“Entre Lençóis” conta a história de dois estranhos que se conhecem e desenvolvem uma relação em uma única noite. Um filme assim precisa de atores competentes e roteiro eficaz. Infelizmente, este não é o caso do primeiro longa-metragem rodado no Brasil do colombiano Gustavo Nieto Roa.
Durante os meses de maio e junho deste ano, os veículos especializados em celebridades pulularam de notícias e fotos das gravações de “Entre Lençóis”. Rodado em um quarto de motel no Rio de Janeiro, o longa-metragem traria Reynaldo Gianecchini e Paola Oliveira em cenas quentes e sem roupa durante boa parte da projeção. O filme é o primeiro do diretor colombiano Gustavo Nieto Roa filmado no Brasil.
Os dois globais interpretam um casal que se conhece em uma boate e de lá vão para um motel. Após o sexo, os dois viverão uma noite inteira de muitas conversas, conflitos, sinceridade, amor e mais sexo. Ela é Paula, uma jovem que saiu em busca de uma última aventura. Ele é Roberto, um homem cansado pelo desgaste do seu casamento. A trama gira em torno desse encontro que pode ou não mudar os planos que eles tinham para suas vidas.
Roa teve a ambiciosa iniciativa de contar a mesma história em três línguas. Para ele, a história de Renê Belmonte é “universal. Suas situações e personagens estão em todas as partes”. A versão hispânica estreou nos cinemas em abril. Ainda falta gravar uma com atores de língua inglesa. Ambicioso também é um projeto em que dois únicos atores contracenam em um único ambiente. Para ser bem sucedida a empreitada bem sucedida, necessita-se de boas atuações e um bom roteiro, o que infelizmente não há aqui.
No quesito elenco, sobra esforço e química, mas falta talento para Gianecchini e experiência para Paola. No início, quando os joguinhos entre os dois ainda predominam, ela até que se sai melhor com o texto, mas até o final tudo ficará muito novelesco. É aí que entra o roteiro de Belmonte. Colaborador de trabalhos como as séries “Avassaladoras” e “Sob Nova Direção” e os filmes “Sexo com Amor?” e “Se Eu Fosse Você”, o brasileiro acerta no tom rápido dos diálogos e brincadeiras entre o casal logo após o primeiro coito. Depois da segunda relação, é ladeira abaixo.
Os clichês se sobrepõem de tal forma que fica fácil adivinhar o que vem a seguir na próxima cena. A trilha sonora, sob a batuta do trio Rafael Righini, Noe Klabini e Lurent Mis, não ajuda. Óbvia e simples, mais parece saída do teclado que anima festas de condomínio com direito a momentos de órgão quando de uma revelação. A Rede Globo faz melhor em suas novelas.
A direção usa e abusa dos close-ups, o que favorece os rostos bonitos dos protagonistas e lembra a linguagem da telenovela. A fotografia não faz muito com a iluminação de motel e a edição sem criatividade completa o que, não fossem as estrelas da TV, passaria como trabalho de conclusão de alguma faculdade de cinema.
“Entre Lençóis” fala de relacionamentos, tema que nunca se esgota e sempre pode render formas diferentes de se contar uma história. É uma pena que essa oportunidade tenha sido desperdiçada. Se o assunto é “estranhos que se conhecem em uma noite e desenvolvem uma relação entre si”, recomendo “Incuráveis”, de 2005. Baseado em uma peça, tem no elenco a premiada Dira Paes e Fernando Eiras.