Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 03 de novembro de 2006

Jogos Mortais 3 (2006): nada é o que parece e nem o que prometia

"Jogos Mortais 3" chega com a missão de suprir as grandes expectativas de milhares de fãs da série. O que vemos, no entanto, é uma trama que, comparada às outras duas, torna-se apenas mediana e um show de imagens propositalmente chocantes.

É muito difícil superar um grande sucesso. Principalmente se esse sucesso tiver surgido de onde ninguém realmente esperava. Foi assim com “Jogos Mortais” – primeiro filme da série que já conta com 3 produções lançadas e outra em andamento –, que pensávamos ser um suspense como outro qualquer, mas conseguiu trazer algo surpreendente, uma trama interessante e saiu do quase anonimato para virar um grande título do gênero. Logo em seguida, na esteira do sucesso, veio “Jogos Mortais 2” que, igualmente mirabolante, confirmou a boa aceitação da franquia e consolidou o apreço dos fãs. O que aconteceu, no entanto, é que ficou cada vez mais difícil se superar dentro da história do sádico Jigsaw e, conseqüentemente, uma nova trama que viesse a continuar as outras duas teria que trazer elementos no mínimo surpreendentes para manter o padrão da saga. “Jogos Mortais 3”, apesar de ser um bom filme se analisado isoladamente, dentro do conjunto de filmes de que faz parte demonstra indícios de que a fonte de idéias inusitadas do roteirista esteja secando.

Depois de ter bolado um plano genial e completamente inusitado na primeira história e de ter contado com sua seguidora, a desequilibrada Amanda, para lhe ajudar a dar continuidade aos seus jogos psicóticos no segundo filme, John Kramer ou simplesmente Jigsaw parece não desistir de brincar sadicamente com as pessoas, mesmo estando ele próprio à beira da morte. Dessa vez, o alvo principal é Jeff, um pai de família cuja vida passou a se traduzir num doentio desejo de vingança depois que seu filho foi morto por atropelamento e o responsável pelo crime recebeu uma pena irrisória. Sempre disposto a oferecer às pessoas uma “chance de dar valor à vida”, Jigsaw faz com que Jeff passe por uma série de cruéis situações em que se depara com as pessoas as quais passou boa parte de sua vida odiando. Enquanto isso, a médica Lynn é feita de refém pelo cruel vilão com o intuito de fazê-la tratá-lo de sua fatal doença, com a ameaça de que, se ele morrer, ela morre também.

Para os que assistiram aos dois filmes anteriores da franquia, um padrão já começa a se estabelecer e ser facilmente identificado: nada é o que parece. A partir daí, sabemos que há algo por trás de todas as ações dos personagens manipuladores do “jogo” e surpresas são esperadas. Partindo desse princípio, o que podemos esperar é uma reviravolta que surpreenda todas as nossas especulações e isso, de fato, não chega exatamente a acontecer. Não digo que o filme tenha se tornado previsível, mas, dentre todas as possibilidades de revelação para o desfecho, foi escolhida uma que não chegou exatamente a causar um impacto nos espectadores já familiarizados com “Jogos Mortais”.

Se por um lado a história parece não trazer novidades extraordinárias, o aspecto visual está, dessa vez, mais impactante do que nunca. A estratégia de nunca mostrar imagens chocantes de maneira completamente explícita, usando sempre movimentos de câmera rápidos ou ângulos pouco reveladores, se mostra bastante eficiente. Dessa forma, muito do que se vê é na verdade formado pela imaginação do próprio espectador e não do que é realmente mostrado. Além disso, esse terceiro longa da série traz situações bastante bizarras, agradando certamente os fãs de imagens chocantes em filmes de terror.

O elenco, como tem sido desde o início, é composto basicamente de rostos desconhecidos do grande público, à exceção do próprio Jigsaw e sua assistente Amanda, que a esta altura já se tornaram figurinhas carimbadas. A dupla, interpretada por Tobin Bell e Shawnee Smith, se mostra novamente no domínio de seus personagens. Angus Macfadyen, que vive Jeff, e Bahar Soomekh, no papel de Lynn, também são bons acréscimos ao time.

No mais, a boa trilha incidental, bem colocada, contribui extremamente para os momentos tensos do filme que, devo dizer, não são poucos. Se você é do tipo que gosta de aliviar seu lado patológico em um bom filme de terror, essa é a pedida. Apesar de não exercer no público fã o mesmo impacto dos dois filmes anteriores, “Jogos Mortais 3” não chega a decepcionar. No máximo, chegamos à conclusão de que o já confirmado quarto filme da série (foi deixado um gancho explícito ao fim da história) talvez não devesse ser produzido. Os bons sabem se retirar enquanto ainda estão no auge.

Amanda Pontes
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