Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Matrix Reloaded

Apesar de chegar com a grande responsabilidade de suprir as expectativas dos fãs de um filme já consagrado como clássico da ficção científica, "Matrix Reloaded" consegue inovar onde não se esperava ser possível e firma a qualidade da saga.

Quando "Matrix" foi lançado, em 1999, surgiu inicialmente como mais um filme de ficção científica, mais uma produção do gênero, sem pretensões mais ousadas. No entanto, aos poucos, a produção foi ganhando notoriedade e destaque. Uma verdadeira legião de fãs da saga surgiu, lançando várias interpretações da trama, usando várias referências para comentar o enredo e os personagens. Gradativamente, "Matrix" foi se tornando um fenômeno, dando origem a listas de discussão, sendo motivo de debates, gerando material em outras mídias como jogos e a própria Internet. As inovações em termos de roteiro e imagem passaram a ser referências. Enfim, tudo conspirava para que houvesse uma continuação do filme, uma nova oportunidade de explorar pontos deixados à superfície na primeira produção e foi nessa atmosfera de expectativa que, em 2003, foi lançado "Matrix Reloaded", segundo filme da trama que viria a se tornar uma trilogia.

Dessa vez, os humanos da resistência continuam lutando contra o domínio das máquinas, que fecham cada vez mais o cerco e ameaçam acabar com a cidade de Zion. Enquanto isso, o Chaveiro, um ser que possui as chaves para todos os caminhos da Matrix, precisa ser achado por Neo, mas encontra-se sob o domínio de Merovingian, um programa mercenário, cujos únicos interesses são os seus próprios. Para completar, o bom e velho agente Smith, dessa vez inesperadamente mais poderoso, volta a infernizar a vida do escolhido. É importante saber que para se situar na trama de "Matrix Reloaded" é preciso ter uma compreensão satisfatória do primeiro filme. A história, que não era das mais simples, só tende a ficar cada vez mais complexa e, conseqüentemente, mais interessante.

Um dos pontos mais comentados sobre a continuação do longa de 1999 foi o fato de ter se tornado muito difícil inovar em cima de um filme que tinha causado tamanho impacto no público. Enganou-se quem subestimou "Matrix Reloaded" nesse aspecto. Não apenas foi explorado um gancho na história de forma a tornar o enredo cada vez mais envolvente, como o aspecto visual voltou a impressionar quem pensava já ter visto tudo em matéria de efeitos especiais. Assim como no primeiro filme, que tornou memorável a cena do protagonista desviando de balas, vemos novamente cenas marcantes como a perseguição na estrada e o ataque massivo de clones do maquiavélico Agente Smith contra Neo.

A adição de novos personagens também marcou um ponto positivo para o longa, assim como o aprofundamento nas histórias de figuras-chave da trama como Morpheus e o próprio Neo. Niobe, comandante de outra nave humana, surge como uma referência de envolvimento amoroso para Morpheus, ao mesmo tempo em que o romance de Neo e Trinity é bem mais explorado – para a alegria dos fãs mais sentimentais. Um trunfo de "Matrix Reloaded" é ter todos os elementos de roteiro apresentados em medidas certas, tornado-o interessante para tipos de público diferentes.

Outro aspecto destacável foi a crescente importância do vilão Agente Smith, magistralmente interpretado pelo ator Hugo Weaving. A princípio apresentado apenas como uma das forças antagonistas da história, Smith ganhou mais espaço e poder na trama, a ponto de virar ameaça até mesmo para as máquinas que o criaram. Weaving, que desde o primeiro filme vinha se mostrando completamente no domínio do personagem, continua dando conta da enorme importância que ganhou nessa segunda produção. Sua construção já faz do Agente Smith um dos mais terríveis vilões do cinema, digno de entrar no time de personagens memoráveis.

O resto do elenco também continua se mostrando competente. A tríade principal, formada pelos personagens Morpheus, Neo e Trinity, agora passa a disputar espaço com novas figuras como Niobe, interpretada por Jada Pinkett-Smith, que arrancou elogios por sua performance. Os papéis menores, mas não menos relevantes, também encontraram seus intérpretes na medida certa, como o casal Merovingian e Persephone (interpretados pelo francês Lambert Wilson e pela bela italiana Monica Bellucci) e o chaveiro (vivido por Randall Duk Kim). Vale salientar que, assim como no primeiro longa, continua existindo toda uma simbologia por trás dos nomes dos personagens e suas funções na trama. Isso é apenas mais um detalhe que faz da história de Matrix algo tão difícil de ser totalmente compreendida.

Enfim, trazendo um show visual e uma trama fantástica, "Matrix Reloaded" apenas confirma a qualidade da série, consolidando os antigos fãs e arrebatando outros tantos novos. Escapando da maldição de ser uma continuação mal sucedida, esse filme impressiona os que pensaram que os irmãos Wachowski não conseguiriam manter o padrão estabelecido por "Matrix”.

Amanda Pontes
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