Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Encantada (2007): uma grande homenagem aos clássicos da Disney

Você já imaginou o que aconteceria se os personagens de seus contos de fadas favoritos ganhassem vida e aparecem diante de você aqui no mundo real? Se você nunca pensou nisso, em “Encantada” os estúdios de Walt Disney trazem a primeira princesa de carne e osso, num filme que, além de misturar animação tradicional com personagens reais, vai emocionar e encantar a crianças, jovens e adultos de todas as idades.

O mais novo conto de fadas dos estúdios Disney não poderia começar de outro jeito. A já tradicional cena do livro de histórias se abrindo dá início ao retorno da animação tradicional e logo somos apresentados a Giselle, uma bela camponesa que monta um boneco do príncipe de seus sonhos. Para ajudá-la em tal missão, seus amigos animais da floresta são convocados em busca da boca para finalizar seu grande amor. Enquanto Giselle canta em sua casa, dentro da floresta está o corajoso e valente príncipe Edward, que passa os dias lutando contra ogros, mas certo dia percebe que sua vida só terá graça quando encontrar seu grande amor. Quando escuta uma bela voz passa a procurar pela dona. Edward encontra Giselle se apaixona por ela. O casamento é já marcado para o dia seguinte.

A cruel rainha Narissa fará de tudo para que o casamento não aconteça e assim continue a comandar o reino encantado. Disfarçada como uma velha mendiga, ela leva Giselle até uma fonte mágica e empurra a futura princesa. Giselle vai para o mundo real, para ser mais exato, para a cidade de Nova York. Perdida na cidade, ela encontra o advogado Robert, que a ajuda a pedido da filha. Edward parte em busca de sua amada, enquanto Giselle começa a descobrir as novidades de Nova York, sem nunca duvidar de que Edward, seu verdadeiro amor, irá chegar para buscá-la daquele lugar tão estranho e novo.

“Encantada” é um dos mais divertidos e emocionantes filmes voltados para toda a família dos últimos tempos. O filme é um marco para os fãs de animação por ser o retorno da Disney às produções feitas com animação tradicional. O estúdio decidiu, em 2003, abandonar a produção de animados tradicionais por julgar ser uma fórmula desgastada. “Encantada” apresenta aproximadamente dez minutos de animação.

Claro que a cidade mais movimentada e conhecida dos EUA, Nova York, seria palco do conto de fadas moderno. A princesa é apresentada ao novo lugar, e percebemos o estranhamento que ela tem. A cidade é totalmente colorida e cheia de informações por todos os lados, uma grande poluição visual, o que deixa qualquer pessoa desnorteada.

Amy Adams, que vive a jovem Giselle, possui uma atuação competente. Ela consegue passar inocência e um espírito otimista, fazendo caras e bocas, se tornando uma perfeita princesa clássica do estilo Disney. A atriz Susan Sarandon, que vive a vilã na história a terrível rainha Narissa, foi usada como principal símbolo para a divulgação do filme, mas falta mais cenas para a atriz, que aparece apenas no terceiro ato do filme. Durante o resto da projeção, conferimos a personagem apenas em animação.

O ator Patrick Dempsey possui a terrível missão de cativar o público mais do que o príncipe. Tanto ele como o príncipe tem um carisma próprio, mas o grande destaque de “Encantada” é mesmo o Príncipe Edward, vivido por James Marsden. Ele e esquilo, feito por animação 3D, são os responsáveis pelas melhores piadas.

“Encantada” apresenta um total de seis canções do aclamado compositor Alan Menken (que trabalhou em trilhas de sucesso como “A Pequena Sereia” e “A Bela e a Fera”) e o letrista Stephen Schwartz (o mesmo do musical “Wicked” e do filme “Pocahontas”), ambos já tinham trabalhado juntos em “Pocahontas” e “Corcunda de Notre Dame”. A parceria para a produção de “Encantada” só trouxe benefícios ao filme, pois conseguiu trazer o espírito Disney de volta, espírito esse que há tempos estava faltando nas produções do estúdio. A canção “That’s How You Know” é a melhor do filme todo, por apresentar uma energia que te contagia e faz você querer cantar com Giselle.

