Cinema com Rapadura

Notícias   quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Rose McGowan fala sobre Harvey Weinstein e a “máquina de cumplicidade” de Hollywood

Entrevista com a atriz foi ao ar na última terça-feira nos Estados Unidos.

Rose McGowan fala sobre Harvey Weinstein e a “máquina de cumplicidade” de Hollywood>

A norte-americana Rose McGowan (“Conan, o Bárbaro“), uma das principais ativistas da atualidade contra o assédio sexual e a cultura do estupro em Hollywood e uma dass primeiras atrizes a denunciar o ex-produtor Harvey Weinstein por tais práticas, revelou nesta terça-feira (30), em entrevista ao Good Morning America, programa da emissora ABC nos EUA, seus próximos passos nessa luta. A informação é do portal The Hollywood Reporter.

Sua iniciativa envolve o lançamento do livro “Brave” (“Corajosa”, em tradução livre), já disponível em inglês, e a exibição de um documentário dividido em cinco partes chamado “Citizen Rose” (“Cidadã Rose”) pelo canal E!, além do lançamento de um álbum musical, ainda sem nome. Ela comenta:

“Minha intenção é tornar a sociedade – eu inclusa – um pouco melhor. A maior mensagem é que não existe lobby em prol do pensamento crítico. Não existe lobby em prol da coragem.”

Tanto no livro quanto no documentário, ela se refere a Weinstein apenas como “o monstro“, nunca utilizando seu nome. Ambos se aprofundam nos detalhes acerca do caso reportado por ela, que ocorreu durante o Festival de Sundance em 1997, na suíte presidencial do hotel onde ele estava hospedado:

“Para mim, ele é uma pessoa doentia, com uma mente doentia – mas e as demais que também sofreram? Há tantas outras… A máquina que ele montou em cada país que visitou incluía tudo, até pessoas que lhe entregavam suas vítimas, começando com os agentes. Meu próprio agente conseguiu um emprego com ele por sete anos após esse episódio. Faça as contas.”

Após o ocorrido, participando da coletiva de imprensa do filme “Indo até o Fim“, ela contou ao ator Ben Affleck (“Liga da Justiça“) que tinha acabado de vir de um encontro com Weinstein, com que o ator respondeu “Eu avisei a ele para parar de fazer isso“. Ela ainda lembrou da mensagem que o produtor deixou para ela no dia seguinte, dizendo “Gwyneth (Paltrow, que também o acusou de assédio em outubro do ano passado) é minha amiga especial, e agora você também é uma amiga especial para mim“. Ela disse, entre lágrimas: “Eu apenas deslizei parede abaixo e vomitei de nojo.

Durante a entrevista, McGowan disse também que começou a usar a expressão “máquina de cumplicidade” três anos atrás.

“Todo mundo sabia. Eu sabia, estava lá. As pessoas acham que eu não conhecia essa gente, que eu estava ‘do lado de fora’ – como elas estão – tentando olhar ‘para dentro’. Alguém me perguntou quem eu seria se fosse um personagem em ‘O Mágico de Oz’. Eu seria a cortina, seria quem consegue ver ambos os lados que ninguém percebe, que era bonita e estava lá para ser usada e descartada em seguida. Eu absorvia toda a informação dos dois lados, tanto sobre vender para o público quanto sobre ser vendida.”

Esta cumplicidade “sistêmica” se estendia a seu estúdio, The Weinstein Co., e contava até mesmo com um fundo próprio para pagar pelo silêncio das vítimas de Weinstein. “Se ele pagava 100 mil dólares para uma vítima, tinha que pagar US$ 250.000 para os conselheiros. Quando digo que é uma máquina de cumplicidade, é porque é“, ela completa, afirmando que mesmo seus papéis em filmes eram voltados para intimidar o público feminino:

“Vocês, mulheres, se vêm nos filmes? Se sentem representadas? Eu não. Eu era um instrumento mandado para a tela para te intimidar. Se uma garota fosse ao cinema com o namorado, eu era o que ela tinha que olhar e fazer ela pensar ‘Ei, não quer ser como eu?’. E deixá-lo excitado. Existem mensagens em todos os filmes, e todos os detalhes contam.”

Para seus críticos, ela encerrou a entrevista afirmando apenas que seu desgosto e fúria com a situação é tudo que ela tem.

“Qual o problema em estar indignada com isso? Há muito com o que se indignar. Se você está furiosa, isso cobre sua dor. Eu não sei se é possível lidar de verdade com essa dor. Temos etapas de luto, todos sabem. Por que não é o mesmo com assédio e abuso sexual? Porque parte de você morre no processo.”

Para McGowan, a única justiça possível é a prisão de Weinstein.

“Este homem deveria ficar atrás das grades pelo resto da vida. Ele roubou, sequestrou, mentiou, comprou. Ele fez coisas diabólicas para abusar sexualmente de mulheres e acabar com suas essências. É assustador e é real.

Harvey Weinstein está sendo investigado pelas polícias de Los Angeles, Nova York e Londres, apesar de ainda não ter recebido acusações formais. Ao todo, mais de 80 mulheres o acusam de assédio e abuso sexual até o momento. Através de um porta-voz, ele negou todas as acusações.

Saiba Mais: ,

Julio Bardini
@juliob09

Compartilhe

Saiba mais sobre


Notícias Relacionadas