Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 24 de janeiro de 2006

Bonequinha de Luxo

Por trás de uma canção maravilhosa, um figurino requintado, uma fotografia cheia de glamour, Bonequinha de Luxo não é apenas um filme que fala de amor entre um homem e uma mulher. É, em muitos momentos, uma inovação do pensamento feminino que nesse período (1961) mostra outro lado das concepções entre o “ser mulher”.

A personagem Holly Golightly, que inicialmente seria interpretada por Marilyn Monroe, foi magnificamente incorporada pela atriz Audrey Hepburn. A atriz explora toda a feminilidade, doçura e ao mesmo tempo o ar de selvagem da personagem, sem torná-la vulgar, explodindo em carisma e refinamento.

Bonequinha de luxo conta a historia de uma garota de programa que mora e ama Nova York e que está decidida a casar-se com um milionário. Holly é uma garota que toma seu café da manhã em frente à joalheria Tiffany’s sonhando com os diamantes que poderia ter quando fosse rica, o que torna mais evidente em seu título original Breakfast at Tiffany’s. Holly é uma jovem que fugiu do interior, de sua vida limitada e aprisionada num casamento sem amor, num mundo pequeno demais para suas ambições. Mora em um apartamento pequeno até que num determinado dia conhece um escritor que passa a ser seu vizinho. O belo rapaz é um jovem sustentado por uma mulher mais velha e casada. A vida dos dois se mistura e se completam, pois se perdem numa mesma ilusão, em seus sonhos.

Holly não é uma jovem prendada como seria o costume da maioria das mulheres de sua época, seu apartamento é bagunçado o que revela que a vida de dona de casa não faz parte de seus dons especiais. Possui um gatinho que demonstra um grande amor e ao mesmo tempo não quer se apegar, pois para ela o amor põe amarras e a impede de conquistar seus objetivos. Foi capaz de deixar o que mais amava em busca de seus desejos. A personagem é encantadora, realmente é uma bonequinha que ambiciona o melhor diamante. É elegante, selvagem, divertida, carismática. Apesar de sua postura libertária, conserva a inocência no meio de tanta futilidade. Na época Holly se fez parte do cotidiano das mulheres, elas queriam ser como ela, queriam suas roupas, suas jóias. Não só o guarda roupa das mulheres foi invadido por essa personagem que exibiu estilo e bom gosto, mas o “ar” de Holly, sua jovialidade, sua alegria, sua feminilidade, sua magreza (note que aqui o padrão da mulher mais magra começa a obter lugar no mundo feminino) e sua liberdade foram espelhos para esse novo papel assumido pela mulher real em sua rotina neste inicio da década de 60.

O mocinho Fred Varjak é um escritor que sonha em ser muito famoso um dia. George Peppard é bruscamente ofuscado por Audrey, sua interpretação foi tímida e o que poderia ser mais abrilhantado foi perdido em meio ao significativo brilho de Audrey. No entanto, conseguiu formar um belo casal com a atriz o que resulta numa ótima química visual e contribui para o sucesso desse belo filme.

A história de amor não é tão incomum. Entretanto, os elementos que compõe esse roteiro são em alguns momentos vanguardistas, exibe uma mulher que quer casar por dinheiro, que não busca somente o lar por pura conveniência, que não se importa com o pensamento alheio, que possui outras aspirações além da simplificada vida de dona de casa e um homem sustentado por sua amante, isso em pleno ano de 1961. O gênero é drama, contudo, há cenas cômicas como a inesquecível festa no apartamento de Holly, onde coisas interessantes e engraçadas acontecem. A cena em que Holly e Fred vão a Tiffany’s e se perdem em encantamento e sonhos diante de tanta riqueza é requinte é esplendorosa. O ar nova-iorquino é romântico, sonhador e deixa escapar “uma certa” e tímida comparação com Paris, a terra dos amores.

O que mais poderia ser comparado a um “raro diamante” se concretizou na cena em que Holly canta a incomparável música Moon River, sentada na janela de seu apartamento e tocando seu violão. É de uma singeleza inexplicável. Nessa cena, o mais intimo desejo de Holly é exposto para o publico e é incrível como algo tão simples se torna alvo de nossa atenção. A canção foi escrita especialmente para Audrey, sem muitos alcances vocais, pois a atriz não possuía treinamento de canto adequado na época em que fez o filme. O que poderia ser um enquadramento para a adaptação da atriz tornou-se clássico e lindo, rendendo um Oscar para Melhor Trilha Sonora e Canção Original, que em minha opinião é uma das mais bonitas do cinema, tanto em versão orquestrada, como cantada. Além desses dois prêmios, o filme foi indicado nas categorias de Melhor Atriz para Audrey Hepburn, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Direção de Arte – Colorido e ganhou o Grammy de Melhor Trilha Sonora – Cinema/TV.

Bonequinha de Luxo, apesar de inovador não se sobressai ao um final esperado pelo publico. A típica cena de quem briga e depois sai correndo para os braços do seu verdadeiro amor não foi diferente nesse filme, apenas com uma dose de sentimentalismo exagerado o que foi suprimido durante o filme por Holly ela põe tudo para fora ao deixar seu gatinho na chuva e sozinho, pois acha que sua ambição está acima de qualquer sentimento, reflete em poucos minutos depois da conversa com Fred que ao deixar seu gatinho, também deixou a oportunidade de ser realmente feliz com sua paixão e que não suportaria deixar novamente quem ama para trás como fez em seu passado. Não tão diferente, mas não tão comum para sua época, o que para mim é um clássico, que imortalizou idéias, comportamentos, estilos, canções e amores. Apesar de tudo vão minhas dez merecidas estrelinhas.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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