Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Árido Movie

Vencedor do prêmio de Melhor Filme no Cine PE - Festival de Pernambuco, “Árido Movie” é um turbilhão de imagens que leva às telas muito da visão preconceituosa existente entre diferentes regiões do país. Seja do sudeste em relação ao nordeste, seja dos moradores da capital em relação ao interior.

Na trama, Guilherme Weber interpreta Jonas, um homem que trabalha em uma rede televisiva fazendo a previsão do tempo. Residente em São Paulo, ele precisa visitar o interior de Pernambuco quando recebe a notícia de que o pai (que nem ao menos conhecia bem) foi assassinado. Em meio a tudo isso, ele reencontra três amigos de adolescência e conhece a videomaker Soledad (vivida por Giulia Gam), que está no nordeste para filmar um documentário sobre a água no sertão.

Segundo longa-metragem do cineasta Lírio Ferreira, que havia realizado anteriormente “Baile Perfumado” em 1997, o filme foi inteiramente rodado em Pernambuco, e traz em si traços do movimento local que busca captar a maneira de ver que os nativos tinham de si mesmo. Se os paulistas chegam no nordeste e riem do que eles consideram ser falta de cultura e das gírias consideradas bregas, os burgueses recifenses fazem graça do modo interiorano dos moradores de uma cidade pequena, que consideram macaxeira como uma verdura, por exemplo.

O filme não parece ser de chamada nordestina, e sim uma crítica ao modo como o brasileiro é preconceituoso em relação a si mesmo, em diversas camadas da sociedade. O paulista que nasceu pernambucano vira o “mauricinho que caga fino”, nas palavras de um dos personagens do sertão.

O começo do longa desperta uma quase imediata curiosidade sobre o que veremos no decorrer da história, por ser extremamente interessante. A apresentação inicial dos fatos leva à pergunta de onde exatamente aquilo vai desembocar. O complicado no roteiro é que, ao chegar um pouco além da metade, a trama parece não chegar a lugar nenhum, como se o roteiro não estivesse amarrado como, a princípio, se espera. É bom por nos fazer pensar que o filme pode nos surpreender ainda mais, mas é estranhíssima a sensação de assistir algo que parece não chegar a lugar algum.

O trio de amigos formado por Selton Mello, Mariana Lima e Gustavo Falcão parece desnecessário em alguns momentos. Assim como algumas cenas entre os três surge sem fazer sentido, como a aula que o personagem de Selton Mello dá sobre como fazer um bom baseado. Eles aparecem e desaparecem da história sem mostrar qual é exatamente sua função na trama, a não ser o de trazer alguns momentos engraçados.

Filmando a seca de uma maneira muito peculiar, Lírio Ferreira adicionou ao trabalho um toque divertido e algumas vezes dramático à história. O momento em que Lázaro é assassinado talvez seja um dos melhores planos, bem como a brincadeira entre as imagens desfocadas.

Muito bem apoiado pela direção de fotografia, o longa-metragem traz uma história permeada pela cultura nordestina, as crenças e necessidades de quem vive numa cidade que parece ter parado no tempo e no espaço, e no entanto, não parece ser um filme nordestino. Não só pelo fato de grande parte dos atores não pertencerem ao local, mas por ser uma trama passível da compreensão de várias culturas. Não parece ser fechado e traz em si um quê de realidade nacional.

Beatriz Diogo
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