Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 02 de dezembro de 2006

Um Bom Ano

Com uma trama oscilando entre mediana e fraca, "Um Bom Ano" chega confirmando que o diretor Ridley Scott talvez esteja perdendo a mão.

Ridley Scott é um nome conceituado no mercado cinematográfico de Hollywood, com uma filmografia que envolve grandes títulos como "Gladiador" e outros filmes menores, mas não menos aclamados como "Thelma e Louise". As últimas produções de Scott, entretanto, começam a dar sinal de que o diretor já não está na perfeita forma de antes. O épico "Cruzada", de 2001, não arrancou da crítica reações empolgadas e o mesmo deve acontecer com o recém-chegado no Brasil "Um Bom Ano", protagonizado por Russell Crowe. Não se pode dizer que o filme seja exatamente ruim, talvez "fraco" possa o definir melhor. Contudo, o que agrava a avaliação é o fato de se esperar bem mais de uma produção sustentada no nome de Ridley Scott.

A primeira premissa de que estamos diante de um roteiro mediano se dá logo no início da projeção. O espectador com o mínimo de astúcia já prevê o final apenas de dar uma olhada na sinopse. Dessa forma, é bastante difícil inserir elementos que provoquem o constante interesse do público. Adaptada do romance homônimo do escritor Peter Mayle, a história deixa a impressão que poderia ter sido melhor escolhida. O fato da mediocridade do roteiro chamar atenção – repito – acentua-se pelo filme ser dirigido por Ridley Scott, mas, passado o espanto inicial, podemos começar a analisar o longa dentro do que ele se propõe a oferecer.

Max Skinner foi um garoto cuja infância foi marcada pela forte presença do tio e o adorável período que passou em sua casa, uma espécie de propriedade vinícola na França. Após crescer e virar um ambicioso banqueiro e especulador financeiro, Max se depara com a notícia da morte de seu tio, com quem não falava há mais de 10 anos, e com a herança de sua casa, para a qual ele retorna para decidir o que fazer com a propriedade. A partir daí tudo o que acontece já é de se esperar e pode ser dito aqui sem o mínimo medo de gerar um spoiler: Max, aos poucos, resgata seus velhos valores e lembranças adormecidas na casa e transforma esse episódio em uma mudança em sua vazia vida. Para completar, um verdadeiro amor também dá aquela ajudinha no processo.

Ok, a história não é exatamente uma catástrofe completa, mas já reduz em muito o público que irá realmente apreciar a película. O maior ponto negativo da trama, no entanto, não é o roteiro propriamente dito, mas o fato de ele ter sido conduzido de uma maneira pouco empolgante. São raros os momentos em que a história arranca alguma emoção relevante do espectador e em se tratando de um drama isso é de se preocupar. Durante a projeção é bem mais fácil identificar leves risinhos decorrentes de alguma boas cenas cômicas do que algum envolvimento do espectador com o suposto drama do protagonista.

Entretanto, como a falta de atrativos do roteiro já foi bastante exposta aqui, passemos a algo que mereça elogios no longa: o elenco. Russell Crowe está realmente bem, parecendo não ter sentido dificuldades em transpor toda a arrogância e egocentrismo que exibe na vida real para o seu personagem. Albert Finney, que interpreta o tio e é figurinha recorrente em constantes flashbacks, também exibe uma atuação bastante competente. Os atores que interpretam a família Duflot são, sem dúvida, os responsáveis pelos melhores momentos do filme, e o pequeno Freddie Highmore, mais conhecido por seus papéis em "Em Busca da Terra do Nunca" e "A Fantástica Fábrica de Chocolate", mostra mais uma vez que sua pouca idade não é empecilho para seu talento. As figuras femininas, interpretadas pela francesa Marion Cotillard e Abbie Cornish, completam o time bem sucedido como um todo.

A trilha sonora também é destacável, com melodias tipicamente francesas, misturadas com ritmos peculiares como a rumba, ajudando a construir a atmosfera estrangeira e campestre em contraste com a vida do protagonista na agitada Londres.

Enfim, quem vai esperando muito de "Um Bom Ano" por ver o nome de Ridley Scott nos créditos certamente sairá com um gostinho de decepção do cinema. Porém, quem se contenta com uma trama previsível, pode dar uma chance à produção.

Amanda Pontes
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