
O entrevistador também perguntou se Allen havia molestado sua filha adotiva Dylan Farrow – filha da atriz Mia Farrow (“O Bebê de Rosemary”) -, que alegou ter sido abusada sexualmente pelo pai em 4 de agosto de 1992 em um sótão quando ela tinha 7 anos de idade. Allen negou todas as alegações, pelas quais nunca chegou a ser formalmente acusado. Allen acrescentou que se sentiu angustiado por essas alegações terem ressurgido no meio do movimento “#MeToo”:
“Claro que não, eu acho isso tudo uma loucura. Isso é algo que foi cuidadosamente tratado há 25 anos atrás por todas as autoridades e todas chegaram à conclusão de que era falso. E isso foi o fim e acabou com a minha vida. O fato de isso estar voltando agora e acusar uma pessoa disso, são coisas terríveis. Eu sou um homem com uma família e meus próprios filhos. Então é claro que isso está incomodando.”
Woody Allen foi acusado há duas décadas de ter abusado sexualmente de sua filha adotiva. Recentemente, a mesma questionou o fato de a indústria cinematográfica de Hollywood continuar apoiando seu pai mesmo depois das acusações virem à tona. Vários atores e atrizes que já trabalharam com o cineasta já se manifestaram a favor ou contra o diretor.
Saiba Mais: #MeToo, Woody Allen