[EXCLUSIVO] Jogador Nº 1 | Elenco e equipe falam sobre realização do longa e fascínio pelos anos 80
Em entrevista exclusiva, diretor Steven Spielberg, equipe e elenco discutem o processo de criação da produção e as diversas inspirações para o longa.
O longa “Jogador Nº 1” marca o retorno do diretor Steven Spielberg (“The Post: A Guerra Secreta“) à produção de um grande blockbuster, vertente em que ele colecionou sucessos, como “Tubarão“, “E.T – O Extraterrestre“, “Jurassic Park” e a quadrilogia “Indiana Jones“. Em entrevista à Warner Bros. cedida com exclusividade ao Cinema com Rapadura, ele e o elenco discutiram o processo de gravação, o encanto do público pelos anos 80 e as grandes inspirações para o longa.
Warner Bros.: Sua paixão e alegria são evidentes em todos os frames do filme. Como isso afetou nas escolhas que você tomou para contar essa história?
Steven Spielberg: Obrigado. Eu tive um elenco incrível e apaixonado. Se você combinar a idade de todos eles, eles são mais novos do que eu [risos]. E eu me alimentei dessa energia. Eu chegava cedo para trabalhar e Olivia [Cooke, que interpreta Art3mis/Samantha] dizia ‘Ok, o que faremos agora? Mal posso esperar!” Então Lena [Waithe, que vive Aech/Helen] dizia “Ei, pode me passar qualquer coisa. Eu estou pronta para tudo.” E com Tye, era a mesma coisa. Ernest [Cline, autor do livro] nos deu um playground para que pudéssemos ser crianças novamente, e foi o que fizemos. Nós todos nos tornamos crianças, mais uma vez. É daí que a energia veio.
É importante entender, também, que fizemos o filme em um set abstrato. As únicas ferramentas que o elenco podia usar para entender exatamente onde estavam, eram os visores de realidade aumentada. Dentro dos visores, havia sido um criado um set completo, o que você vê no filme. Mas quando você os tirava, você estava apenas em um lugar grande, branco e vazio. Quando você colocava os visores, contudo, você estava no porão do Aech, ou em seu workshop. Ou, talvez, na Distracted Globe [discoteca que é uma das localidades da trama]. Então os atores tinham a oportunidade de dizer ‘Ok, se eu caminhar para lá, tem uma porta e ali tem um DJ’. Foi realmente uma experiência extracorporal fazer este filme, e é muito difícil expressar como foi fazer isso.
Olivia Cooke: Foi maravilhoso, porque nós vivemos em nossa própria imaginação por cinco meses, e nós nunca tivemos a oportunidade de fazer isso desde que éramos crianças. Então, estar apto para confiar plenamente na nossa intuição e em nossa interação com Steven e o restante do elenco – isso foi o que tornou as gravações tão especiais e diferentes de qualquer coisa que eu consiga pensar.
WB: Temas como realidade versus fantasia estão presentes em toda sua filmografia. Para você, o processo é diferente quando se está fazendo um longa escapista, e não um longa explorando eventos históricos ou problemas da vida real?
Steven Spielberg: Esse foi o meu filme mais escapista. Para mim, foi um longa que realiza todas as minhas fantasias de lugares que gosto de ir na minha imaginação. Eu vivenciei isso por três anos. Eu escapei para a imaginação de Ernest Cline e Zak Penn [roteiristas da produção], e foi maravilhoso. Mas eu voltava para à Terra de vez em quando. Eu fiz alguns filmes nesse meio tempo, como ‘Ponte dos Espiões’ e ‘The Post’, então eu tinha aquele ‘efeito chicote’ de ir da realidade para o entretenimento escapista total. E eu estava sentindo isso, é uma sensação ótima.”
WB: Tye, você poderia falar um pouco de como foi sua experiência com videogames antigos antes de fazer o filme?
Tye Sheridan: Na verdade, existe uma cena no filme em que eu devo jogar um jogo do Atari. Eu pesquisei sobre o jogo, assisti à vídeos e fiz toda a pesquisa que poderia fazer sem jogá-lo de verdade. Então, quando chegou a hora de gravar a cena, eu falei: ‘Pessoal, eu nunca joguei o Atari na minha vida, então vocês terão que me ensinar como segurar o controle, porque não quero parecer alguém que o segura da forma errada’. Então, tive lições com Steven e Zak sobre o controle do Atari.
WB: Para o elenco mais jovem, que não cresceu na década de 80, como que vocês mergulharam nesta era? Havia algo que vocês não tinham visto antes e que agora amam?
Lena Waithe: Eu nasci em 1984, então eu não me lembro de várias coisas da década de 80 e não conheço várias outras. Mas como cresci nos anos 90, o que lembro muito é da música. Michael Jackson, Whtney Houston – foi nos anos 80 que eles começaram. Então, não tive dificuldade em revisitar isso. Mas eu e Tye assistimos à alguns filmes dos anos 80 juntos, só para entrar no clima. E algo interessante sobre aquela época era que tudo era tão grande, barulhento, feliz e colorido. Era uma época próspera. Então, acho que é por isso que estava feliz. E isso é traduzido para às telas. Há muita alegria, e isso nos lembra de tempos mais felizes. É por isso que somos obcecados por este período de tempo.
Steven Spielberg: Acho que a nostalgia dos anos 80 existe porque foi uma década em que não houve uma grande turbulência mundial e nos EUA, sem caos ou grandes mudanças. Nos anos 60 nós tivemos mudanças significativas com o movimento dos Direitos Civis. Houve muita mudança com os assassinatos de Jack e Bobby Kennedy, e houve todas essas épocas diferentes.
