Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 08 de dezembro de 2007

Bee Movie – A História de uma Abelha

A segunda aposta da Dreamworks para 2007 é a história de uma simpática abelha procurando justiça contra os humanos que usam o mel que as colméias produzem. Com a estética ainda prejudicada do estúdio, o roteiro consegue apenas piadas medianas e personagens divertidos.

Finalmente “Bee Movie” chega aos cinemas para consolar aqueles que passaram todo o ano esperando pela animação. Além do atrativo da poderosa equipe técnica envolvida no projeto, muito se esperava também em relação aos investimentos que a Dreamworks faria no filme, para manter ao nível de outro lançamento de 2007, “Shrek Terceiro”. A idéia original criada por Jerry Seinfeld aliada ao poderio de Steven Spielberg narra a trajetória de Barry, uma abelha recém-formada que precisa escolher a atividade que vai desempenhar durante toda a vida na colméia.

Irritado por não querer ficar restrito à produção de mel, Barry consegue sair da colméia e conhecer de perto o mundo dos humanos. Em suas desventuras, acaba sendo salvo por Vanessa, uma florista pacífica que ama a natureza. É pela dedicação da moça que Barry acaba se apaixonando, e os dois desenvolvem uma relação de cumplicidade e amizade verdadeira. Durante essas visitas ao mundo humano, Barry acaba percebendo o que os gigantes fazem com o mel produzido pelas abelhas. Então ele decide processar aqueles responsáveis por comercializar e abusar do trabalho suado que a raça de Barry passa para a produção do mel. A partir daí, homens e abelhas falantes começam a conviver com naturalidade até perceberem que uns precisam dos outros.

Há uma constante discussão sobre as animações atuais no que diz respeito ao público. Alguns acham que por criarem personagens na tela de um computador, muitas vezes infantilizados ou centrados em animaizinhos, que as animações são apenas para crianças. Outros já consideram que os estúdios devem ter uma maior preocupação também em divertir os acompanhantes dessas crianças, que também pagam ingresso. Esse debate pode ser sustentado de ambas as partes, tanto em animações mais infantis como “Os Sem Floresta” e “George, o Curioso”, até as que se destacam por um apuro maior no roteiro, como “A Noiva Cadáver” e “A Casa Monstro”. Fazer uma animação não é sinônimo de falar “criancês” para ser bem compreendido, é fazer uma história boa independente do público.

No caso de “Bee Movie”, é preciso estar com a mente infantil aberta para consumir a história positivamente. Se analisado linguisticamente e em comparação com outras animações do estúdio, como a franquia “Shrek”, a história não tem nada demais e traz somente ações e mais ações que se desenvolvem aos barrancos. Seinfeld deixa bem claro que o público que pretende atingir é mesmo o infantil. Para isso, ao lado de Barry Marde, Spike Feresten e Andy Robin, Seinfeld constrói uma trama simples e cria um universo em que as crianças tem acesso com mais naturalidade. Isso porque os extremismos do roteiro e a facilidade com que torna a trama exagerada não são artifícios positivos para o público adulto. Não que outras histórias de animais falantes sejam, mas há diferença entre seguir na mesma linha criativa à criar situações tão pretensiosas que não funcionam na tela. Ver abelhas e humanos discutindo em tribunal sinceramente não é uma boa alternativa, nem para o público infantil, que pode não compreender, nem para os adultos.

Entretanto, um recurso positivo para o ingresso valer a pena é que, em algumas situações, “Bee Movie” traz um humor realmente gostoso de presenciar. Isso a Dreamworks conseguiu por completo na história do verdão Shrek, mas deixou em falta várias vezes em outras animações que se restringiam a mensagem pacífica ao fim do filme. A relação de Barry e Vanessa é basicamente cômica, principalmente quando o roteiro faz questão de igualá-los. Eles formam uma dupla e tanto e, como era de se esperar, Vanessa rouba o carisma que podia ser apenas do protagonista. A humana divide os momentos mais engraçados, como quando fica estarrecida ao ver uma abelha falando, ou até mesmo durante a discussão dentro de uma aeronave.

Ao mesmo tempo, a direção de Steve Hickner e Simon J. Smith exploram o ambiente proposto no filme, investindo também nas ações em segundo plano. Um exemplo disso é o dublê que trabalha na colméia e está sempre fazendo testes de produtos (e se dando mal, mesmo terminando suas esquetes levantando a mão em sentido de positivo). Essas e outras fazem com que os personagens secundários valham a pena, não necessariamente tornando-se inesquecíveis como os coadjuvantes de animações já conhecidas. Os diretores acertam na construção de diversos ambientes, como a fábrica de mel na colméia e a reprodução de rosas, mas deixam a desejar na mistura destes com os personagens em cena.

É bastante notável a falta de harmonia entre a ação principal e o cenário, muitas vezes sendo opaco demais e pouco realista. Fica impossível não imaginar o encaixe de ambos na tela do computador. Outra falha dos cineastas está no que diz respeito a relação de proporção dos personagens. Muitas vezes, a câmera trabalha tão mal o universo particular das abelhas que elas mais parecem pássaros voando por um jardim do que simples abelhas. E mais: enquanto voam, mesmo “grandes”, os humanos não as percebem! Quanto aos personagens borrachudos, a expressividade fica limitada somente ao movimento das sobrancelhas e a movimentação da boca, o que prejudica em diversos momentos. O estúdio tem capacidade de evitar isso. Shrek nunca deixou de ser borrachudo, porém vemos a perfeita criação de seu gênio rabugento, bem como a graciosidade do Gato de Botas.

Mesmo não sendo uma animação cheia de acertos, “Bee Movie” revela-se uma boa pedida para as férias de final de ano. A Dreamworks constrói um exemplar aceitável para incitar a imaginação infantil, deixando os pais se divertindo mais com as reações dos filhos e piadinhas simples. Seis estrelas de diversão!

Diego Benevides
@DiegoBenevides

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