Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 15 de outubro de 2006

O Grito 2

Perdendo o fator surpresa e tentando mais uma vez utilizar-se do estilo do filme anterior de embaralhar a história, "O Grito 2" se torna muito mais chato, sem sustos, e sem nenhuma novidade, caindo no marasmo e se tornando muito mais longo do que deveria ser.

O que fazer em um filme que não há muito o que ser explorado, principalmente quando a capacidade para escrever um roteiro é tão limitada? A nova história do filme, como no primeiro, vem dividida por três núcleos diferentes, que o diretor novamente resolve embaralhar para não se preocupar com quão ridícula a história é realmente. Um núcleo se resume a três jovens em um colégio no Japão, onde uma delas quer de uma forma ou de outra se enturmar com as meninas descoladas da escola. Para passar no teste, ela tem que entrar no armário no quarto de Kayako (o espírito mau do filme). Outro núcleo é o de Aubrey Davis, irmã de Karen Davis, a personagem que sobreviveu ao primeiro filme, que vai dos Estados Unidos ao Japão para trazer sua irmã, com a qual não fala já há tempos. O terceiro núcleo, e, até certo momento, o mais desligado do filme, gira em torno de um garoto que não está gostando da situação do pai estar trazendo para casa uma nova mulher, e, além disso, acha estranho o novo inquilino que veio morar junto com seus vizinhos, que costuma bater na parede do quarto do garoto durante a noite e que de alguma forma está afetando a sua família.

Claro, esses três núcleos estão embaralhados de forma não cronológica, e para justamente fazer com que o espectador ache que o filme é muito bem elaborado, Takashi Shimizu não faz questão de colocar avisos que diferencie a cronologia do filme, fazendo com que o espectador só diferencie os três núcleos, mas não sua ordem cronológica. Infelizmente Takashi Shimizu não consegue acertar nesse filme tanto como ele fez no primeiro filme (que também não é lá grande coisa). Na verdade, se torna até irritante e confuso, fazendo que inclusive o espectador consiga perder detalhes que em alguns pontos podem até ser importantes para a trama. Aliás, “O Grito 2” é a prova que Takashi Shimizu não é e nem nunca foi um diretor digno do uso dessa palavra, já que o homem ainda vive da fama da sua trilogia no Japão, logo transformada para versões americanizadas, e para não correr o risco de ficar desempregado, Shimizu agora irá transformar a versão americana de “O Grito” em um novo filme no Japão.

O filme também não consegue ser tão assustador como o primeiro filme. Claro que nesse terão os mais assustados que irão pular na cadeira, dar alguns gritos, mas o filme simplesmente não consegue assustar, até mesmo porque cai no comum e fica até bem previsível de saber quando Kayako ou Toshio (que não sei por quê cisma em fazer barulho de gato ao abrir a boca. E Adiciono aqui, que o leitor Guilherme, me encaminhou um E-mail dizendo que na cultura japonesa existe um mito, sobre gatos e crianças…onde se tornam um só depois da morte. Valeu Guilherme!) aparecem. Inclusive o diretor perde a chance de ao menos tentar assustar e não cai no comum de fazer os personagens com movimentos rápidos ou bruscos. Na verdade, existem tais movimentos, mas são poucos usados no filme. O roteiro, provando que não há história nova, traz o segmento das alunas, já citado acima, que faz parte ainda do primeiro filme no original japonês. Infelizmente o diretor consegue ser incompetente o suficiente para não ver que os personagens de seus filmes poderiam ser muito mais complexos e que somente uma história já serviria para um filme inteiro, mas os seus personagens só servem para uma coisa: estarem ali na hora que ele achar que eles devem morrer, sem na verdade possuírem uma existência, mas sim servirem como desculpa para uma história.

O filme que poderia ganhar pontos no elenco, como foi no caso do primeiro filme com a Sarah Michelle Gellar, neste perde com o elenco, que, mesmo que se esforce, e está claro que Amber Tamblyn se esforça e muito, não consegue ganhar simpatia do público, que fica apático ao destino de cada um, a não ser do garoto do terceiro núcleo, que, aliás, acredito que só ganhe simpatia porque, geralmente, ninguém quer ver crianças ou idosos se machucando em filmes.

O filme termina de forma estranha, passando batido em muitos detalhes, e deixa claro uma possível abertura, assim como no primeiro, para um terceiro filme, que se Deus quiser, não irá vir. A trilha sonora também é um elemento batido e chega a passar desapercebida, não conseguindo nem ao menos marcar com algum tema marcante ou algo do gênero.

Uma verdadeira perda de dinheiro e tempo.

Leonardo Heffer
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