Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 27 de março de 2005

Blade: Trinity

Você sabe o que é complicar? É, por exemplo, chamar a terceira edição de seqüência da seqüência. Foi o que fizeram com "Blade: Trinity". Não se mexe no que está ganhando! Depois de duas ótimas versões, esta terceira fica bem aquém das anteriores, infelizmente. É um pipocão, somente!

"Blade – O Caçador de Vampiros" de 1998 foi um sucesso enorme (faturou US$ 70 milhões só nos EUA em bilheterias). Melhor dizendo, foi o primeiro sucesso da Marvel (top em histórias em quadrinhos, ao lado da DC Comics – Batman e Superman). Não é pra menos, com um estilo bem audacioso, misturando ação e suspense, o filme é dirigido por Stephen Norrington ("A Liga Extraordinária") e conseguiu agradar demais a todos os fãs do herói. Blade é um personagem de quadrinhos criado por Marv Wolfman e Gene Colan, de propriedade da Marvel, que transformou-se num guerreiro imortal, metade-homem, metade-vampiro, após ser contaminado pelo sangue de uma criatura das trevas. A seqüência, "Blade 2" (2002), agora dirigido pelo excelente Guillermo del Toro ("Hellboy"), conseguiu superar a primeira e ótima edição, e fez uma enorme sucesso, faturando somente nos EUA, US$ 80 milhões nas bilheterias. É mole?

A franquia já havia faturado US$ 150 milhões somente nos EUA. "Blade 2", sozinho, conseguiu faturar no mundo todo US$ 155 milhões de dólares. Lógico que uma terceira versão teria que vir. Afinal, o que não é dinheiro? Num ano em que tivemos muitos fracassos, nada mais normal do que acreditar numa franquia rentável. A escolha do roteirista David S. Goyer para dirigir o filme não é tão espantosa, pois ele foi o roteirista das duas primeiras versões. E já que Guillermo Del Toro desistiu para poder dirigir "Hellboy", nada mais normal do que a escolha de Goyer para, além de roteirizar o filme, dirigir. Infelizmente essa seria apenas sua segunda direção (a primeira foi em "Conduta Ilegal"). Isso explica a falta de ritmo do qual falarei mais abaixo.

Em uma base localizada no deserto os vampiros dão a cartada decisiva em seus planos para conquistar o mundo: ressuscitam Drácula (Dominic Purcell), que deu origem à raça e possui poderes que lhe permitem sobreviver à luz do dia. Em paralelo, os vampiros iniciam uma campanha difamatória contra Blade (Wesley Snipes), colocando o FBI em seu encalço. Após alguns confrontos com agentes, Blade e Whistler (Kris Kristofferson) percebem que precisam de ajuda. Após ser atacado e capturado, Blade é salvo pelos Nightstalkers, um grupo de humanos que se dedica a caçar vampiros e que é liderado por Abigail (Jessica Biel), que é também a filha de Whistler. Juntamente com Hannibal King (Ryan Reynolds) e a cientista Sommerfield (Natasha Lyonne), que possui uma deficiência visual, Blade e os Notívagos iniciam uma série de batalhas contra Dranica Talos (Parker Posey), a atual líder dos vampiros, sem saber que terão que enfrentar o próprio Drácula.

Os dois principais membros dos Nightstalkers são Hannibal King (Ryan Reynolds) e Abigail Whistler (Jessica Biel). A dupla tem um bom entrosamento no filme e não chega a prejudicar. Aliás, como a linda Jessica Biel poderia prejudicar em algo? Ela só engrandece a produção. E como engrandece! Hannibal, personagem de Ryan Reynolds, é mais precisamente aquela criatura clichê de todo filme de ação / aventura / suspense: o engraçadinho. Ele solta até umas piadas em momentos certos, e não atrapalha em nada. Wesley Snipes faz seu papel como das vezes passadas. Mas quem esperava que o personagem fosse mais abordado, vai ficar chupando dedo. A missão dele é lutar, somente. Tem também Kris Kristofferson, como Whistler, o mentor de Blade. Ele não participa muito do filme, só serve mesmo de introdução para a entrada de Abigail.

Bem, já comentamos boa parte do elenco “do bem”. Agora a galerinha “do mal". Parker Posey, conhecida por filmes como "Pânico 3" e "Tudo para ficar com ele", faz o papel de Dranica Talos, a atual líder dos vampiros. Infelizmente a escolha de Dominic Purcell para o papel do Drácula foi infeliz. O cara não tem carisma algum! Além do mais, a idéia de fazer uma Drácula com esse estilo de super-poderoso, com armadura e tudo, não funciona. É bizarro, é chato e de grande mal gosto. É um saco até de ver. Tem também aqueles coadjuvantes da gangue dos vampiros malignos (sempre tem um fortão meio burro).

Um contra é que o filme é longo demais. São 106 minutos de muito lenga-lenga, quando poderia ter sido feito em 90 minutos, sem nenhum prejuízo. Além de Blade não ser aprofundado e ter um Drácula fuleragem, vale mesmo pelas cenas de ação. As lutas são ótimas! Bem produzidas e coreografadas com a mais alta qualidade. O modelo dos créditos iniciais e finais são uma beleza à parte. A trilha sonora também é ótima! Há algumas músicas Hip Hop, muito Rock e Heavy Metal. E quem tem problema de surdês não vai sentir problema algum, porque as músicas são sempre no volume máximo (incomoda um pouco, às vezes).

A trilogia poderia ter sido encerrada com chave de ouro! A guerra entre humanos e vampiros finalmente chega ao seu fim, mas deu uma forma muito ruim. Eu fico com um pouco de receio em saber que Goyer é um dos responsáveis pelo roteiro de "Batman Begins", pois costumamos sempre dar votos de confiança pelos últimos trabalhos (quem vive de passado é museu e conservadores, você tem que ser agraciado pelo o que você é, e não pelo o que você foi). Dessa vez ele ficou bem aquém do que ele pode ser. Estou torcendo para que ele não faça besteira com o homem-morcego, que essa versão do Blade ficou "marromêno péba".

Jurandir Filho
@jurandirfilho

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