Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 02 de dezembro de 2006

Pulse

Com uma temática um tanto irreal, mas ainda assim tenebrosa, "Pulse" consegue trazer algumas imagens verdadeiramente assustadoras, que lembram muito os trailers do jogo "Silent Hill 4", embora não consiga manter o estilo do jogo, pelo menos se sai um pouco melhor do que outros filmes de terror adolescente que estão em cartaz.

Imagine que a sua Internet agora passa a ser um portal para um mundo assustador repleto de fantasmas (que no espiritismo podem ser chamados obsessores) que, uma vez aberto, não consegue mais ser fechado. E que eles utilizam-se dos meios de comunicação que você normalmente usa como o rádio, a televisão, a Internet e os celulares como forma para encontrar-nos. Irreal, mas de certa forma assustador, não é? É essa, basicamente, a história do longa-metragem que chega nesta sexta-feira nos cinemas.

Seguindo a nova tendência (e porque não dizer mania) de Hollywood de criar sua própria versão dos filmes de terror japoneses (que agora também atingiu o Brasil com a sua própria versão em breve do "Se Eu Fosse Você"), "Pulse" é também uma adaptação do filme "Kairo", de 2001. Claro, como não poderia deixar de ser, a imagem mais limpa, e cenário nada assustador dos japoneses (como também era o caso de "O Chamado"), passam a ser muito mais obscuros na versão americana e acerta nesse ponto. A direção de Jim Sonzero dá um aspecto na iluminação sempre em um tom azulado (a idéia de que a iluminação está sempre afetada pela luz de uma televisão), o que aumenta o sentimento de insegurança no espectador, já que os espíritos chegam através dos meios de comunicação. Sonzero também merece méritos por criar imagens assustadoras, mesmo utilizando os velhos ângulos e movimentos para dar vida aos fantasmas. Com isso ele cria algumas bizarrices que realmente farão algumas pessoas se encolherem na cadeira, como no caso da mulher que sai das sombras ou o fantasma na máquina de lavar. Também palmas para novos ângulos de câmeras e a ousadia de mostrar um suicídio sem cortes, o que acaba causando o impacto na medida certa no espectador. Claro que não se pode deixar de falar dos velhos clichês, mas mesmo eles não são tão fortes e acabam por passar de certa forma batidos diante das inovações que Sonzero traz ao filme.

Infelizmente a capacidade do diretor não foi suficiente para ofuscar a má adaptação do projeto (ou quem sabe a história mesmo do filme, já que admito não ter visto o original japonês). A história possui grandes furos e acaba por não conseguir explicar muito bem, nem mesmo dar uma idéia de urgência para o espectador, que de uma hora para outra é obrigado a aceitar certos fatos do filme, que, mesmo com as imagens criadas por Sonzero, Ray Wright (estreante no cargo) e Wes Craven (roteirista de "A Hora do Pesadelo") não conseguiram transpor para a adaptação. E isso acabou por afetar os personagens do filmes, alguns mal explorados pelo roteiro, estão ali simplesmente de passagem, embora, graças a Deus, Sonzero tenha tido o bom senso de não torná-los somente personagens coadjuvantes que devem morrer ao longo do filme.

Com personagens tão rasos e sem muita funcionalidade durante o projeto, todo o elenco simplesmente ficou de mãos atadas, embora consiga se distinguir visivelmente quem é realmente ator e quem não é. Palmas para Ron Rafkin (do seriado "Alias"), que, mesmo tendo um papel reduzido e que parece meio sem sentido, consegue dar ao menos um pouco de veracidade ao psicólogo que interpreta. Claro, levando nas costas o filme, Kirsten Bell, mais conhecida pela série "Veronica Mars" (exibida pelo Canal TNT aqui no Brasil pela TV por assinatura), consegue, mesmo sem muito que fazer, criar um vínculo entre a sua personagem e o espectador, que no fim das contas aceita sua atuação mais pela simpatia da atriz, do que pelo seu trabalho no filme. Entenda, não é culpa dela, aliás, essa garota pode ser uma excelente atriz nas mãos certas, mas a culpa é do roteiro. Ian Somerhalder parece destoar do resto do elenco, e, novamente, mais um personagem sem ser trabalhado, acabamos por aceitá-lo também mais por sua presença em cena do que por qualquer outro motivo. Infelizmente o resto do elenco passa batido no filme.

A trilha, também consegue ajudar, quando ela não resolve cair no senso comum de empurrar um "rock-feito-para-cenas-depois-de-alguma-morte". É incrível como Elia Cmiral decaiu um pouco de qualidade, tendo feito trabalhos tão excelentes como em "Stigmata" em 1999, aliás, um compositor especialista em filmes de terror, já que, em toda a sua carreira de compositor, a grande maioria dos seus trabalhos foi para filmes do gênero.

Impressionando mais pelas imagens do que pelo contexto em si, e que infelizmente muitos não gostarão do final do filme, que parece ser meio forçado e deixa em aberto para uma possível continuação (ô novidade!), "Pulse" pelo menos se mostra muito mais interessante do que alguns filmes que chegaram ultimamente pelo Brasil. Vale a pena dar uma conferida, para aqueles que gostam de terror, caso não haja nenhuma opção a mais.

Leonardo Heffer
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