Tye Sheridan: Eu acho que faz sentido porque o OASIS representa uma grande válvula de escape. Você é qualquer coisa que deseja ser, e como os anos 80 eram uma época tão vibrante, cheia de uma espécie de esperança maluca, eu acredito que faz todo o sentido a existência de todas essas referências de cultura pop dos anos 80 no filme.
WB: Para todos: qual foi o aspecto do filme que mais ficou ligado à vocês, pessoalmente? O filme conversa com todas as gerações, então qual referência os deixou mais empolgados?
Lena Waithe: Então, a coisa que mais gostei foi o boneco do Chucky (“Brinquedo Assassino”), porque eu costumava ter medo dos filmes. Agora, como adulta, é legal interpretar uma personagem que usa o Chucky como uma arma [risos]. Mas em termos de música, é o momento em que toca ‘Just My Imagination’ [dos The Crambarries], que era uma canção que minha mãe tocava o tempo todo quando eu era criança. Ouvir isso no galpão do Aech foi muito legal.
Tye Sheridan: Eu acho que, para mim, foi o Gigante de Ferro. Esse foi um filme que vi muitas vezes durante minha infância. Eu tive uma conexão sentimental com aquela figura, e era super legal, mesmo enquanto estávamos gravando, porque podíamos ver nossos avateres em tempo real em uma tela 2D. Eu podia ver o meu avatar, então eu via o pé do robô e dizia: ‘Aquele é o pé do Gigante de Ferro.’
Steven Spielberg: Sim, Brad Bird [diretor de ‘O Gigante de Ferro’] é um gênio. Eu assisti Gigante de Ferro quando estreou nos cinemas e me tornei um fã de Brad desde então. Nós trabalhos juntos em algo chamado ‘Family Dog’ na televisão, há muito tempo. Então isso foi para honrar Brad Bird e o Gigante de Ferro.
Olivia Cooke: Eu costumava ir à discoteca quando era criança na minha cidade natal, então eu realmente gostei de aprender a dança do filme ‘Embalos de Sábado a Noite’. Eu e Tye nos tornamos muito próximos, rapidamente, com essas aulas de dança [risos]. Eu não sei o quanto foi mudado digitalmente na pós produção, provavelmente muito. Mas foi muito divertido.
Ben Mendelsohn (que vive o antagonista da obra, Nolan Sorrento): Antigamente você só podia alugar casas que eram do tipo ‘Última Casa à Esquerda’ (filme de terror de 1972), ou ‘A Hora do Pesadelo’. Então direi que ver Freddy sendo explodido foi o que mais me deixou feliz [risos].
Ernest Cline: Para mim é a máquina do tempo de “De Volta para o Futuro’, o DeLorean. Ele sempre foi meu carro dos sonhos quando criança, mesmo antes de eu assistir ao filme. Mas quando eu o vi, eu sonhei em ter o DeLorean algum dia. Quando vendi o meu livro, eu percebi que finalmente poderia comprar um DeLorean e usá-lo na minha foto de autor, porque era uma máquina do tempo dos anos 80, que é sobre o que o meu livro conta. E eu poderia dirigí-lo por todo o país durante a tour do livro. Então, foi do livro para minha vida, e agora para o filme.
Zak Penn: As espaçonaves. Eu realmente gostei de ver uma nave de ‘Battlestar Galactica’ e outra de ‘Corrida Silenciosa’. Eu imagino que tenha sido Steven que chamou à atenção para isso. E eu falei ‘Meu Deus, é claro, a nave de ‘Corrida Silenciosa’. Isso tudo porque você não permitiu que colocássemos a nave mãe de ‘Contatos Imediatos do Terceiro Grau” né Steven?! Que era o que eu tinha originalmente escrito como piada.
Steven Spielberg: Chegou em um ponto em que eu tive que expandir para outros públicos e não só para quem gostasse dos meus filmes, e não queria que o longa fosse sobre os meus filmes. Eu deixei aparecer alguns personagens dos meus filmes, especialmente o DeLorean, que veio diretamente do livro. Entretanto, havia várias coisas que poderíamos ter colocado.
Philip Zhao (intérprete de Sho): O meu provavelmente foi o Gigante de Ferro, porque eu era uma criança quando estávamos filmando isso.
Win Morisaki (que vive Daito): Para mim, definitivamente, foi o [robô] Gundam. Fãs japoneses vão gritar ‘Whoa!’ quando vê-lo.
Ernest Cline: Você também pôde dirigir o Mach 5 de ‘Speed Racer’, Win! Você brincou com brinquedos maneiros.
Baseado no livro homônimo escrito por Ernest Cline, o longa apresenta um futuro distópico, em que o mundo virtual controla cada vez mais a vida das pessoas. Isso graças ao OASIS, realidade virtual criada por James Halliday (Mark Rylance, de “Dunkirk”) e que alterou o modo de viver do mundo todo. Ao morrer, ele deixa sua fortuna como recompensa para quem conseguir desvendar todos os enigmas de uma caça ao tesouro, colocado dentro da realidade virtual. O jovem Wade Owen Watts (Tye Sheridan, de “X-Men: Apocalipse“) decide entrar na disputa, competindo com empresários e adversários que farão de tudo para ganhar a recompensa. Leia a nossa crítica clicando aqui.
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