Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 18 de fevereiro de 2006

Bambi 2 – O Grande Príncipe da Floresta

“Bambi 2” é um filme feito, sim, para crianças. Digo mais, para aquelas mais sensíveis ou menos exigentes, que se contentam com um roteiro simples, mas ainda assim carregado de boas lições, que dispensa o humor escrachado de hoje.

“Bambi 2 – O Grande Príncipe da Floresta” veio em um mau momento. Vivemos numa época em que os produtos destinados às crianças (filmes, programas de televisão, revistas em quadrinhos, e até brinquedos) têm sido cada vez mais “adultizados”. Não ouso classificá-los como “amadurecidos” porque não faria sentido; não o são.

Nos Estados Unidos, terra de onde vem Bambi, este fora lançado diretamente em DVD, praticamente passando em branco. O insucesso da continuação de “Bambi”, lançado pela primeira vez em 1942, não foi surpresa alguma. Apesar da magnificência da Disney, indústria que já alimentou tantos sonhos, suas seqüências têm feito cada vez menos sucesso entre o público infantil e até entre aqueles que cresceram assistindo às suas belas adaptações de contos de fadas.

Diferentemente do que as pessoas têm imaginado, “Bambi 2” não é uma seqüência do primeiro filme, e sim uma visão diferente da que temos na versão de 1942, quando a mãe do animalzinho protagonista é morta. Depois desse terrível incidente, Bambi terá de viver com o seu austero pai, que passa os seus dias em busca de uma corça com quem deverá formar uma nova família. Além disso, o pai de Bambi é o Grande Príncipe da Floresta, o que lhe obriga a estar atento para proteger os animais que lá vivem, principalmente os de sua raça. Diferentemente da figura paterna, o pequeno Bambi é brincalhão e desajeitado, o que só piora a relação entre os dois, tendo o pai sempre que salvar o filho de suas enrascadas.

A novidade em “Bambi 2” é que o veado está crescendo, mudando de pêlo e, como conseqüência, já está sentindo a presença do seu primeiro amor: Faline, uma linda corça, jovem como Bambi. O segundo filme traz os antigos amigos de Bambi: o coelho Tambor e a gambá Flor, além de contar, dessa vez, com as irmãs impertinentes do coelho, que dão graça aos poucos momentos realmente divertidos do filme. Repito: “Bambi 2” segue com o estilo de piadas do original, inocentes e sem malícia, ao contrário do que estamos habituados a ver em filmes como os recentes “Shrek”, “Madagascar” ou “Os Incríveis”. Sem falar também nos desenhos animados que nossas crianças estão habituadas a assistir nos últimos anos, sempre carregados de um humor cada vez mais ácido e inteligente. Os traços bastante próprios e as canções mostradas no filme, resultado de quatro anos de trabalho, são característicos do velho estilo da produtora, o que pode agradar a alguns que desejam matar a saudade.

Enfim, não adianta nutrir ilusões, “Bambi 2” é um filme feito, sim, para crianças. Digo mais, para aquelas mais sensíveis ou menos exigentes, que se contentam com um roteiro simples, mas ainda assim carregado de boas lições, que dispensa o humor escrachado de hoje. Para os adultos, exceto para alguns com interesses específicos, não passa de um desenho (des)animado. É interessante, também, para pensarmos no que temos feito com as nossas crianças; se não estamos exagerando nesse processo de “adultização” e acabando com a inocência de outrora.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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