Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 21 de novembro de 2005

Advogado Do Diabo, O

Intrigante! Denso, porém simples. É uma ótima escolha para se assistir, digamos que uma das melhores. Não só para se assistir, mas também para indicar, assim como estou fazendo para as pessoas que ainda não o assistiram.

O que você faria se tivesse a oportunidade de ter tudo em suas mãos o mais rápido possível? Tudo aquilo que você sempre sonhou ter: fama, sucesso e crescimento. Pense bem… Você negaria? Se negasse, será que não teria alguns pesadelos de cunho arrependidos? Vaidade, soberba… tentação. Tudo viria tão rápido quanto veio a glória. Seria fácil lidar com o arrependimento, se esse viesse mediante a aceitação de todas essas tentações? Encruzilhada em companheiro. Mas é isso que o filme nos passa.

Na vida, às vezes, temos oportunidades que surgem do nada. Aparecem e, mesmo sem pensar muito, aceitamos, pois essa pode vir a trazer bastante bem estar financeiro ou até mesmo pelo prazer do que se faz. Tudo acontecendo muito rápido, muito precoce, muito vitorioso – soando à perfeição. Quando, no meio disso tudo, vemos que estamos sendo enganados, usados, testados. Logicamente, causaria ódio, raiva ou, para alguns que não cultivam tais sentimentos, chateação. Nada fácil descobrir quando isso acontece e quando conseguimos, nos sentimos tão preso a ‘coisa’ que nos deixamos levar. Logicamente sem mais o ímpeto de vitória que estávamos tendo, mas não procuramos tentar sair daquilo e procurar fazer outra coisa que volte a nos trazer prazer.

Nesse filme, Keanu Reeves é o advogado Kevin, um talento brilhante da Flórida, que jamais perdeu um caso. Designado para um cargo de sonhos em uma poderosa firma de advocacia de Nova York, Kevin é completamente envolvido pela figura do chefão John Milton (Al Pacino). Kevin e a esposa Mary Ann (Charlize Theron) começam, então, a desfrutar as glórias de um apartamento espaçoso com vista para o Central Park e uma remuneração de U$ 400 a hora. A ambição excessiva não deixa Kevin encarnar o bom-mocismo. E não há como ter pena dele quando se vê enlaçado pelas garras insidiosas do próprio Lúcifer. A vida de luxo, volúpias e prazeres têm o preço conhecido em barganhas com Satã.

’Advogado do Diabo’ é um clássico do cinema – também pudera, Al Pacino é um atrativo para os clássicos. Mesmo lançado em 1997, não perde a graça quando assistido hoje em dia. Nem mesmo por ter sido passado e repassado na TV, pode ser considerado um filme velho. É um clássico, como disse agora a pouco e clássicos devem ser sempre relembrados. Há até alguns mais acintosos que não o consideram nesse gênero, mas, alguns dos mesmos, depois de ver o prodigioso Keanu Reeves um pouco depois nas telonas com o aclamado Matrix, mudaram de opinião – quanta voluptuosidade!

Quem diria: Keanu Reeves incorporou Neo como uma luva. Infelizmente, não foi o mesmo quanto a Kevin. Ele até que demonstra se sentir à vontade, mas são poucas as vezes. Quando contracena com Al Pacino, some. Covardia de minha parte criticá-lo comparando ao grande ator de ‘O Poderoso Chefão’, mas quando você escolhe fazer parte de um time onde se tem grandes lideres, terá de buscar ser tão bom quanto eles. Esse tal de Al Pacino é que esteve bem. Promissor o moço (não liguem para minhas brincadeiras). Ele encarnou muito bem um personagem, até certo ponto trivial, entretanto difícil de fazer. O que deixa isso bem claro é a cena clímax. Perfeição maior seria impossível quando ele anda com trejeitos desdenhosos e dubla uma canção – quanta magnitude! Bom, deixando de babá-lo, analisemos a personagem Mary Ann, esposa de Kevin. Essa esteve muito bem interpretada pela lindíssima Charlize Theron, que se demonstrou ainda mais linda nessa trama. É verdade que ali e acolá a atriz pipoca, mas quando se é exigido de sua parte, não decepciona. Ainda sobram alguns elogios para o resto do elenco, mas não muito. Felizmente, os erros de alguns foram superados por acertos dos outros.

O filme poderia ser melhor se o diretor Taylor Hackford não tivesse perdido um pouco a mão. Ele tropeça ao recorrer a alguns clichês. Alem disso há um exagero no discurso final do Diabo, que acaba virando uma lição de moral. Faltou tempero e agilidade, o que pode ser observado pelo fato do diretor filmar desde o princípio com cores sombrias, mas esquecer de recorrer a evolução das mesmas conforme corre o roteiro. Tudo bem que isso não deixa o brilho do filme diminuto, mas que poderia ser melhor… sim, poderia.

A trilha sonora está boa. Complacente com as cenas e bem colocada na hora correta. Ela, por se só, alavanca um suspense além do que a cena sozinha nos ofereceria. Analisando a fundo, como ela esta bem postada, passamos a percebe-la muito pouco e é isso o que busca uma boa trilha sonora: ser notada pelos ouvidos de forma suave, mas ser completamente envolvida com a cena, formando um conjunto perfeito.

Mais algumas perguntas, tal como no início: será que a ética no ramo de Direito, após este filme, será mais bem analisada e questionada? Talvez não, afinal nem foi essa a intenção do filme, porém em um momento Al Pacino explica porque tem tanto advogado no mundo e cada vez surgindo mais. Confesso que ri quando escutei ele falar, haja vista não ser uma visão normal, mas faz até sentido. A procura por sempre mais, por muitas vitórias causa coisas que as pessoas nem chegam a perceber. E você, como se importaria se estivesse na pele de Kevin Lomax?

Finalmente, é um ótimo filme e bastante interessante. Critica os valores da sociedade atual e pode levar espectadores mais críticos a refletir – com essa afirmação explico meus questionamentos, tanto do parágrafo anterior, quanto no inicial, só quero é causar reflexões. Se bem assistido e analisado consegue atingir o público, se não soará muito bom, porém normal, como algumas línguas costumam dizer.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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