Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 09 de dezembro de 2006

Ela Dança, Eu Danço

Quando estamos andando na rua e vemos algo suspeito, simplesmente atravessamos a rua, torcemos um pouco, e seguimos com nossas vidas. Pois faça o seguinte: se vir o filme "Ela Dança, Eu Danço" por perto, simplesmente atravesse a rua e siga com sua vida.

Tem certas coisas que eu, acostumado com esse meio cinematográfico, já vejo de longe que não serão, digamos, interessantes. Seja pelo título, pelo material de divulgação ou qualquer outra coisa, quanto mais vejo, mais vontade dar de passar muito longe do filme. Foi mais ou menos isso que aconteceu com "Ela Dança, Eu Danço". A julgar pelo título em português (precisa de argumento melhor?!), qualquer pessoa em sã consciência não escolheria tal filme para se divertir, voltar feliz para casa e coisas desse tipo. Entretanto, minha teimosia é grande demais e essa, cada vez mais, só me faz "quebrar a cara". Novamente, ela aqui se encontra quebrada.

Estava aqui a pensar em uma sinopse, daí me veio à mente: filme de dança. Ora, para que explicação melhor para isso? Tente fazer um trabalho de criatividade. Pare tudo agora e pense como você escreveria um roteiro cujo tema principal é dança adolescente. Isso mesmo… tem de ter, no mínimo, um casalzinho simpático (ou que pelo menos tente ser), alguém do grupo de dança tem que quebrar alguma coisa (perna, braço, cabeça, nariz…) e, para apimentar a trama (!), algumas reviravoltas novelescas. Fechou! É isso que é "Ela Dança, Eu Danço". Nem mais nem menos.

Quanto mais o filme ia transcorrendo seu tempo, mais ele parecia com essas novelas estilo Malhação – poderia eu abrir parênteses e falar: "nada contra ela", mas abrirei para falar: "tudo contra ela" – (tudo contra ela). Todos aqueles elementos bobos para tentar cativar a atenção que essas novelinhas e alguns seriados teens usam o filme se utiliza também. A diferença é, além do menor tempo de duração, uma abordagem girando em torno da dança e de um pequenino drama entre os protagonistas, no caso são a dançarina Nora Clark (Jenna Dewan, que estaria no remake de "A Vingança dos Nerds") e o garoto sem juízo Tyler Gage (Channing Tatum, de "Coach Carter", "Ela é o Cara").

Roteiro batido, como visto. É bom para um trabalho de imaginação. Ou seja, tentar ficar adivinhando como o óbvio vai acontecer. Algumas coisas eu consegui acertar, mas as outras foram tão clichês de uma forma que nem preferi imaginar. Até os personagens secundários são usuais. Simplificando: nada no filme é autêntico.

Minto, a trilha sonora até que é autêntica, porém pelo fato de a mesma não ter sido utilizada em outro filme. Mas também, não era possível que até isso os responsáveis aproveitassem de outros longas do gênero. Não que ela seja inovadora, longe disso, mas as músicas são boas. Para quem gosta de rap, hip-hop, e essas coisas mais que eu me perco na terceira estrofe, é um ponto favorável. Outra coisa boa do filme, e parando por aí, é lá no final, já nos créditos. Ele mostra alguns vídeos caseiros de pessoas dançando para serem, ou não, aprovadas para o elenco do filme; algo à lá Big Brother Brasil. Alguns desses videozinhos são até divertidos, todavia, nada demais.

Seria covardia minha falar das atuações. O pessoal é muito ruim interpretando, mas em um filme cujo objetivo não é premiação e coisa do tipo nem vale analisar. Ora, se eles dançam bem, e realmente dançam, já é o suficiente para fazer a premissa do filme valer. Agora, se nem dançar bem o pessoal dançasse, paciência! Anne Fletcher, a diretora, é acostumada a fazer coreografia para filmes, e saiu-se bem na condução desses tipos de cena, tanto que o longa até que termina bem com a apresentação final dos protagonistas. Calma, não é nada ao estilo Whoopi Goldberg em "Mudança de Hábito" cantando "Happy Day" com as freirinhas lá; menos, bem menos!

O importante para os atores se saírem bem é terem um personagem que crie algum carisma com o público alvo. Tentando me colocar no lugar desses, até que a dupla de protagonitas se saiu bem. Se dependesse do roteiro, seriam "outros quinhentos", visto que esse não consegue nem matar um personagem direito para comover os espectadores. Outro ponto falho do roteiro é que tem ator ali que simplesmente estava para ganhar dinheiro ou coisa do tipo. Personagens totalmente sem nexo só para encher lingüiça, como Camille (Alyson Stoner, dos dois "Doze é Demais"), a irmã do Tyler.

É aconselhável que, se estiver mesmo decidido a assistir ao filme, vá de carro, porque na volta você pode estar com náuseas e vai ser difícil chegar bem em casa caso esteja de ônibus. Se não der mesmo para ir de carro, leva algum remédio, coisa do tipo. "Quem avisa amigo é", não acham? Depois podem vir me agradecer.

Raphael PH Santos
@phsantos

Compartilhe

Saiba mais sobre