Globo de Ouro 2017 | Meryl Streep faz crítica à Trump em discurso emocionante
"Hollywood está cheia de estrangeiros, e se querem expulsar todos nós vão ficar sem nada para ver além de futebol americano e MMA", disse a atriz em seu discurso.
A incrível e talentosa atriz Meryl Streep (“Florence: Quem é Essa Mulher?“) foi homenageada e premiada pelo conjunto de sua obra durante o Globo de Ouro na madrugada de segunda-feira (09). A atriz aproveitou seu discurso na premiação para fazer algumas críticas às atitudes do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Veja um trecho do discurso da atriz:
“Quem somos nós? O que é Hollywood? É um grupo de gente que vem de todas as partes. Eu nasci, cresci e me eduquei nas escolas públicas de Nova Jersey. Viola Davis nasceu numa cabana da Carolina do Sul e cresceu em Central Falls, Long Island. Sarah Paulson nasceu na Flórida e foi criada por sua mãe solteira no Brooklyn. Sarah Jessica Parker era uma de sete ou oito filhos em Ohio. Amy Adams nasceu na Itália, e Natalie Portman, em Jerusalém. Onde estão suas certidões de nascimento? E a linda Ruth Negga nasceu na Etiópia, cresceu em Londres. Não, na Irlanda, me parece. Está aqui indicada por fazer o papel de uma garota de um povoado da Virgínia. Ryan Gosling, como todas as pessoas mais amáveis, é canadense. E Dev Patel nasceu no Quênia, cresceu em Londres e está aqui por fazer o papel de um indiano que vive na Tasmânia. Então Hollywood está cheia de estrangeiros e forasteiros, e se querem expulsar todos nós vão ficar sem nada para ver, além de futebol americano e artes marciais mistas, que NÃO são artes”.
Meryl Streep ainda lembrou de sua amiga Carrie Fisher, que faleceu recentemente, encerrando seu discurso com uma frase de nossa querida princesa Leia.
“Como minha amiga, a querida princesa Leia, me disse certa vez: Pegue seu coração partido e o transforme em arte”, concluiu a atriz.
>> [PODCAST] RapaduraCast EXTRA – O adeus para Carrie Fisher #RestInPeace
Veja o discurso completo da atriz no vídeo abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=NxyGmyEby40
Veja o discurso completo:
Por favor sentem-se. Obrigada. Amo vocês. Vocês vão ter que me desculpar. Perdi a voz gritando e me lamentando no fim de semana. E perdi a cabeça em algum momento neste ano. Então terei que ler.
Obrigada à Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood. Pegando o que disse Hugh Laurie: ‘Nós, todos os presentes, pertencemos a um segmento vilipendiado da população’. Pensem nisso: Hollywood. Estrangeiros. E a imprensa.
Mas quem somos nós? O que é Hollywood? É um grupo de gente que vem de todas as partes. Eu nasci, cresci e me eduquei nas escolas públicas de Nova Jersey. Viola Davis nasceu numa cabana da Carolina do Sul e cresceu em Central Falls, Long Island. Sarah Paulson nasceu na Flórida e foi criada por sua mãe solteira no Brooklyn. Sarah Jessica Parker era uma de sete ou oito filhos em Ohio. Amy Adams nasceu na Itália, e Natalie Portman, em Jerusalém. Onde estão suas certidões de nascimento? E a linda Ruth Negga nasceu na Etiópia, cresceu em Londres. Não, na Irlanda, me parece. Está aqui indicada por fazer o papel de uma garota de um povoado da Virgínia. Ryan Gosling, como todas as pessoas mais amáveis, é canadense. E Dev Patel nasceu no Quênia, cresceu em Londres e está aqui por fazer o papel de um indiano que vive na Tasmânia. Então Hollywood está cheia de estrangeiros e forasteiros, e se querem expulsar todos nós vão ficar sem nada para ver além de futebol americano e artes marciais mistas [MMA], que NÃO são dessas artes que estou falando.
Me deram três segundos para dizer isto… O único trabalho de um ator é entrar na vida de pessoas que são diferentes de nós e deixar você sentir como é isso. E houve neste ano muitas atuações poderosas que conseguiram justamente isso. Um trabalho assombroso e feito com compaixão.
Mas houve uma atuação neste ano que me impactou, que mexeu com o meu coração. Não por ter sido boa, não tinha nada de boa, mas era eficaz e funcionou. Fez a plateia a que se destinava rir e mostrar os dentes. Foi aquele momento em que a pessoa que pedia para se sentar na cadeira mais respeitável do nosso país imitou um repórter deficiente. Alguém a quem ele superava em termos de privilégio, poder e capacidade de se defender. Isso me partiu o coração. Ainda não consigo tirar aquilo da cabeça, porque não era um filme. Era a vida real.
E esse instinto de humilhar, quando modelado por alguém na plataforma pública, por alguém poderoso, se filtra na vida de todo mundo, porque de certa forma dá permissão para que outras pessoas façam o mesmo. Desrespeito atrai desrespeito. A violência incita a mais violência. Quando os poderosos usam sua posição para abusar de outros, todos perdemos…
Isto me leva à imprensa. Precisamos que a imprensa com princípios exija responsabilidade do poder, que o chame às falas por cada atrocidade que cometer. Por isso, os fundadores do nosso país protegeram a imprensa e suas liberdades na Constituição. Assim, só quero pedir à rica Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood e a todos que pertencemos a esta comunidade que se unam a mim no apoio ao comitê para a proteção dos jornalistas. Porque vamos precisar deles daqui por diante. E eles vão precisar de nós para guardar a verdade.
Só mais uma coisa. Certa vez, eu estava parada num set de filmagem me queixando de alguma coisa, horas extras, algo assim. Tommy Lee Jones me disse: ‘Não é um privilégio, Meryl, simplesmente ser ator?’. Sim, é mesmo. E precisamos recordar uns aos outros sobre o privilégio e a responsabilidade do ato da empatia. Devemos estar orgulhosos do trabalho que Hollywood homenageia nesta noite.
Como minha amiga, a querida princesa Leia, me disse certa vez: ‘Pegue seu coração partido e o transforme em arte’. Obrigada.
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