Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Tomates Verdes Fritos

Um filme simples, mas que encanta com sua simplicidade. "Tomates Verdes Fritos" traz uma história sutil sobre amor e amizade, contada de uma forma bastante atraente. No entanto, nem todo tipo de público se deixará envolver pela produção.

"Filme para mulheres". Esse é um rótulo que sempre despertou minha antipatia pessoal, uma classificação que não existe propriamente, mas que engloba diversas produções que não são facilmente compreendidas e apreciadas pelo público em geral. Nesse caso, a produção exigiria a tal "sensibilidade feminina" para ser melhor compreendida e apenas as mulheres seriam passivas de encantamento diante de tal história. "Tomates Verdes Fritos" seria um exemplar da espécie e por isso muitos podem não concordar ou ainda não compreender o que está escrito aqui em termos de análise geral da produção. O que difere as diferentes impressões sobre o filme, no entanto, não é a "visão feminina" da obra, mas sim os referenciais de cada um ao assisti-la.

A história – repito – é bastante simples, sem reviravoltas surpreendentes ou tramas paralelas mirabolantes. Tudo começa quando Evelyn Couch, uma esposa dedicada que vive de tentar apimentar seu morno casamento com aulas especializadas, acompanha o marido em uma visita à tia que mora em um asilo. Por não ser bem recebida pela antipática velhinha, Evelyn passa essas ocasiões na sala de espera e é lá que conhece Ninny Threadgoode, uma senhora simpática que começa a lhe contar a história de amor e amizade entre duas mulheres. Não é uma trama explícita ou chocante, muito menos uma apologia direta ao homossexualismo, já que esse aspecto fica apenas subentendido. É, acima de tudo, uma história de amor, que, assim como todas as outras, passa por momentos difíceis e alegrias recompensadoras.

Ao mesmo tempo em que o enfoque começa a ser dado nos personagens de Evelyn e Ninny, a trama principal logo migra para a história das duas mulheres, Idgie e Ruth. A primeira sempre foi uma menina com ares de rebeldia e só ouvia seu irmão mais velho, Buddy, que morre em um trágico atropelamento de trem. Após o acidente, Idgie se torna ainda mais arredia, mas Ruth, que era namorada de Buddy, após algum tempo, passa a tentar se aproximar da garota a pedido de sua mãe, que deseja que a filha se comporte como as outras moças decentes e de família.

O trunfo do filme, para quem assistiu e pode perceber, está no fato de desenvolver a história de uma forma bastante sutil. Independente do tipo de relação que Ruth e Idgie constróem, a ênfase é dada apenas ao sentimento que as une. Até mesmo a antipatia que as duas mulheres despertam em habitantes mais conservadores da cidade não está ligada ao fato das duas estarem juntas, mas sim por elas tratarem com igualdade todos os excluídos da sociedade de então.

Nem fotografia extraordinária, nem trilha sonora espetacular ou até mesmo uma direção primorosa. Não que esses aspectos não estejam bastante bem coordenados, mas o que detém a atenção, independente de outras coisas, é mesmo a trama propriamente dita. Assim como o personagem de Evelyn, nos vemos cada vez mais envolvidos na história de Ruth e Idgie, sempre querendo saber o que mais aconteceu.

A responsabilidade por tornar os personagens envolventes coube perfeitamente às atrizes escaladas para viverem as protagonistas. Mary Stuart Masterson, apesar de permanecer até hoje um talento desconhecido do grande público, dá vida lindamente à Idgie e Mary-Louise Parker constrói uma Ruth complexa, simultaneamente forte e extremamente frágil. As veteranas Kathy Bates e Jessica Tandy dispensam defesas. A elas, inclusive, coube a maioria das indicações a prêmios levadas pelo filme – Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante (Jessica Tandy), Globo de Ouro de Melhor Atriz – Comédia/Musical (Kathy Bates) e Melhor Atriz Coadjuvante (Jessica Tandy) e BAFTA, nas categorias de Melhor Atriz (Jessica Tandy) e Melhor Atriz Coadjuvante (Kathy Bates).

Enfim, a defesa do filme está feita. Certamente muitos concordarão comigo e outros tantos não farão o mesmo. Para os que souberem apreciar o filme, é uma excelente pedida. Ao resto, sempre restam inúmeras outras opções.

Amanda Pontes
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