Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 18 de junho de 2007

Shrek Terceiro (2007): a perfeição da animação é sua maior falha

O filme prova que não é toda trilogia que acaba mal. As inovações de enredo só trazem boas notícias aos fãs do ogro verde que ganha nova companhia e novas preocupações. Por incrível que pareça a única falha é a perfeição da animação.

A terceira aventura de Shrek consegue o que poucas seqüências conseguiram: inovar. O feito é algo realmente complicado quando os personagens já são conhecidos, as piadas já foram feitas e duas histórias já foram contadas, mas “Shrek Terceiro” esquece, finalmente, o fato de que “a aparência não é importante” para explorar novos enredos.

Fiona e Shrek, assim como o Burro, sua família e o Gato de Botas, vivem em “Tão Tão Distante”, e não conseguiram voltar ao pântano desde que o rei adoeceu. Shrek agora precisa cumprir funções reais. A idéia é aceitável por ser temporária, mas quando o rei morre e pede para que Shrek permaneça em seu reino exercendo a função como seu herdeiro, o ogro não gosta nada da idéia. Shrek sabe que não pertence ao trono e sai em busca de Artur, um adolescente nerd que também tem direitos sobre as funções reais. A viagem é também uma forma de o ogro meditar sobre suas obrigações como pai que estão por vir.

Enquanto isso, o Príncipe Encantado quer o que Shrek rejeita: se tornar rei. Junto com todos os vilões dos contos de fada a vingança ruma para o castelo onde Fiona, a Rainha, Branca de Neve, Bela Adormecida e Doris, a irmã feia, esperam para defender o reino ao lado dos personagens que, mais uma vez, dão graça às cenas mais simples, o biscoito de gengibre Gigi, Pinóquio e os três porquinhos.

É de se esperar que Shrek tenha muita graça. O humor é adulto, assim como muitas das sutilezas presentes nos dois primeiros filmes, mas a animação e os personagens adoráveis deixam tudo um pouco mais infantil.

“Shrek Terceiro” é diversão garantida para a família completa. Os pais irão se identificar com o drama de Shrek ao compreender que terá obrigações como pai e experimentar as incertezas disso. As crianças vão adorar a troca de corpos entre Gato e Burro e muitas outras cenas. Personagens novos surgem para deixar a trama ainda mais engraçada. A aparição do mago Merlin é hilária e, claro, os tão esperados bebês de Shrek dão o toque de doçura que faltava na família de ogros.

Os dois primeiros filmes traziam uma trilha sonora magnífica e com a terceira parte não é diferente. Mesmo com um rock mais pesado pontuando as cenas mais movimentadas, ainda sobra espaço para notas suaves e músicas famosas, como “Live and Let Die”, em uma performance do Wings e, claro, a já tradicional participação de Eddie Murphy, dessa vez com a música “Thank You (Falletin Me Be Mice Elf Again)”.

O defeito de Shrek está, acreditem, na perfeição da animação. Os personagens humanos são incrivelmente bem feitos, mas isso os torna muito formais. O longa-metragem perdeu um pouco das cores vibrantes para ser ainda mais semelhante à realidade, enquanto os personagens perderam também a elasticidade característica das animações. Claro que o “problema” não atrapalha a diversão, mas deixa evidente a ambição dos animadores em tornarem cada vez mais palpáveis suas criações e abandonarem um pouco as origens artísticas. Animações ainda devem se parecer com animações, se fosse de outra forma seria melhor assistir a uma versão live-action de “Shrek Terceiro”.

A trilogia se completou com grande mérito e agora resta a dúvida de quantas outras histórias serão criadas para que o grande sucesso que é Shrek, Fiona, Burro e Gato de Botas continue. Por enquanto, a competência supera as falhas, mas como outras trilogias provaram no ano de 2007, quanto melhor o filme anterior, mais difícil de agradar será o próximo.

Lais Cattassini
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