Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 14 de janeiro de 2007

Mar Não Está Prá Peixe, O

Posso dizer que "O Mar Não Está Prá Peixe" superou minhas expectativas. No entanto, infelizmente, o sentido da tal afirmação é literalmente negativo. O filme conseguiu ser pior do que eu imaginava. Cansativa, entediante e muito mal feita, a animação nem de longe consegue agradar, sendo facilmente considerada uma verdadeira perda de tempo.

A história é iniciada com a apresentação de Pê, um peixinho ainda vivendo em sua infância, e seus pais. Logo no começo do filme, um acontecimento inesperado pela família faz com que Pê vire órfão, vendo-se assim "obrigado" a procurar sua tia Pérola, que mora nos recifes. A partir daí, ao se deparar com o novo lugar onde irá viver, o jovem peixe, agora já adolescente (vale ressaltar que foi uma viagem realmente demorada para encontrar os recifes, já que o crescimento e a transformação de Pê ocorrem durante a tal jornada) precisa lidar com fatos que nunca havia imaginado que aconteceriam em sua vida. Primeiro, Pê é completamente dominado por uma intensa paixão pela peixinha Cordélia, fazendo com que seu coração o mandasse conquistar imediatamente esse novo amor, o que acaba acontecendo com o desenrolar da trama. No entanto, a situação torna-se muito complicada quando o peixinho descobre sobre a existência de Troy, um temido tubarão, e seus capangas, que aterrorizam os recifes e, sendo assim, mandam e desmandam no que quiserem. Troy também mantém uma tórrida paixão por Cordélia (um tubarão e uma peixinha?!) e o tal fato torna-se um perigoso obstáculo para Pê devido as pretensões do tubarão em conquistá-la a qualquer custo. Assim, inconscientemente, ele caminha a passos largos para se tornar um verdadeiro herói, derrotando o vilão com a ajuda do sábio Sr. Tortuga, o apoio de seu primo Dylan e os pensamentos até então adversos do resto da sociedade, que acompanha atenta a preparação do jovem peixe para o confronto final.

Diversas características podem ser atribuídas ao roteiro. Definitivamente, todas elas não são animadoras de jeito nenhum. Uma história cansativa, enjoativa e que não leva a lugar nenhum é desenvolvida por idéias nada criativas e totalmente dispensáveis. Talvez fosse ingenuidade de minha parte achar que em algum momento a animação poderia ser uma "cópia" piorada de "Procurando Nemo". Apesar de não ter a intenção de comparar os dois longas, é inevitável não fazê-lo, já que nem como cópia "O Mar Não Está Prá Peixe" funcionou. O afastamento dos pais de Pê, o desenvolvimento da trama do jovem peixe ao chegar aos recifes, o relacionamento com seu grande amor Cordélia, tudo chega muito próximo ao patético, sendo difícil imaginar até que ponto até mesmo o público infantil se interessaria por tal desperdício de tempo.

Não sei muito bem como posso descrever a escassez de qualidade nos efeitos visuais do filme. Literalmente, acho que o que mais se aproxima de tamanho desastre seria uma comparação com imagens de jogos do Playstation dos mais antigos possíveis e em versões bem pioradas. Além disso, é inexplicável algumas técnicas de câmera (como por exemplo "slow motion", a popular câmera lenta) no meio de um diálogo e outros fatores que são incompreensíveis e totalmente descartáveis. Para não dizer que não fui paciente com o filme, algumas pouquíssimas tomadas que mostravam o mar feitas do céu até chegavam próximo de algo considerado "aceitável". No entanto, seria muita hipocrisia dizer que fiquei satisfeito com os efeitos artísticos, visuais, detalhes em geral e tudo que se pode imaginar no que se diz respeito ao gráfico da animação. Realmente, deixou muito a desejar e vejo com muita dificuldade encontrar aspectos positivos na tal questão.

Torno-me repetitivo e até maçante ao procurar adjetivos capazes de descrever a falta de qualidade do filme. Dessa vez, o alvo é o elenco, classificando o desempenho da equipe de dubladores na animação como, no mínimo, muito ruim. Afinal, o que esperar de uma dublagem de Tom Cavalcante, Grazielli Massafera e Felipe Dylon? Vamos então por partes. Tom Cavalcante como o tubarão Troy? Sendo sutil, o comediante beira o comum e nada acrescenta ao filme. Sendo assim, acredito que ele até tenha se saído bem perante o restante do elenco. Quanto a Grazielli Massafera, bem… É notável que a ex-BBB tenta, é esforçada para incorporar a personagem, mas não faz um trabalho digno de elogios. Não consigo deixar de ver Grazielli e não Cordélia quando as falas da personagem são ditas com sotaque interiorano, típico da atriz, e não da peixinha. Sinceramente, o cantor teen Felipe Dylon me surpreendeu. Veja bem, isso não significa que ele foi bem. Apenas não foi tão mal quanto esperava que ele fosse. Ele foi "apenas" muito mal, sem conseguir também deixar de lado o jeito "malandro" característico de sua fala para incorporar a personagem protagonista. Assim, os três "atores" conduzem o elenco de mal a pior.

Também é perceptível mais comparações esdrúxulas que são evidentes no longa. Por exemplo, repare na relação entre Sr. Tortuga e Pê. Beirando o ridículo, podemos nos deparar com algo do tipo Sr. Myagi e Daniel Larusso ou qualquer dupla do gênero "mestres e discípulos" que o caro leitor preferir. Agora imagine esse tal relacionamento totalmente desgastado e sem originalidade. Pronto? Você acaba de encontrar a definição para a dupla desta animação, que em momento algum traz idéias de criatividade ou algo do tipo. Com um desenvolvimento pífio de uma trama que beira o banal, aliado a falta de inovação para a criação de uma história inteligente e ainda personagens e efeitos visuais que só ajudam a piorar, o filme não consegue sequer proporcionar alguns bons momentos úteis dentro do cinema. Vale ainda deixar no ar uma preponderante questão: o que seriam aqueles "golpes" dentro do mar vindos do astuto Sr. Tortuga? A meu ver, no mínimo, lamentável.

Assim, fico pensando se fui muito mal humorado ao falar sobre o filme ou se ele realmente é desprezível por completo. Chego a seguinte conclusão: tal humor é decorrente de 77 minutos completamente desnecessários e cansativos. Chega até ser um fato irônico pensar que não via a hora de chegar o final do filme e, tenham certeza, não era por curiosidade pelo desfecho da trama. A palavra certa para resumir "O Mar Não Está Pra Peixes" é descartável ou algo do gênero e, para tal definição, uma estrela é suficiente para não ser totalmente injusto com os pouquíssimos momentos de senso e lucidez que a equipe técnica e parte do elenco apresentaram.

Ícaro Ripari
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