Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 04 de julho de 2005

Assim Caminha A Humanidade

Mais do que um “faroeste moderno”, [b]Assim caminha a humanidade[/b] é um grande épico de memoráveis interpretações. Com seus 24 anos, vemos dois jovens e promissores atores que, em completa harmonia com os mais antigos, justificam os louvores do filme: Elizabeth Taylor e James Dean.

Vejam só como são os clássicos! Já fazem 50 anos que Assim Caminha A Humanidade foi filmado e, ainda assim, permanece tão vivo na memória dos cinéfilos. Há exatamente 50 anos, Hollywood chegava a uma quase imperceptível cidade no oeste do Texas chamada. Marfa, local de nome esquisito que tinha sido escolhido para sediar as filmagens de mais um grande sucesso da Warner. A primeira vista, há de se pensar em um faroeste. Mas sem tiroteios entre caubóis, diga-se de passagem. Que filme então seria esse, que, desde o primeiro momento, se propunha em homenagear o Estado do Texas e os texanos? Um filme de importância tão gigante, que desembocaria mais tarde um enorme orgulho para Texas, tal como “E o Vento Levou” representaria para a Geórgia.

Inspirado no best-seller de Edna Ferber, Giant também enfrentou a mesma onda de indignação pelo qual a escritora sofreu. Quando Ferber se propôs a escrever um romance que tratasse da nova classe de texanos que, de uma hora pra outra, se tornava milionária graças aos poços de petróleo descobertos em suas fazendas (e aqui abro um parêntese para situá-los na história de Glenn McCarthy, um fazendeiro de Houston que virou um grande magnata da sociedade americana, graças ao dinheiro do petróleo), os texanos ficaram extremamente aborrecidos. Se só no filme já podemos perceber os estereotipo do homem mexicano (sim, porque todos nós sabemos que Texas faz divisa com o país renegado), imaginem então como deve ser no livro. De fato, houve muitas críticas a Edna Ferber, e isso se estendeu a pré-produção do próprio filme. Os texanos receavam que suas piores manias fossem rechaçadas na película, já que, no decorrer da História, o Estado do Texas sempre foi motivo de piadinha para os estadunidenses. O certo é que Texas tinha (e ainda tem) o seu diferencial. O que, claro, acaba sempre chamando a atenção de quem quer que seja.

Mais do que um “faroeste moderno”, Assim caminha a humanidade é um grande épico de memoráveis interpretações. Com seus 24 anos, vemos dois jovens e promissores atores que, em completa harmonia com os mais antigos, justificam os louvores do filme: Elizabeth Taylor e James Dean. Em se tratando de Liz, essa bela atriz de olhos azuis e sobrancelhas grossas que causam frisson só com o pronunciamento de seu nome, encara o papel da doce e vigorosa Leslie, que sai das terras férteis e verdejantes de seus pais para se casar com um rico fazendeiro do Texas, dono de mais de 800 mil hectares de terra… e poeira. Muito interessante o contraste feito no filme. Mas o que mais chama a atenção é que, antes de Assim Caminha a Humanidade, não havia sido filmado, na história do Cinema Americano, nenhuma personagem feminina, texana, de tão forte personalidade. Uma personagem capaz de se impor diante ao preconceito perpetuado ao longo das gerações de que as mulheres não são capazes de participar de conversas de mais “conteúdo”, como assuntos políticos, por exemplo. Impedida de participar de uma dessas conversas, Leslie explode: “Arrumem o tear, meninas. Logo me juntarei ao harém”. E assim o filme todo vai cativando o público, com sutis, mas antológicas passagem que continuam no imaginário daqueles que contemplaram o filme.

Também com 24 anos de idade, vemos o belo James Dean a atuar em seu terceiro (e último filme). Impedido por George Stevens de participar de corrida de carro durante as filmagens, James Dean acaba encerrando sua carreira exatamente 3 dias depois da conclusão de Giant. No Oscar de 1956, ele chegou a concorrer postumamente como melhor ator. Perde, mas vira um mito mundial, conhecido até hoje como o grande símbolo de rebeldia e juventude. De certa forma, isto contribui para transformar o filme em um clássico. Mas pensar o filme unicamente sob esse olhar seria uma covardia, até mesmo com o próprio Dean. Afinal de contas, é ele que interpreta o grande barão do petróleo, Jett Rink, que começou como um pobre funcionário que logo conquista o público enquanto sofre os abusos cometidos pelos ríspidos Benedict. A atuação de James Dean é espetacular, e não deixa nada a desejar. Se bem que é muito mais gostoso assisti-lo na primeira passagem do épico, quando ele ainda é empregado de Bennedict. Legal ver como ele supera toda a humilhação quando descobre que do poço de seu terreno jorra petróleo. E mais legal é assistir a seqüência em que ele, todo melado de óleo, vai até a Bennedict dizer uns desaforos. Fantástico!!!

Destaque também para o veterano ator Rock Hudson, que com apenas 28 anos na época interpreta um típico fazendeiro texano, dono de qualidades reprovatórias, mas capazes de serem melhoradas. No geral, o tradicional Bennedict, dono da fazenda Rialto, era uma figura querida, muito amado pela família. O retrato autêntico de um texano. Ainda em relação a atuação de Hudson, destaco a seqüência em que ele se envolve numa briga com o dono de uma lanchonete que impede a permanência de mexicanos em seu recinto. Com a música “Yellow Rose of Texas” tocando, vemos o velho Bennedict a brigar na frente de sua família por uma ideologia tardiamente percebida, no momento em que se torna avô. E ali mesmo, ferido e humilhado no chão da lanchonete, ele se torna um gigante no olhar da fiel esposa Leslie. Por mais paradoxal que seja, é na humilhação de um espancamento, por exemplo, que Bennedict se torna um gigante. Memorável.

O filme é um marco do passado. Um elo com o Texas de outrora, dona de uma terra invejável e de povo bravio. O único azar de Assim Caminha a Humanidade foi o de ter sido feito no mesmo ano de O Rei e Eu, A Volta ao Mundo em 80 Dias e Os Dez Mandamentos. Dos dez Oscar a que concorreu, só levou o de direção. Por outro lado, sua grande “sorte” foi ter sido envolvido pela mística do nome de James Dean. É um filme gigante em todos os aspectos, desde o tamanho das fazendas, do tom épico sentido na maneira de filmar do cineasta, as magníficas interpretações dos jovens astros… Enfim, é um grande clássico que sempre vai ganhar lugar de destaque no coração de muitos cinéfilos pelo mundo afora.

Sem mais comentários!

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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