Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 15 de agosto de 2009

Força G

“Piratas do Caribe”, “A Lenda do Tesouro Perdido”, “Bad Boys” e “Falcão Negro em Perigo”. Não, essa não é uma lista com os filmes mais explosivos de Hollywood, mas com os principais longas produzidos por Jerry Bruckheimer. E se, em mais uma parceria com a Disney, ele decidisse aplicar essa característica que é tão peculiar em seus filmes em uma película protagonizada por porquinhos-da-índia falantes? A partir daí, nasceu “Força G”, que de tão infantil se torna chato.

Jerry Bruckheimer sempre teve como público alvo os homens adolescentes sedentos por cenas de ação, seja de carro, de navio ou mesmo a pé. Brigas e lutas também nunca faltaram em seus filmes. A maioria deles teve grande sucesso de público e daí vem o prestígio que o produtor alcançou na indústria cinematográfica. Mas a crítica nunca se enganou. Bruckheimer tem como meta principal conseguir enormes bilheterias e, para alcançar isso, ele faz de tudo. Fracassos são comuns em sua carreira (e encare fracasso aqui como filmes ruins), mas mesmo neles o produtor é capaz de lucrar bastante. Em “Força G”, ele muda o seu público alvo e direciona seus cifrões para as crianças. O resultado da semana de estreia nos Estados Unidos, em que liderou as bilheterias mesmo competindo com “Transformers 2”, já indica que não vai ser dessa vez que ele terá prejuízo. No entanto, também não vai ser dessa vez, desde “Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra”, que ele estará envolvido com uma obra de ótima qualidade.

"Força G" tem como protagonistas um grupo armado e equipado de porquinhos-da-índia, o esquadrão Força G, que faz parte de um programa secreto do governo norte-americano. Darwin, Detonador e Juarez fazem de tudo, desde pular de pára-quedas até invadir a casa de um inimigo para obter informações sigilosas sobre o seu próximo projeto. Eles também contam com a ajuda de Cegueta, uma toupeira muito inteligente que entende de tudo sobre informática. A equipe é composta ainda por uma mosca e uma barata, todos muito preparados. O time é coordenado por dois humanos, Ben (Zech Galifianakis) e sua assistente Marcie (Kellie Garner), que estão pressionados pelo FBI para que apresentem resultados do investimento que foi feito.

Tentando mostrar trabalho, a Força G invade secretamente a mansão de Leonard Saber (Bill Nighy), um bilionário dono de uma empresa de eletrodomésticos que, dentre outros planos maléficos, estaria planejando o extermínio da humanidade. Entretanto, depois do fracasso da ação do grupo, a equipe é desmontada e os bichos são enviados para um pet shop. Lá eles conhecem mais alguns roedores, como o gordo e mal-educado Hurley, o estressado Bucky e o trio de hamsters cantadores. Agora, eles terão de fugir da pet shop e se reunir novamente para impedir que o vilão destrua o mundo. E isso precisa ser deito rapidamente.

O grande diferencial de “Força G” é o fato de mesclar computação gráfica e cenas reais, bem ao estilo de “Garfield” e “Alvin e os Esquilos”, além de ter sido lançado na versão 3-D. Para isso, era necessário um diretor que entendesse do assunto, e Hoyt Yeatman é um nome respeitado no ramo. Responsável pelos efeitos especiais de “ET – O Extraterrestre”, “Armaggedon” e “O Segredo do Abismo”, pelo qual ganhou o Oscar na categoria, Yeatman entende bastante do setor e dá ao filme um visual bastante aceitável, principalmente porque opta por não estilizar os animais. Ele os cria semelhantes aos bichos verdadeiros, e a isso também deve-se destacar a contribuição da equipe de efeitos especiais, que é integrada pelo supervisor Scott Stokdyk, que também já ganhou dois prêmios da Academia, um deles por “Homem-Aranha 2”.

O grande problema da película é que ela só pensa no seu aspecto visual e esquece todo o resto necessário. São cenas de ação atrás de cenas de ação, mas nenhuma delas funciona. Chega a ser irônico um filme de Jerry Bruckheimer falhar justamente onde ele é craque. A direção de Yeatman talvez seja a grande responsável por esses erros, por que o cineasta não consegue empolgar o público em nenhum momento. As sequências são tão comuns que a impressão é de estarmos assistindo a um longa feito exclusivamente para a televisão.

O roteiro também é um desastre. Cormac Wibberley, Marianne Wibberley, Ted Elliott, Terry Rossio e Tim Firth desenvolvem uma história sem atrativo algum. Mesmo os personagens principais não têm carisma, pré-requisito básico para um filme feito para as crianças. Apenas o encrenqueiro Bucky nos arranca algumas risadas. Além disso, faltam sequências engraçadas. Eles se focam tanto na ação que se esquecem de criar situações cômicas. Elas são exploradas apenas durante as cenas da pet shop, e é justamente nesse período que o filme funciona. Os roteiristas também falham na resolução do mistério. Por mais que o desfecho seja surpreendente, as razões para que ele ocorra não convencem e não agradam, já que desde o início a película se demonstra maniqueísta, algo absolutamente entendível para filmes do gênero.

Além de não aproveitar o incrível talento de Bill Nighy, já que são reservados poucos minutos para o ator, “Força G” cai em todos os clichês possíveis para longas dirigidos para crianças. A trilha sonora composta por músicas que estão atualmente tocando nas principais rádios do País são o auge desse mau-gosto. Novamente Jerry Bruckheimer vai ter que incluir mais um fracasso na sua listinha de filmes. Este é mais um exemplar padrão “Sessão da Tarde” dos menos inspirados. Para os pais, vale o conselho: não levem os seus filhos, porque vocês nem eles sairão satisfeitos.

Darlano Didimo
@rapadura

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