Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 20 de outubro de 2007

Superbad – É Hoje

O que aconteceria se a fórmula mais que batida das comédias adolescentes americanas fosse tratada com uma nova roupagem e com um direcionamento fora do convencional? A respota vem em forma do filme “Superbad – É Hoje”, que se torna elogiável pela suposta originalidade, mas não consegue escapar dos pecados típicos do gênero e nem cumprir sua proposta a contento.

Quem começa a assistir a essa comédia isento de qualquer referência anterior, como, a propósito, foi o caso desta que os escreve, deve experimentar certa dificuldade em “entrar no clima” do filme. Isso porque “Superbad” não se auto-classifica, de início, em nenhuma categoria definida. Há, certamente, uma estética bem diferenciada das comédias “teen” americanas, mas a introdução dos personagens nos dá a impressão clara de estar diante de um exemplar do gênero. Após alguns minutos de projeção, no entanto, entendemos que, na verdade, há uma proposta diferente por trás da aparente superficialidade. O bem sucedido cumprimento desta proposta, no entanto, é o que permanece como uma dúvida no decorrer de toda a trama.

Seth e Evan são amigos desde a infância, mas se vêem, ao término do ensino médio, tendo que se separar devido aos diferentes rumos que suas vidas tomarão – Evan, o “moço bom”, tímido e atrapalhado, irá para uma boa faculdade, mas Seth, o obcecado por sexo e desbocado, não conseguiu o mesmo feito e irá para uma faculdade menos conceituada. “Superbad” gira em torno de uma noite memorável para os dois, que junto com Fogell, um outro amigo igualmente excêntrico, vão em busca da oportunidade de conseguir o que sempre quiseram: aceitação, popularidade e o tão sonhado sexo com as garotas a quem, até então, só podiam lançar olhares desejosos. A tal oportunidade aparece quando Jules, umas das garotas “bonitas e populares”, os convida para uma festa e pede para que levem as bebidas alcoólicas, que serão compradas com uma identidade falsa. A partir daí, a “lei de Murphy” entra em ação e tudo o que poderia dar errado, de fato, dá.

Situações realmente engraçadas não faltam no desenrolar da trama e essas se tornam ainda melhores devido ao elenco, que apesar de trazer nomes praticamente desconhecidos do público, se mostrou muito bem escolhido. Johan Hill (Seth) e Michael Cera (Evan) encarnam com firmeza os protagonistas, fazendo do estereótipo “loser” de seus personagens algo bastante convincente. Christopher Mintz-Plasse, que interpreta Fogell, chega quase a parecer um personagem de história em quadrinhos devido a sua peculiaridade e protagoniza ao lado de Bill Hader e Seth Rogen (que vivem uma dupla de policiais politicamente incorretos) as melhores cenas do longa.

Entretanto, apesar de um bom elenco e tiradas hilárias, o roteiro deixa claramente a desejar. Situações rasas são exploradas em excesso e a temática sexual, que deveria sevir apenas de elemento justificador para a empreitada dos rapazes, vai se tornando saturada ao longo da história. Por várias vezes a trama oscila em dar foco na amizade entre os dois protagonistas ou na sua obsessão em conseguir ter uma noite de sexo a qualquer custo, e essa mistura, definitivamente, não é bem sucedida. A impressão que fica é a de que os roteiristas não tiveram coragem em ousar completamente na abordagem da comédia e o resultado foi uma trama completamente indecisa, que se perdeu ainda mais com uma direção sem o pulso suficiente para tomar as rédeas e preencher as lacunas do roteiro.

O visual do filme constitui o que seria parte da inovação. Com a exibição dos créditos iniciais com um fundo retrô, assim como a própria aparência dos personagens e a trilha sonora, o filme, por vezes, nos passa uma atmosfera atemporal, diferenciado-o drasticamente das plásticas comédias que estamos acostumados a ver atualmente. O que teria potencial para fazer de “Superbad” um filme notável, no entanto, acaba sendo ofuscado pelas falhas apontadas anteriormente.

No fim das contas, o espectador deve sair do cinema meio frustrado com o que o filme poderia ser e não foi. Apesar de garantir algumas gargalhadas com as boas atuações e algumas poucas situações, o resto permanece solto e, por vezes, até mesmo enfadonho. Apesar de tudo, fica a esperança de que “Superbad” tenho sido apenas um ensaio de outros filmes que virão seguindo essa linha. Das próximas vezes, esperemos que haja um pouco mais de coerência com a proposta.

Amanda Pontes
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