Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 12 de abril de 2008

Meu Nome é Taylor, Drillbit Taylor

Uma dupla inseparável de jovens amigos - e um terceiro elemento meio deslocado - tentam fazer sucesso em uma nova etapa de suas vidas, mas acabam trombando com toda a sorte de confusões bizarras. Pensou em "Superbad - É Hoje"? Quase acertou. O roteirista Seth Rogen, que escreveu o referido sucesso-surpresa de 2007, é um dos responsáveis pelo texto deste "Meu Nome é Taylor, Drillbit Taylor".

O produtor Judd Apatow e o roteirista Seth Rogen não possuem mais seu o elemento surpresa ao lado. Depois de estourarem com "Ligeiramente Grávidos" e "Superbad – É Hoje", todos os projetos em que os dois se envolverem agora será visto com outros olhos. Com "Meu Nome é Taylor, Drillbit Taylor" não é diferente. À primeira vista, o filme mais parece uma versão genérica do ótimo "Superbad – É Hoje". No entanto, o roteirista Rogen (aqui trabalhando em colaboração com Kristofor Brown) conseguiu dar um enfoque diferente a este novo filme, que nos remete diretamente aos saudosos anos 1980 – talvez pela colaboração na história do filme do lendário John Hughes (de "Curtindo a Vida Adoidado" e "O Clube dos Cinco").

O longa começa com os amigos Wade e T-Dog em uma situação bastante delicada: o primeiro dia de colegial começou e os dois querem parecer "legais" – algo difícil, considerando que eles acabaram indo com a mesma camisa para o colégio. Chegando lá, o franzino Wade comete o pior erro de sua vida, defendendo o deslocadíssimo Emmit do psicopat.. opa, valentão do lugar, Filkins. A partir dali, o bully e seu fiel capacho passam a fazer da missão de suas vidas atormentarem o trio das maneiras mais humilhantes possíveis. Cansados daquilo, eles resolvem contratar um guarda-costas para salvá-los do sociopata em treinamento. O problema é que os garotos escolhem os serviços de Drillbit Taylor, um desertor do exército americano que agora vive nas ruas, mendigando para viver.

A premissa do filme nos remete diretamente ao clássico oitentista "Cuidado Com Meu Guarda-Costas" – contando até com uma pequena participação de Adam Baldwin, o protetor do estudante naquele filme. Além disso, algumas cenas parecem ter sido tiradas diretamente de filmes daquela época mais ingênua, como Wade e T-Dog parando no meio de uma perseguição para tirar fotos com duas gatas que estavam tomando banho de sol. No entanto, apesar de agradar muito e divertir em vários momentos, o filme tem alguns grandes problemas.

Ao contrário de "Superbad", onde tínhamos os três protagonistas muito bem explorados pela narrativa e os dois policiais "adultos" sempre interagindo com os garotos, aqui não temos essa dinâmica entre os personagens. Isto acontece porque os três jovens possuem uma narrativa e o pseudo-adulto outra. Assim, o grande tropeço de "Meu Nome é Taylor, Drillbit Taylor" é o próprio Drillbit Taylor!

Complica a situação ainda mais o fato de Taylor ser vivido por Owen Wilson. Nada contra o ator, mas ele realmente acaba chamando muita atenção para si mesmo, desviando o foco principal do filme, que deveria ser a luta por sobrevivência dos três garotos. Apesar disso, Wilson continua sendo uma figura agradável na tela, com sua persona cinematográfica se encaixando muito bem no papel de guarda-costas malandro. O problema foi que os realizadores esqueceram que, apesar de ser um personagem-título, ele deveria ser um coadjuvante.

Sempre que o filme se foca nos garotos, as coisas ficam melhores. Wade, o mais centrado do trio, é vivido com competência por Nate Hartley. O jovem possui um quê de "normalidade" que torna fácil para o público se identificar com ele, algo primordial para sua atuação. Além disso, Wade possui um arco dramático bastante interessante, tendo um padrasto que se orgulha de ter sido um bully na juventude, contando ainda com meio-irmãos mais novos que são valentões em treinamento.

Em seguida, temos Troy Gentile, que interpreta o aspirante a rapper T-Dog. O ator-mirim já encarnou, em duas ocasiões diferentes, versões mais novas de Jack Black e não é difícil ver o porquê. Além de alguns quilinhos a mais, Gentile possui, tal como Black, certo carisma desbocado. No entanto, o seu jeito de ser aliada a sua predileção musical não o diferencia o bastante de Seth para evitar eventuais comparações com o personagem de "Superbad". Porém, a ótima química em cena entre Gentile e Hartley redime T-Dog de qualquer coisa.

No entanto, o filme não conta com algo que desequilibrou a balança em favor do sucesso do ano passado. Enquanto em 2007 o inesquecível McLovin foi a sensação entre os jovens freqüentadores de multiplexes, este "Meu Nome é Taylor, Drillbit Taylor" tem como seu terceiro elemento o apagado Emmit. Além deste não ser desenvolvido de jeito nenhum pelo roteiro, a atuação de David Dorfman (mais conhecido como o garoto de "O Chamado") é extremamente exagerada, chegando quase a dar uma conotação afetada ao personagem.

O grande vilão da fita, Filkins, não podia ter intérprete melhor. O jovem Alex Frost, que viveu um dos estudantes psicopatas de "Elefante", transforma o bully em um verdadeiro sociopata. Resguardadas as devidas proporções, Filkins está para o longa como Hannibal Lecter está para "O Silêncio dos Inocentes", conseguindo impor o terror nos corações dos jovens protagonistas e despertar alguma raiva nos espectadores, perfeito para um vilão dessa estirpe.

Vale ainda destacar a participação da linda Valerie Tian como Brooke, o interesse amoroso de Wade. Como se trata de um longa produzido por Judd Apatow, é de lei que a esposa deste, Leslie Mann, apareça em cena, vivendo a professora dos protagonistas e objeto do desejo de Drillbit Taylor. Já o diretor Steven Brill se resume a fazer o arroz-com-feijão, nada muito diferente do que poderia se esperar de uma comédia juvenil com o dedo de Apatow. Para ser sincero, considerando que Brill já cometeu coisas como o indescritível "Little Nicky – Um Diabo Diferente", cumprir com o básico já está de muito bom tamanho.

Este "Meu Nome é Taylor, Drillbit Taylor" pode não ser um clássico da comédia moderna, mas consegue manter o bom nível dos filmes de Apatow e sua trupe, divertindo o público e dando um gostinho de anos 80 para os saudosistas.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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