Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 27 de outubro de 2007

Tá Dando Onda

Em um contexto em que as animações se superam cada vez mais em quesitos técnicos e gráficos, as idéias começam a fazer toda a diferença para as produções que desejam se sobressair. Nesse aspecto, “Ta Dando Onda” não deixa, de maneira nenhuma, a desejar.

Quem viu o trailer de “Ta Dando Onda”, mais recente animação da Sony Pictures, pode até ter pensado que mais uma produção que traz pingüins como protagonistas (essas peculiares criaturas parecem ter virado uma boa fonte de inspiração para filmes de diversos tipos, desde a animação “Happy Feet – O Pingüim” ao documentário “A Marcha dos Pingüins”) não poderia oferecer nada de muito novo aos espectadores já tão acostumados com o gênero. Enganou-se quem formulou a opinião citada. “Ta Dando Onda” se iguala com seus filmes semelhantes em relação à parte técnica, mas se destaca pela utilização deste aparato em favor de seu argumento.

Cadu Maverick é um jovem pingüim surfista que sonha em sair de sua terra – a pouco acolhedora e gelada ilha de Frio de Janeiro, onde mora com sua mãe inexpressiva e seu irmão arrogante – e fazer nome através do esporte que tanto ama. Depois de muito persistir, acaba sendo levado para a ilha Pingu, sede de um dos maiores campeonatos de surfe do mundo dos Pingüins e lá conhece novos amigos que mostram que seus valores de competição podem estar um pouco deturpados. Ao descobrir o segredo de seu grande ídolo, o lendário Big Z, surfista falecido em uma competição, Cadu aprende boas lições sobre amizade e perseverança.

Apesar da premissa parecer um tanto usual para uma animação, começamos a notar a diferença do filme através do seu formato. O filme é apresentado como documentário sobre surfe, em que os personagens constantemente estão dando seus depoimentos sobre algo em pauta. Fazendo clara referência (ou paródia?) a produções do gênero, como “Surf Adventures”, “Ta Dando Onda” consegue fazer um brilhante jogo, reproduzindo movimentos de câmera típicos desses documentários, além da postura dos entrevistados, geralmente sem nenhuma noção de filmagem, muito menos de script. Maravilhosos depoimentos são fruto dessa característica, que representa ainda uma oportunidade de inserção de diversos personagens secundários equivalentes ao staff de um campeonato de surfe. Figuras relativas a personalidades reais também não deixam de estar presentes, como os comentaristas Kelly Slater e Rob Machado. Sim, os pingüins são homônimos dos astros do surfe da vida real e foram originalmente dublados por nada menos que os próprios.

Os demais integrante do “elenco” acabam de completar a lista de aspectos bem sucedidos de “Ta Dando Onda”. Desde um galo brasileiro que arrasa nas ondas quase “sem querer” ao produtor de eventos egocêntrico e seu assistente eficiente, mas não reconhecido. Todos encantam o público, que dificilmente se renderá ao carisma dessas criaturinhas digitais. Apesar de estar em exibição em cópias massivamente dubladas, isso não chega a ser um ponto negativo quando se trata de animações. As vozes brasileiras fazem bem seu trabalho. A trilha sonora diversificada também merece referência, trazendo músicas de primeira de bandas como “Incubus” e ”Pearl Jam”, sempre bem casadas com as cenas.

Vale ressaltar, depois de todos os comentários anteriores, que, assim como tem se tornado quase regra com as animações modernas, grande parte das referências e muitas das piadas são feitas para o entendimento dos adultos, dando ao público infantil apenas a possibilidade de uma absorção rasteira do conteúdo total do filme. Bom para os pais, que agora encaram mais alegremente a tarefa de levar os filhos para assistir “filmes infantis” no cinema. “Tá Dando Onda”, para os que estão interessados em saber de antemão, deve garantir uma boa diversão para toda a família.

Amanda Pontes
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