Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 08 de julho de 2006

Paixão de Aluguel

Surpresas. Nunca ouvi alguém dizer que não gosta de surpreender-se positivamente, principalmente por coisas pelas quais você não dava muito crédito. Paixão de Aluguel (The Perfect Man/2005) é uma intrigante caixinha de surpresas.

Nos primeiros minutos de filme, você fica seriamente tentado a desligar a televisão e destinar suas energias para algo mais produtivo. Afinal, que roteiro nonsense é esse? Mesmo para quem está acostumado às doçuras e travessuras das comédias românticas, aquilo é um pouquinho demais. Mas espere um pouco! Chame o Decon! Paixão de Aluguel não é o que a embalagem vende.

O principal responsável por esse equívoco é o próprio título escolhido para a versão brasileira. “Paixão de Aluguel” está longe de traduzir a verdadeira essência do filme e acaba conduzindo o espectador a um prejulgamento equivocado. Uma tradução literal do título teria sido uma escolha mais acertada, tendo em vista que o filme narra a busca do homem sem defeitos, ou o mito do príncipe encantado e do felizes para sempre.

Escrito pelos estreantes Michael McQuown e Heather Robinson e dirigido por Mark Rosman, Paixão de Aluguel não é apenas um romance. O tema central aborda a difícil relação entre pais e filhos; de como nos escondemos atrás desses papéis e esquecemos, talvez por conta da rotina massacrante, que aquela pessoa que lhe enfia remédio goela abaixo, que lhe toca para escola, que lhe alerta sobre o uso de computadores em detrimento dos estudos, é também uma pessoa que carrega consigo anseios, medos, desejos, frustrações e esperanças. Não que seja um filme de auto-ajuda. Esse tipo de produção não permite um aprofundamento dessa natureza. Mas surpreende quem assiste com um tema inesperado, tratado de maneira simpática e conduzido com habilidade.

Mark Rosman já havia dirigido Hilary Duff em A Nova Cinderela e Lizzie McGuire e soube aproveitar de forma satisfatória o talento limitado da atriz-cantora. Hilary é Holly Hamilton, filha mais velha de Jean (Heather Locklear) e garota revoltada com a vida de cigana que a mãe a obriga a levar. Até um blog Holly cria para dividir suas desventuras com outros internautas igualmente insatisfeitos. A caixinha de surpresas começa a ser aberta quando Holly decide inventar um admirador secreto para a mãe. O objetivo dela é fazer com que Jean se sinta amada e, dessa forma, decida fincar raízes na cidade “bola-da-vez”, Nova Iorque. Entretanto, Holly não contava com o surgimento do padeiro Lenny (Mike O’Malley), um sujeito desengonçado e muito distante do que poderia se chamar the perfect man. A partir daí, Holly se divide entre dar continuidade à figura do admirador secreto e tentar convencer a mãe que Lenny não é a pessoa ideal para ela.

Hilary Duff bem que se esforça, mas quem se destaca é Heather Locklear. Sua personagem luta para ser uma boa mãe e deseja conquistar um marido com quem possa dividir as responsabilidades e seus sonhos. Mais do que assistir ao início do romance entre Holly e seu colega de turma, Adam Forrest (Ben Feldman), ou às armações da garota para manter firme a fantasia do perfect man (encarnado pelo personagem de Chris Noth), é interessante perceber o quanto mãe e filha não se conhecem e presenciar a aproximação entre elas.

Entrar em outros detalhes seria entregar o filme e dar uma de Mister M. Paixão de Aluguel pode não ter uma história inovadora ou interpretações marcantes, mas garante diversão e uma boa dose de surpresas para quem esperava encontrar apenas mais uma comédia romântica.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

Compartilhe

Saiba mais sobre