Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 19 de maio de 2008

Melhor Amigo da Noiva, O

Graças ao carisma de Patrick Dempsey, “O Melhor Amigo da Noiva” escapa de ser mais uma daquelas comédias românticas sem graça. Ainda assim, o filme abusa de tiradas desnecessárias e compromete uma história que poderia ter sido menos inexpressiva.

Tom (Dempsey, mais conhecido por seu papel na série “Grey’s Anatomy”) é um solteirão convicto bastante cobiçado pelas mulheres. Considerado um bom partido na selva de relacionamentos que é Nova York, ele impõe várias regras sem sentido que buscam evitar de qualquer maneira que um caso vire algo mais sério. Assombrado pela vida amorosa do pai, que está rumo ao sexto casamento com mais uma mulher com a qual não se importa, ele camufla nos casos sem o medo de amar a ponto de tornar-se dependente de alguém. Nem sequer consegue dizer a frase “eu te amo” e muito menos falar sobre o sentimento. De um outro lado, Hannah (Michelle Monaghan, de “Missão Impossível III”), sua melhor amiga há pelo menos dez anos, o incentiva a acreditar no amor enquanto diverte-se com as histórias tórridas de Tom.

Entre momentos que quase configuram um princípio de relação, os dois seguem dividindo a rotina de um casal que não é um casal: almoçam juntos, apóiam-se em momentos familiares e dividem as coisas do dia-a-dia. É só quando ela precisa viajar a trabalho e conhece alguém que parece completá-la e aí começa realmente a trama: enquanto Tom prepara-se para recebê-la na cidade de volta e contar que descobriu estar apaixonado por ela, a moça prepara-se para contar que casará com um escocês e convida o amigo para ser sua dama de honra.

Começam os problemas para Tom, e começam os problemas de uma trama fraca que tenta ressuscitar o sucesso do longa-metragem “O Casamento do Meu Melhor Amigo”. Dessa vez, quem descobre estar apaixonado pelo companheiro de anos de relação é o melhor amigo. Tentando fugir da já aproveitada trama, os escritores traçam outra linha para o roteiro: ao invés de concentrar-se em armações para separar o casal, como apostou o primeiro longa, eles colocam o personagem central em situação de fazer com que a noiva entenda que mal conhece seu pretendente, e que o homem para ela é aquele que tem feito parte de sua vida há tantos anos.

Em meio a esse discurso, a trama ficou insossa e as piadas que rodearam os personagens centrais tornam-se absolutamente desnecessárias. Como já é de praxe, para um trabalho sem grandes pretensões, está o roteirista estreante Adam Sxtykiel que se une a um profissional já acostumado a determinados vícios de escrita. No caso, Deborah Kaplan (“Sobrevivendo ao Natal”).

Na tradição das comédias românticas hollywoodianas, os melhores amigos de ambos os lados trazem como principal função de cena esclarecer conflitos dos protagonistas na tentativa desesperada de evitar a catastrófica possibilidade de o personagem cair no discurso excessivamente explicativo. Cabe a eles, inclusive, trazerem à tona momentos engraçados. Porém, grande parte das piadas nasce através dos amigos de Tom, e na maioria delas nota-se tamanha inutilidade que quase chega a constranger. Aqui, tornam-se divertidos os momentos em que por algum motivo alheio ao planejamento de cena acontece interação entre o casal principal. Nas demais, onde de longe pode ser farejada o quão forçada foi a seqüência, cabe apenas um suspiro.

A falta de diálogos divertidos, a péssima química entre os atores e a falta de bom senso em escrever uma história em que já se sabe o desenvolvimento só de conferir o trailer, configuram uma das piores safras de romances já vistos nos últimos anos. Na linha do “nada se cria e tudo se copia”, este longa-metragem aponta para algo que vem acontecendo ultimamente: tem-se criado/copiado mal.

Com tantos problemas, de alguma maneira o filme consegue arrancar alguns suspiros durante sua projeção. Explica-se: Dempsey, de alguma maneira inexplicável, é sedutor. Apesar de não ser exatamente o par perfeito para Monaghan, e não ficarem bem juntos, ambos são agradáveis. Monaghan é uma dessas atrizes que tem feito trabalhos aos montes, é encantadora – mas que ainda não mostrou a que veio. Se falta a ela coragem para escapar dos tipos tradicionais, por um outro lado Dempsey já mostrou que é nesse tipo de papel que encontra conforto e segurança. Fato é que, por algum motivo desconhecido, “O Melhor Amigo da Noiva” não é de todo descartável.

Beatriz Diogo
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