Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 02 de dezembro de 2006

Pulse

"Pulse" é mais um filme de terror/suspense adolescente totalmente descartável nos cinemas. Sem conseguir prender e assustar o espectador, o longa torna-se outra opção deplorável para os apreciadores do gênero.

Em se tratando de terror, a tendência maior de Hollywood é adaptar filmes orientais desse gênero, enquadrando-o com atores americanos e dando (ou não), de certa forma, uma "remasterizada" na história. Com "Pulse" não é diferente, visto que ele é baseado em "Kairo", longa-metragem de terror japonês. O filme em questão também é marcado por outro fato absolutamente corriqueiro. Não é novidade que o mercado de produções de terror/suspense adolescente já está saturado, inovações realmente são difíceis, no entanto, ainda surgem alguns projetos interessantes e "assistíveis" desse estilo. Certos filmes não possuem sequer uma preocupação maior com muitos fatores, todavia, como conseguem atingir o seu principal objetivo, que é assustar ou deixar o espectador ansioso, são vistos como, pelo menos, mediano. Infelizmente, "Pulse" nem isso é capaz de fazer. Já perceberam a minha insatisfação em relação ao filme? Pois leiam o restante da crítica e entenderão o porquê.

A princípio, a trama é estranha e implausível (mas quem se preocupa isso, não é mesmo?). Jonathan Tucker (Josh Ockmann) é um hacker de computador que, acidentalmente, ao invadir o sistema de um colega, intercepta um sinal misterioso vindo de um mundo paralelo. O rapaz passa um tempo sumido e mudado, e é exatamente por isso que seus amigos tentam descobrir o que está ocorrendo com ele. Os universitários, ao se envolverem na história, descobrem que o sinal já citado é um vírus demoníaco que infectou, principalmente, computadores e celulares. Mas este vírus não é comum! Ele, ao "dominar" uma pessoa, aos poucos, consegue tirar toda a sua vontade de viver, levando-a, então, ao suicídio. É aí que Mattie Webber (Kristen Bell) e Dexter McCarthy (Ian Somerhalder) se juntam na tentativa de combater essa força cibernética (?).

Premissa "interessante", não? O mundo do cinema já mexeu com criaturas assustadoras dos mais diversos estilos, agora, por que não abordar uma que tenha origem na Internet? De certa forma, até que esse pensamento poderia trazer-nos bons momentos de sustos e tensão, mas, da maneira como foi administrado em "Pulse", tudo o que é capaz de disponibilizar são risadas e dúvidas. Nada, absolutamente nada, de muito assustador é visto na "pessoa" (na falta de palavra melhor, visto que não consegui descobrir o que era aquilo) advinda do perigoso vírus do computador. O diretor Jim Sonzero parece até que tenta dotar o longa de momentos tensos, no entanto, a maioria das tentativas é totalmente infundada. O cineasta não consegue prender o espectador ao filme, tornando o projeto um mero "entretenimento" chato. Confesso que, em alguns momentos, me senti envolvida com o longa, mas foram minutos tão raros que poderiam ser contados nos dedos que possuo em uma mão.

Em certas cenas, é notável que os ambientes e os atores poderiam ser melhores explorados para uma garantia maior de sucesso, mas Sonzero prefere não fazer isso. O porquê não sei, vai ver que ele pensava que o longa já estava maravilhoso! O diretor simplesmente não se arrisca em nada. O roteiro escrito por Ray Wright e Wes Craven também não ajuda. A história em si aparenta ser muito rasa. Muitas vezes parece que os personagens estão "rodando" infinitamente na trama e não sabem exatamente aonde vão chegar, ou seja, os noventa minutos (tempo que já é relativamente pouco), poderiam ter sido mais enxutos, e o filme não perderia nada com isso, pelo contrário. Por falar nos personagens, eles são todos superficiais. Até os dramas pessoais de Mattie são descartáveis. Sem contar que o roteiro simplesmente torna-se mais implausível ainda ao trazer, após um tempo, uma certa conexão da protagonista com Dexter. Levando em consideração o fato de que eles mal se conheciam, eu não acreditaria num companheirismo exacerbado daquele.

No entanto, nada do que citei até agora representa o pior aspecto deste longa. Sem dúvida nenhuma, a edição ganha de todos esses quesitos. Ela é totalmente mal trabalhada, repleta de cortes rápidos sem fundamento, tomadas de uma cena para outra como se parecesse que estivesse faltando algo. Sinceramente, é quase beirando o amador. Sem contar que nem a trilha sonora ajuda o decorrer da história! São praticamente nulas as melodias que estimulam tensão, e creio que todos saibamos que isso é bastante importante em um filme de terror/suspense.

Um dos poucos fatores que realmente gostei neste projeto foi a sua fotografia. Não que ela seja esplendorosa, mas a predominância de um visual mais "dark", com uns tons diferentes, pareceu interessante. Os atores, coitados, até tentaram desempenhar um bom trabalho, mas grande parte não conseguiu. E, por incrível que pareça, isso nem é tão importante assim, visto o restante deplorável do filme. Confesso que nutro uma certa simpatia por Kristen Bell devido ao "Veronica Mars", seriado do qual ela é protagonista. Levando em consideração a condução do diretor, que não foi das melhores, Bell não foi tão ruim ao encarnar Mattie. Nas cenas que tentou passar tensão ao espectador, a atriz até foi regular, agora, em momentos que pretendeu se apegar mais aos dramas pessoais da personagem, foi ineficaz, sem nenhuma emoção. Ian Somerhalder (o Boone do seriado "Lost"), que interpretou Dexter, mostrou presença e uma competência incubada neste projeto e só. Talvez até porque a entrada de seu personagem tenha sido um tanto quanto forçada. O restante do elenco, sinceramente, não vale nem a pena ser citado, visto que os seus papéis sequer foram explorados de uma maneira correta.

Sinceramente, dos projetos que estão atualmente em cartaz nos cinemas, "Pulse" seria uma das minhas últimas opções. Por incrível que pareça, com apenas 90 minutos de duração, o filme ainda aparenta ser duradouro! É um longa-metragem de terror/suspense adolescente que não consegue prender o espectador totalmente e mal possui sustos. Sem contar o seu final apocalíptico e forçado. Será que vem um "Pulse 2" por aí?! Tomara que não! Não assisti a "Kairo", o filme original japonês, mas espero profundamente que seja melhor do que a versão estadunidense. As duas estrelas da cotação vão, exclusivamente, para o visual que citei no decorrer da crítica e para o trabalho dos atores que, em meio a aspectos tão deploráveis, não foi totalmente ruim (e isso não quer dizer que tenha sido bom…).

Andreisa Caminha
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