Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 27 de março de 2005

Agente da Estação, O

Diferentemente do novo cinema estadunidense, o diretor Tom McCarthy, em sua estréia, consegue fazer um bonito filme, jamais apelando ao dramalhão. E o Cinema de Arte trouxe esse ótimo filme para nós!

Fin vive e trabalha em uma cidade grande dos Estados Unidos. Lá, ele sofre preconceito de pessoas de todos os tipos, por sofrer de nanismo. Quando o seu grande amigo, dono da loja em que trabalha, morre, Fin recebe de herança um pequeno depósito localizado em uma estação de trem. Cansado de tanta indiferença (o que é bastante distinto de ‘diferença’), Fin resolve mudar-se para a pequena cidade na qual fica o depósito. Pretendendo fugir da discriminação e começar uma vida nova, ele tenta, ao máximo, isolar-se das pessoas que demonstram ser com ele, bastante amistosas. Dentre estas pessoas, está Olívia, uma artista que, como Fin, saiu da cidade em que vivia, pois era tratada pelas pessoas de forma apática, por ter perdido o filho, há dois anos. Há Joe, o seu vizinho da frente, que alterna um ‘trailer’ entre moradia e local de trabalho, vendendo ‘Café con Leche’. Joe é um cubano de comportamento bastante inconseqüente, que faz de tudo para estabelecer uma relação de companheirismo com Fin. Ele é o latino, o representante de uma minoria, do estrangeiro que quer se entrosar. A bibliotecária da cidade, uma adolescente bonita, busca nele, consolo, pois está grávida, sendo expulsa de casa. Completando o time dos excluídos socialmente, temos uma personagem bastante cativante. Ela é Cleo, uma menina negra, que também logo busca manter um contato com Fin.

O filme, bastante simples, gira em torno da vida e da adaptação de Fin na pequena e adorável cidade e, principalmente, em torno da importância de cada um desses personagens na vida uns dos outros. É na diferença que as pessoas se tornam iguais umas às outras. Independente de o seu problema ser físico, mental ou espiritual, somos todos iguais; seres humanos. O filme é repleto de momentos significativos, o que exige do telespectador, uma certa sensibilidade.

“O Agente da Estação” é a primeira experiência do diretor Tom McCarthy no cinema. Ele já havia trabalhado com diversos seriados nos Estados Unidos. Alguns deles, bastante populares, como “Boston Public”, “Ally McBeal” e “Law & Order”. A escolha dos atores não poderia ter sido melhor: Peter Dinklage, como Fin, está em uma ótima atuação. Foi, talvez, onde pôde mostrar o seu trabalho em um drama, pois costumávamos vê-lo, geralmente, em comédias. Bobby Cannavale faz um papel muito sincero, parece ter dado tudo de si nele. Patricia Clarkson também merece reconhecimento. Por sinal, foi ganhadora do prêmio de Melhor Atriz no Festival de Sundance de 2004. Além desse prêmio, “O Agente da Estação” levou, em Sundance, os prêmios de Melhor Roteiro Original e de Melhor Filme. O longa também passou por outros importantes festivais mundiais, levando os prêmios mais importantes, sempre.

No debate, foram colocadas a sobriedade e elegância que o filme transparece, sendo simples e, jamais, clichê. Também foi frisada a importância do olhar nesta película. Podemos perceber como o olhar diz mais do que qualquer palavra, que o mirar de seus personagens, quando passados na pequena cidade, são sempre sinceros e afetivos. Flávio, que participou do debate, sofrera um acidente, tornando-se dependente da cadeira-de-roda. Ele nos contou que após o ocorrido, passou a ter uma perspectiva de visão da vida bastante diferenciada. Sobre o filme exibido, disse que trouxe para ele, a impressão de que ele aborda, principalmente, o respeito à diferença. Quanto à simbologia do trem, foi discutido que ele é o que quebra a monotonia, independente de quem o vê, ele sempre está lá para romper com a solidão. É o carro-chefe que liga todas essas pessoas e as tiram da extrema tristeza em que viviam.

No sábado (dia 28/01), o Cinema de Arte exibirá o aguardado “Os Sonhadores”, de Bernardo Bertolucci. A estória se passa em paris de 1968. Ela mostra três jovens no ápice de sua sexualidade, curiosidade e amor pela arte. Haverá um debate sobre o tema ‘O que estávamos fazendo em maio de 1968’, com Ruth Cavalcante, psicoterapeuta, Fausto Nilo, arquiteto e compositor, e René Barreira, sociólogo e reitor da UFC. A mediação será de Mário Albuquerque, presidente da Associação 64/68 – Anistia.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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