Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 15 de dezembro de 2007

Hitman – Assassino 47 (2007): diversão rápida e descompromissada

"Hitman - Assassino 47" já merece destaque por algo: é a primeira adaptação de um game de ação que consegue ficar, ao menos, mediano. Baseado na franquia de games da Eidos, o filme é o típico longa de ação descerebrada que, ao tentar colocar uma trama conspiratória no meio para parecer mais inteligente do que é, acaba perdendo um pouco da diversão, mas ainda é um bom entretenimento.

Encarando friamente os fatos: é praticamente zero o número de adaptações de games para o cinema que deram certo. Quando falamos de games de ação, então, o número de filmes advindos de franquias de jogos desse gênero realmente é zero, principalmente quando profissionais do calibre de Paul W.S. Anderson ou Uwe Boll estiverem envolvidos. No entanto, esta versão cinematográfica de “Hitman”, que aqui no Brasil ganhou o subtítulo “Assassino 47″, a despeito de descartável, não compromete àqueles que resolverem assisti-la.

A fita começa com uma rápida introdução de como os homens conhecidos como ‘hitmen” são criados. Crianças abandonadas de todo o mundo, sejam indesejáveis, órfãs ou bastardas, são reunidas por uma organização secreta para serem treinadas em todos os tipos de artes marciais e técnicas de assassinato existentes, tornando-se os perfeitos assassinos de aluguel para os poderosos do mundo. Eles não recebem nomes, mas sim números, marcados por um código de barra em suas nucas. Embora extremamente hábeis na arte de matar, esses homens são completamente deficientes quanto a relacionamentos sociais, o que os tornam incompletos.

O protagonista desta produção, conhecido apenas como 47 (Timothy Olyphant), é tido como o melhor profissional da organização, nunca tendo deixado de cumprir uma missão dentro dos parâmetros de seus empregadores. No entanto, ele vem sentindo a falta de um relacionamento e sua inabilidade de se ligar a quem quer que seja começa a incomodá-lo. 47 vem sendo caçado por Mike Whittier (Dougray Scott), um implacável agente da Interpol que, após passar quase três anos na busca por seu suspeito, já começa a sentir a pressão de seus superiores para largar o caso.

Ambos vão ter o curso de suas vidas completamente alterado por conta da próxima missão de 47. O alvo deste é o Presidente da Rússia, Mikhail Belicoff (Ulrich Thomsen), político moderado que vem abrindo conversações com o ocidente. Isto incomodou uma certa facção do governo local, que encomenda uma execução pública. Realizando o serviço de maneira perfeita, 47 se prepara para receber seu dinheiro e partir, mas é alertado de que não só foi visto por alguém, a bela prostituta Nika Boronina (Olga Kurylenko), mas como seu alvo continua vivo. Enquanto isso, Michael corre para a capital russa para capturar seu alvo, mas conta com a falta de colaboração do chefe da Polícia Secreta russa, o inspetor Yuri Marklov (Robert Knepper). A partir daí, todos esses personagens se vêem envoltos numa conspiração gigantesca, que só pode acabar em sangue.

O ator Timothy Olyphant continua com seu histórico de realizar bons trabalhos em filmes apenas razoáveis. Conferindo certa humanidade ao assassino de aluguel 47, vemos que, a despeito de sua profissão pouco ortodoxa, aquele homem deseja se tornar algo além de uma máquina de matar, mesmo não vendo nada errado com o trabalho que realiza. Suas ações quando está trabalhando são extremamente calculadas, tal como um homem que tivesse sido condicionado por toda a vida para executar tais tarefas agiria.

Olyphant tem alguns de seus melhores momentos na fita na companhia da estonteante Olga Kurylenko. O estranho casal formado pelo assassino e pela personagem da atriz ucraniana, Nika, é ótimo de se ver. Enquanto o primeiro jamais descobriu como lidar com pessoas normais em toda sua vida, ela sempre fora tratada como um pedaço de carne pelos homens que conheceu. Quando os dois se conhecem, ela logo se sente atraída pela sinceridade (e, por que não, inexperiência) que existe em 47, fazendo-a seduzir o protagonista, oportunidades as quais o filme não se furta em explorar os “talentos físicos” da moça.

Em contrapartida, os demais personagens do filme são tão profundos quanto um pires. Temos os vilões russos extremamente caricatos vividos pelos atores Robert Knepper e Ulrich Thomsen. Knepper vive o corrupto oficial de polícia Yuri, que adora falar em seu tom de voz ameaçador para quem quiser ouvir. Já Thomsen encarna perfeitamente o estereótipo do europeu oriental sinistro envolvido em uma conspiração. No entanto, como se trata de um filme de ação clichê, as interpretações batidas dos atores para seus manjados personagens não incomoda tanto.

O mesmo não pode se dizer do agente Mike Whittier, interpretado pelo canastrão de carteirinha Dougray Scott, que vive seu personagem sempre com um tom além do que deveria. Sem mencionar este viver com um cigarro na mão sem jamais acendê-lo. Quem consegue, em sua rápida aparição, salvar o elenco secundário é o “brotha” da série de TV “Lost”, Henry Ian Cusick. Sua divertidíssima ponta como o viciado traficante de armas Udre Belicoff é simplesmente impagável.

Apesar de possuir muitos elementos que poderiam ser bem desenvolvidos, como a carência de 47 e Nika e o relacionamento “bruto” entre os dois, bem como a misteriosa natureza da organização da qual o protagonista recebe suas ordens, o filme os deixa de lado para dar preferência às cenas de ação. Estas, embora extremamente bem realizadas, carecem de um “quê” de originalidade, com o diretor Xavier Gans se limitando apenas a seguir a fórmula dos filmes de ação modernos.

Isso não quer dizer que essas não sejam divertidas já que o público com certeza gostará da luta com espadas curtas nos trens russos e do pitoresco encontro de 47 com Udre, mas um pouco mais de originalidade não faria mal algum para Gans ao filmar as referidas seqüências. Estas são beneficiadas pela boa fotografia de Laurent Barès e pela edição da película, realizada por Carlo Rizzo e Antoine Vareille, que consegue dar à produção um ritmo adequado, não deixando que o público se aprofunde nos absurdos da sua trama. Já a trilha sonora da fita, composta por Geoff Zanelli, é apenas adequada.

Embora sirva bem aos propósitos de diversão rápida e descompromissada, “Hitman – Assassino 47” é apenas isso: entretenimento fast-food e rapidamente esquecível. Fãs do game poderão conferir tranqüilos, já que se trata de uma das raras adaptações do gênero que respeita seu original. Já os cinéfilos assistirão ao filme apenas se forem fãs do gênero ação ou para passar o tempo em alguma tarde qualquer.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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