Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 09 de abril de 2005

Clã das Adagas Voadoras, O

“Um espetáculo para os olhos, ouvidos e sentimentos”, este foi o meu pensamento acerca de “O Clã das Adagas Voadoras”, o novo filme de Zhang Yimou, o mesmo diretor do superestimado “Herói”.

Contando uma história bem simplória, sem uma dessas montagens moderninhas como o bom "Herói" e o ótimo "21 Gramas", mas com um visual impactante e, acima de tudo, belíssimo, “O Clã das Adagas Voadoras” consegue se sobressair (e muito!) dos seus precursores (“O Tigre e o Dragão” e “Herói”) tanto no quesito roteiro como na fotografia e atuação.

A história é ambientada na China Antiga, onde a dinastia Tang que, outrora regia com bom-senso e habilidade política, está cada vez mais corrupta e intolerante. Com esse comportamento, o imperador chinês acaba fazendo com que a população se organize e crie movimentos opositores à sua regência. O principal grupo é chamado de O Clã das Adagas Voadoras e reúne a maioria dos principais guerreiros da região. Jin (Takeshi Kaneshiro), um policial do governo, recebe a tarefa de investigar uma ‘casa dos prazeres’ com o intuito de se infiltrar e descobrir se a suspeita de que há um membro do “Clã” procede ou não. Essa suspeita é Mei (Zhang Zivi), uma dançarina cega e que, de fato, é um membro do “Clã’. Após uma” luta “com Jin, Mei é capturada e presa.

Julgo que seja melhor parar por aqui a descrição da história, pois posso contar, involuntariamente, algo que venha a estragar as surpresas que ela tem para nos oferecer. Apenas limito-me em avisar que o filme é um romance com um ar de ação e drama. Mas, acima de tudo, um romance, na melhor concepção da palavra.

Os atores estão incríveis em seus papéis, com um destaque para a sempre competente Zhang Zivi, a guerreira cega que acaba tornando-se o estopim para a sucessão de fatos, lutas e surpresas ao longo do filme. É de deixar boquiaberto qualquer um que veja a moça lutando, atuando, e, por que não, dançando: ela simplesmente não deixa, em momento algum, transparecer que ela é, acima de tudo, uma atriz; entregando-se totalmente aos “olhares” de sua personagem e, assim, dando vida à mesma.

Já a parte técnica é um show à parte. Yimou optou ir de encontro ao elevadíssimo patamar que ele impôs em “Herói” e criou uma obra completamente diferente quanto a ambientação e cenários. Em “Herói” somos impactados pela grandiloqüência dos cenários e pela excelente utilização dos signos (cores, paisagens e afins). Já em “O Clã das Adagas Voadoras”, ele não dirigiu um filme, mas regeu um verdadeiro balé de pulos (humanamente possíveis, vale a pena ressaltar), gestos e por que não dizer, emoções. É lógico que, com um filme que se propõe a ser um espetáculo visual e emocionante, sempre existe uma cena que marca e que traduz, em parte, o espírito do filme. Assim como em “O Tigre e o Dragão”, a deste filme se passa num bambuzal e conta com a participação de flechas, adagas, lanças, cavalos e todo o aparato de coisas que se utiliza para compor um espetáculo desses.

No mais, faltam adjetivos para tentar, pifiamente, expressar todas as emoções e sentimentos proporcionados por essa obra. Lírico, poético, onírico, belo, verossímil, pungente, contundente e apaixonante. Enfim, um filme que todos nós devemos assistir no cinema (no cinema mesmo, viu!) e que devemos estar totalmente dispostos a viajar para a China antiga e testemunhar um mundo habitado por guerreiros que mantêm o amor e a honra acima de qualquer outra coisa. Vá por mim, entregue-se ao clima e constate um dos filmes mais belos já produzidos. Garanto que você não irá se arrepender.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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