Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 31 de julho de 2008

Eu Sei Quem Me Matou

Destaque do Framboesa de Ouro, “Eu Sei Quem Me Matou” carece de boas idéias e só consegue mesmo chamar atenção pela presença da polêmica Lindsay Lohan. Sem possuir ao menos uma linha de suspense agradável, o longa (realmente longo) não vale a pena o esforço de ser assistido.

Embarcando na lista dos filmes que nem perderam tempo estreando nos cinemas brasileiros devido ao medo da distribuidora Imagem Filmes em ter prejuízo para seus cofres, o longa ganhou sete das nove indicações do Framboesa de Ouro, prêmio que destaca as piores produções de cada ano. Mesmo sabendo da insistência em prejudicar a carreira de Lindsay Lohan, os prêmios foram merecidos.

A trama escrita por Jeff Hammond enfoca a vida de Aubrey Fleming, uma garota popular que acaba sendo seqüestrada por um serial killer. Após ser seriamente torturada e mutilada, a garota é encontrada ainda com vida, porém inconsciente, por uma motorista de carro. O problema é que, após acordar do trauma, ela nega ser Aubrey, alegando que se chama Dakota Moss. O provável desvio de personalidade de Aubrey começa a chamar atenção de investigadores e da família da moça, que acredita que ela esteja vivendo como um dos personagens que escrevia em suas histórias. Porém, Dakota está ciente de que não é Aubrey e tenta provar que não está ficando louca.

O argumento inicial não é original, porém sempre há a expectativa de que alguma reviravolta possa acontecer e que faça o longa valer a pena. Com o decorrer das quase duas horas de projeção, percebemos que inovações não existem e que a solução de tudo realmente é como pensamos desde os primeiros minutos. Oras, se o diretor e o roteirista perdem tanto tempo com as cenas sensuais protagonizadas por Lohan em uma boate onde dança o estilo pole dance, é porque certamente aquilo quer dizer bem mais do que uma simples alternativa de atrair o público masculino. Após os insistentes primeiros e longos minutos de dança, somos apresentados a uma protagonista mais pacata, que não dá bola para o jardineiro da casa e tem um namoradinho na faculdade, diferente da dançarina sensual.

Partindo do pressuposto que, após as cenas ao estilo “Jogos Mortais” onde Aubrey é torturada, a protagonista assume a identidade de Dakota, não há elementos suficientes que ponham em dúvida como a história irá se desenrolar. O único argumento improvável, mas que apresenta-se completamente apelativo e de mal gosto é a forma como as coisas são justificadas, quando a protagonista acessa a Internet e assiste a um caso estranho, logo acreditando nele e tudo sendo muito fácil de acontecer. Neste meio tempo, em termos narrativos, o roteiro de Hammond até tenta criar um clima de suspense, mas não se sustenta pela falta de idéias. Para piorar, várias atitudes dos personagens são injustificáveis, deixando muitos furos e questionamentos óbvios sobre a reação deles e o enredo em geral.

O diretor Chris Sivertson também se esforça para manter um clima ameaçador, porém não é muito bom a não ser no registro de Lohan dançando sensualmente para os espectadores. Aliás, não sei de onde saiu a idéia de querer caracterizar o filme usando objetos azuis a cada frame. Tudo é azul: a flor, o copo, a roupa, a coleira do gato, o remédio, as luvas, os vidros, o paninho, a luz do celular e do ônibus. No final, isso não significa nada, a não ser a tentativa desesperada de criar uma identidade que aparece sem sentido em cena, pouco importando ao espectador. Entretanto, para não dizer que Sivertson é inteiramente desagradável em seu cargo, o diretor até consegue alguns momentos bem cruéis durante a tortura de Aubrey, mas não vai além disso.

Ao contrário do que muitos falam sobre o possível fracasso de Lohan como atriz, sou da ala que discorda. A moça tem seus problemas pessoais, porém sempre teve uma grande aceitação do público em seus filmes. Começando a carreira muito jovem, é claro que Lohan ainda tem muito a aprender, mas não é uma atriz ruim. Trabalhos como “Meninas Malvadas” e a pequena participação em “Bobby” mostram que a entrega da atriz ao personagem. Em “Eu Sei Quem Me Matou”, ela não está péssima, porém tem excesso de crença em uma história fraca.

Tanto vivendo Aubrey quanto Dakota, Lohan carrega o filme nas costas, porém não é beneficiada pela trama. É dela que muitos momentos acabam sendo menos desinteressantes. Vale ressaltar também que os méritos de uma atuação regular de Lohan são exclusivamente delas, já que Sivertson peca ao dirigir seu elenco, além de não se preocupar com o continuísmo das seqüências. Durante uma cena de sexo, por exemplo, percebemos o descuido com a roupa de baixo de Lohan, que aparece enquanto ela forja o ato sexual.

Para aqueles menos exigentes que gostam de uma história óbvia, “Eu Sei Quem Me Matou” é uma boa opção, além de esbanjar a sensualidade de Lohan durante alguns momentos dançantes em uma boate (até o dedo dela cair misteriosamente!). No mais, o filme é uma junção de vários fragmentos de outras idéias que não formam um resultado final positivo. Resta só lamentar.

Diego Benevides
@DiegoBenevides

Compartilhe

Saiba mais sobre