Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 17 de novembro de 2007

Deu a Louca na Cinderela

Diferentemente da boa safra de animações que já inunda as telonas há algum tempo, “Deu a Louca na Cinderela” infelizmente só tem potencial para, no máximo, divertir as ainda ingênuas e pouco exigentes crianças.

Antes de tecer qualquer comentário sobre a produção, é necessário alertar que o espectador desavisado e influenciado pela tosca tradução do título desta animação não deve esperar nenhuma semelhança entre o filme em questão e um similar do gênero, “Deu a Louca na Chapeuzinho”, lançado no Brasil no ano passado. “Deu a Louca na Cinderela” está muito aquém de seu quase gêmeo de título e de quase todas as boas animações lançadas nos últimos tempos. Com um argumento desprovido de sacadas inteligentes, este longa consegue, no máximo, entreter o público infantil.

A cada nova animação lançada fica difícil encontrar aspectos realmente destacáveis e inovadores. Isso ocorre devido ao fato de que há muito tempo esse gênero deixou de englobar meros “desenhos animados feitos para crianças”. Na verdade, o que vemos é um crescente desfile de tecnologia animada aliado a idéias atuais, criativas e repletas de referências a aspectos da “vida real”. Nessa esteira, filmes como “Shrek”, “Procurando Nemo”, “Carros”, “Happy Feet – O Pinguin” e o recente “Tá Dando Onda”, entre outros, já marcaram uma nova roupagem do gênero animação e estabeleceram padrões que vão ficando cada vez mais elevados. Nesse contexto, o espectador espera sempre mais de um novo filme de animação e se essa produção não oferece nada de destacável com relação aos aspectos citados, certamente desaponta seu público.

“Deu a Louca na Cinderela” tem, inicialmente, potencial para o desenvolvimento de uma divertida trama. Ao descobrir que existe um mago que zela pelo equilíbrio dos contos de fadas, fazendo o bem sempre vencer o mal, Frieda, a madastra da Cinderela, resolve reunir todos os vilões para destruir sua rival. Enquanto isso, Rick, um criado do castelo encantado, narra a história de seu ponto de vista e tenta conquistar o amor da borralheira. Apesar de uma boa premissa, o que acontece, no entanto, é um desenrolar decepcionante para o público acostumado com referências inteligentes. A trama acaba transcorrendo de uma forma demasiadamente pueril, como se subestimasse a capacidade de absorção até mesmo de seu público mais infantil. Fica até difícil acreditar que John H. Williams, o produtor, seja o mesmo nome por trás de “Shrek” e “Shrek 2”

A mocinha Cinderela e o príncipe bobalhão não causam empatia alguma, deixando o destaque para alguns vilões e para os assistentes do mago, duas criaturas de espécie indefinida. Eles têm a missão de cuidar para que tudo fique em ordem durante a ausência de seu chefe, mas acabam, na verdade, bagunçando todo o mundo dos contos de fadas. Até Frieda, a madrasta-vilã-protagonista, se torna irritante por estar extremamente caricaturada.

O aspecto técnico, que poderia se constituir como um ponto marcante do longa, também não se destaca, e deixa a desejar com relação ao padrão estabelecido pela animações atuais. Aliás, tudo em “Deu a Louca na Cinderela” pode não ser propriamente ruim, mas torna-se ofuscado pelos outros filmes do gênero e decepcionando o público acostumado a ser surpreendido a cada novo lançamento. No fim das contas, “Deu a Louca na Cinderela” acaba, no máximo, por entreter as crianças na platéia. Para os pais que já estavam tomando gosto pela tarefa de levar os filhos ao cinema e se divertir também com os longas de animação, resta encarar uma hora e meia de tédio.

Amanda Pontes
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