Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 10 de novembro de 2007

Antes Só Do Que Mal Casado

Trazendo o carimbo dos já veteranos irmãos Farrelly, “Antes Só Do Que Mal Casado” cumpre razoalvelmente o seu papel de comédia mediana, mas, como era de se esperar, não escapa dos clichês típicos do gênero e das piadas gastas.

A carreira de Peter e Bobby Farrelly, os irmãos que dirigem a comédia em questão, pode ser representada como um gráfico cheio de altos e baixos, em que constariam boas comédias como o já clássico “Quem Vai Ficar com Mary” e desastres como “Debi e Lóide – Dois Idiotas em Apuros”. A mais recente produção da dupla, no entanto, inicialmente se torna algo de classificar claramente devido ao fato de ser um filme relativamente bom dentro do gênero, mas se constituir algo completamente desprovido de novidades e diferenciais em relação a outras peças com a mesma proposta. “Antes Só Do Que Mal Casado” é um exemplar que prova que as comédias descartáveis americanas estão fadadas a parecer todas iguais.

Eddie Cantrow é um quarentão avesso a compromissos que, pressionado por seu pai e um amigo casado, começa a se sentir como se todos no mundo já estivessem achado seu par ideal, menos ele. Ao conhecer a bela Lila em condições um tanto curiosas, ele acaba se envolvendo e tomando a decisão de se casar com a moça para evitar que esta fosse transferida por sua empresa para outro país. Porém, o que Eddie jamais poderia prever era que na lua de mel sua doce e companheira esposa se tornaria uma mulher viciada em sexo selvagem, altamente endividada, irritantemente chata e ainda por cima com um passado sórdido de viciada em drogas. Eddie se arrepende instantaneamente do casamento, principalmente quando, ao sair pelo hotel sem a esposa, que se recusa a sair do quarto devido a uma queimadura de sol, encontra Miranda, um doce jovem que parece ser realmente seu par perfeito. O conflito está lançado e o que vemos a seguir é o desenrolar previsível desta trama regado a situações supostamente cômicas.

Partindo-se do princípio de que “Antes Só Do Que Mal Casado” é uma proposta sem maiores ambições, a comédia até que, de um modo geral, funciona razoavelmente bem. O elenco se mostra muito bem escolhido, delegando a Ben Stiller, que encarna o protagonista, a tarefa de segurar a trama auxiliado pela belíssima sueca Malin Akerman, que vive a insuportável Lila. À Michelle Monaghan (de “Missão Impossível 3”) coube a tarefa de viver a doce e meia mulher por quem Eddie se apaixona, e a atriz dá conta direitinho da não tão complicada função. Jerry Stiller, pai de Ben na vida real, repete o papel na ficção, protagonizando boas cenas cômicas.

O que chega a se destacar realmente são as cenas de comédia de situação, ou seja, aquelas em que não se provoca o humor pelos diálogos e piadas, mas sim pelo contexto em si. Exemplos disso são quando Eddie se vê preso em uma água-viva e é “auxiliado” por Miranda e Lila, ou quando o protagonista, depois de ter suas roupas e documentos queimados pela mulher raivosa, tenta voltar do México para os Estados Unidos como um imigrante ilegal, além do grupo folclórico local que chega com sua música irritante nos momentos mais inoportunos para o protagonista. Para os que, durante a primeira metade do filme, se encontravam entediados na cadeira do cinema, essas cenas fazem a ida à sala de projeção começar a valer a pena.

De resto, temos uma trama previsível e clichês que já começam a parecer essenciais às comédias descartáveis. Quem procura apenas passatempo e costuma se contentar com exemplares do gênero, entretanto, pode ir despreocupado ver “Antes Só Do Que Mal Casado”. Dentro do que se pode esperar, o filme até que não é dos piores…

Amanda Pontes
@

Compartilhe

Saiba mais sobre