Se a Disney está querendo reviver a sua grande fase, é claro que não deixaria de lado os seus famosos números musicais, com coreografias, piruetas, pessoas dançando de todos os lados. O longa-metragem se destaca pelo fato de trazer consigo a magia que consegue contagiar gerações e nunca ser esquecida.

Para um filme que traz de volta a animação tradicional aos estúdios Disney, muitos devem esperar que as melhores cenas do filme sejam animadas, ou então algum dos números musicais, mas o longa-metragem é classificado como uma comédia romântica. A cena do baile de Reis e Rainhas, próxima ao final do filme, é sim a melhor cena, e poderá entrar para a história dos filmes Disney, por toda a sua delicadeza e romantismo, um tipo de homenagem a famosa cena do baile de “A Bela e a Fera”. A cena passa a mesma sensação, emoção e beleza, mas consegue ser melhor que a de “A Bela e a Fera”, levando o espectador para dentro do baile durante alguns instantes.

Muitos devem ter reparado que os pôsteres de “Encantada”, como nos próprios trailers do filme, apresentam diversas semelhanças a animados dos estúdios Disney. Alguns poderão interpretar como falta de criatividade para uma nova história, mas verdadeiramente o estúdio está prestando um tipo de homenagem moderna aos 70 anos desde o primeiro longa-metragem Disney. Para homenagear “A Branca de Neve e os Sete Anões”, primeira animação dos estúdios, e outros filmes, a Disney colocou em “Encantada” diversas referências, algumas gritantes e outras escondidas que somente os fãs dos clássicos Disney vão ter facilidade de encontrar.

A rainha se transformar em velha mendiga para entregar a maça envenenada para Giselle, Giselle limpando o apartamento de Robert com os animais da cidade enquanto canta “Happy Working Song” (ambas de “Branca de Neve”), Giselle deixando o sapatinho cair no baile (“Cinderela”), Giselle e Robert deslizando pelo telhado do baile (“O Corcunda de Notre Dame”), o restaurante com nome de Bella Notte (“A Dama e o Vagabundo”), a canção “Parte do seu mundo” tocada instrumentalmente enquanto Giselle olha um aquário (“A Pequena Sereia”), entre outras, são alguns exemplos. Além disso, a maior homenagem feita no filme foi a escolha da atriz e veterana Julie Andrews para a narração desse conto de fadas. Ela até hoje é conhecida por sua atuação como a babá Mary Poppins, papel esse que lhe abriu portas para outros trabalhos que até hoje são lembrados e estão presentes na história do cinema.

Que “Encantada” pode ser o filme que dará início a uma nova era de ouro dos estúdios Disney, isso somente o tempo dirá. A Disney vem preparando uma nova linha de contos, que parece estar agradando muito aos fãs que acompanham há anos o estúdio. Não apenas Giselle, mas outras novas princesas serão apresentadas ao público nos próximos anos.

“Encantada”, depois de mais de 5 anos de produção, é um filme encantador, que traz de volta a magia Disney que havia sido esquecida há quase 10 anos. O filme tem sim alguns defeitos, e poderiam ter aproveitado a presença de Idina Menzel, atriz de grandes musicais da Broadway, para que ela também cantasse alguma canção no filme.

O ponto alto do longa é mesmo algumas críticas que a Disney faz aos próprios contos de fadas. Atualmente as meninas não pensam em encontrar mais o príncipe encantado. A atuação brilhante do trio James Marsden, Amy Adams e Susan Sarandon e as belíssimas canções de Alan Menken e Stephen Schwartz, que têm grandes chances de receber indicações ao Globo de Ouro e quem sabe ao Oscar, são o que fazem de “Encantada” uma bela e divertida história de amor, com muito romance, canções viciantes e números musicais dignos de um espetáculo da Broadway, se tornando a pedida das férias para pessoas de todas as idades.

Léo Francisco
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