Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 03 de dezembro de 2007

Noiva Perfeita, A

Esta divertida, embora previsível, comédia romântica francesa nos mostra o plano de um solteirão convicto para tirar do seu encalço sua família, que está louca para vê-lo casado, mesmo com seus protestos. Porém, como era de se esperar em um longa deste gênero, seu plano para mantê-lo na boa vida pode acabar levando-o para o caminho do famigerado "amor verdadeiro".

A sabedoria popular nos conta que não é preciso reinventar a roda para fazer algo agradável. “A Noiva Perfeita” é uma prova de como tal frase pode estar correta. A despeito de seguir uma formula de forma mais certinha que receita de bolo, esta comédia romântica francesa consegue ser mais divertida e agradável do que boa parte dos longas do gênero lançados por Hollywood nos últimos tempos.

Com um roteiro escrito por nada menos que quatro roteiristas diferentes, que trabalharam em cima de uma idéia “original” de Alain Chabat, o filme nos conta a batida trama de um homem bem-sucedido profissionalmente, mas cuja família quer vê-lo com uma vida amorosa bem definida, ao contrário dos frívolos relacionamentos no qual se mete. Daí somos levados a outro velho clichê: o do casal que mal se suporta, para depois se descobrirem apaixonados.

Sim, já vimos esse enredo em inúmeras comédias românticas. Mas, como quase tudo no cinema – e na vida –, a diferença jaz nos detalhes. Chabat vive Luís Costa, o “nariz” de uma importante fabricante de perfumes, bem remunerado e trabalhando num novo projeto. Ele é o único homem de sua família, formada por suas numerosas irmãs e chefiada por sua mãe, Geneviève (Bernadette Lafont). Já com seus 43 anos, as irmãs de Luís estão cansadas de vê-lo solteiro, principalmente a filha mais velha de Geneviève, Catherine (Véronique Barrault), que ainda tem de lavar e passar as roupas de seu irmão.

Então, elas decidem arrumar uma esposa para Luís, a despeito dos protestos deste, que morrem apenas nos ouvidos de seu melhor amigo, o pão-duro Pierre-Yves (Grégoire Oestermann). Louco para se livrar das pretendentes que pipocam sem aviso a todo momento, Luís tem a idéia de arrumar uma noiva falsa que o abandone no dia do casamento, o que o deixaria em uma “depressão profunda” a qual depois sua família jamais proferiria a palavra “casamento” perto dele. Aí entra a irmã meio “espírito livre” de Pierre-Yves, Emma (Charlotte Gainsbourg).

Emma, apesar de achar o plano de Luís uma sandice e ser completamente diferente deste (que é a organização e o metodismo encarnado), acaba concordando em participar do esquema, pois precisa de dinheiro para realizar seu sonho de adotar uma criança. Após um rápido tutorial sobre sua família, ele a apresenta como sua noiva à sua mãe e irmãs, que imediatamente a adoram. Porém, o plano de Luís, como era de se esperar, acaba saindo pela culatra, colocando-o em uma confusão maior do que ele esperava.

Como em qualquer comédia romântica que se preze, o sucesso da película está na simpatia de seus atores e na química entre os protagonistas. Felizmente, “A Noiva Perfeita” conta com um ótimo elenco, liderado por Chabat e Gainsbourg, que consegue conquistar o espectador e fazê-lo crer na louca relação que os personagens acabam se envolvendo.

Todos nós conhecemos alguém como Luís Costa. Um bon-vivant que tem alergia ao termo “relacionamento sério”. Somando essa familiaridade que naturalmente temos com o personagem ao carisma e a boa atuação de Alain Chabat, Costa acaba por ganhar a platéia, com seus vários momentos de nervosismo e planos mirabolantes. Além disso, o flashback de sua fase “The Cure” é hilário, graças à facilidade com que o ator francês abraça o ridículo daquela situação.

Já Charlotte Gainsbourg, além de bela, realmente consegue exprimir a determinação de sua personagem em se tornar mãe. Emma busca se realizar através da maternidade, sem se importar se terá um marido no pacote, enxergando em Luís, inicialmente, apenas um meio para alcançar seu objetivo. No entanto, à medida que a convivência dos dois aumenta, começa a nascer um certo carinho entre eles. E é a atriz que melhor retrata esse vínculo nascente. Em uma cena em especial, quando Emma está entrando na casa de Luís e o vê assistindo a uma certa fita sua, a reação de Gainsbourg com algo que, para sua personagem, era completamente inesperado, é perfeita. Isso faz com que o público realmente entenda o que aquilo significa para ela, criando uma ponte perfeita para uma cena mais adiante na narrativa, na qual Emma toma uma certa decisão quanto a imaturidade de Luís.

Os demais personagens, apesar de não aparecerem muito, também são deveras carismáticos. O melhor amigo e confidente de Luís, Pierre-Yves, vivido pelo ator Grégoire Oestermann, diverte o público com sua mania de economia. Wladimir Yordanoff , que vive Francis, chefe do protagonista, tem a cena mais engraçada da produção, quando fala a Luís sobre seu divórcio. Já as irmãs da família Costa não têm muito destaque na película, com a mais velha, Catherine, se destacando mais, principalmente nas cenas em que sua intérprete, Véronique Barrault, fala sobre a inépcia dos homens de sua vida, seu irmão e seu marido.

Já a veterana Bernadette Lafont diverte como a patriarca dos Costa, Geneviève, que comanda sua família do mesmo modo democrático que seu falecido marido, tal como se este fosse o G7. A atriz, nas cenas em que contracena com Gainsbourg, dá um show em especial, já parece que as duas mulheres realmente estão se divertindo com a relação entre suas personagens.

O diretor da fita, Eric Lartigau, como já dito no início deste texto, não criar moda ou revolucionar o gênero, apenas contar uma divertida e despretensiosa história, logrando êxito nisto, sempre conduzindo bem seus atores e não alongando a narrativa além do necessário. O cinematógrafo Régis Blondeau concede à película um visão agradável, com o destaque para cena em flashmack, mostrada num esquema de três cores que lembra “Sin City – A Cidade do Pecado”. Enquanto isso, o trabalho da editora Juliette Welfling jamais deixa que esta perca o ritmo, algo que seria fatal para uma comédia romântica.

“A Noiva Perfeita” é um ótimo entretenimento e diversão garantida, seja para solteirões convictos ou para casais de longa data, sendo leve e despretensioso nas medidas certas, mas sem desrespeitar a inteligência do espectador.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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